O silêncio não pode ser a resposta diante do genocídio em Gaza

por Arnaldo Cardoso

Os brados de milhares de pessoas que ontem lotaram a emblemática Praça da República em Paris exigindo a libertação dos ativistas ocupantes da flotilha da Liberdade, Madleen, apreendida ilegalmente em águas internacionais por forças militares de Israel foram saudados por todos aqueles que não aguentam mais o silêncio covarde e as declarações hipócritas e inócuas de autoridades de governo e de organizações internacionais diante da escalada do genocídio em Gaza comandado pelo governo de Benjamin Netanyahu.

Durante todo o fim de semana a convocação para mobilizações em toda a França ocorreu através das redes sociais, organizada principalmente por forças de esquerda como a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon e outros grupos.

O discurso inflamado de Mélenchon na Praça da República não hesitou em chamar pelo nome o genocídio dos palestinos, que a cada semana soma milhares de novas vítimas, sobretudo mulheres, crianças e idosos, assassinados por bombardeios ou pela fome endêmica, provocada deliberadamente pelo governo de Israel ao proibir a chegada de ajuda humanitária à população confinada, numa deplorável estratégia que remete à lógica da “solução final”.

Na França, além da manifestação na capital, atos similares ocorreram em Lille, Lyon, Marselha, Bordéus, Nice e outras.

A historiadora e escritora brasileira Marcia Camargos, que vive em Paris e esteve na manifestação de ontem na Praça da República, destacou em artigo para o Ópera Mundi a importância da expressiva participação nessa manifestação tendo em perspectiva a menor adesão dos franceses em recentes manifestações pró-Palestina, em comparação com o que se tem visto em Londres e Nova Iorque.

Na Suíça, atos em apoio aos palestinos ocorreram em Genebra e Lausanne, com manifestantes ocupando estações ferroviárias e interrompendo a circulação dos trens da CFF.

A ativista brasileira Angela Wiebusch que vive em Genebra apoiou as manifestações por compreender que o silêncio diante do massacre em Gaza é inadmissível.

Em Nova Iorque, passeatas ocorreram exigindo liberdade para a Palestina, ao mesmo tempo em que crescem os protestos, reprimidos com violência, contra medidas impetradas pelo governo Trump – aliado de Netanyahu – de perseguição aos imigrantes.

Na Itália, em meio aos crescentes protestos nas redes sociais em apoio aos palestinos, um vídeo feito pelo presidente da região da Campania, Vicenzo De Luca, que já havia se manifestado na Feira do Livro de Turim, viralizou pela força de suas palavras, condenando a violência sistêmica impetrada contra os palestinos pelo governo Netanyahu. O vídeo foi elogiado por diferentes personalidades da vida política e cultural do país.

De Luca invocou dois símbolos em seu vídeo: o de crianças massacradas e o de Yitzhak Rabin, ex-Primeiro Ministro de Israel, propositor de um acordo de paz com os palestinos, assassinado por um extremista israelense em 1995. Chamando Netanyahu de criminoso de guerra, classificou-o como o principal fomentador do antissemitismo no mundo. Argumentou ser impossível não manifestar sua indignação moral contra o massacre de crianças e mulheres em Gaza e defendeu enfaticamente a necessidade de reconhecimento do Estado Palestino e que o que está ocorrendo na Palestino deve repugnar a consciência de todo cidadão, em qualquer parte do mundo.

Nesta terça-feira (10) foram divulgadas notícias de que os ativistas da flotilha da Liberdade foram levados para o aeroporto de Tel Aviv e estão sendo repatriados, dentre os quais a ativista Greta Thumberg, a eurodeputada palestino-francesa Rima Hassan e o ativista brasileiro Thiago Ávila.

O silêncio diante do absurdo, do genocídio que ocorre em Gaza, deve ser quebrado. O silêncio como resposta soará como um retumbante fracasso da humanidade.

Como em outros momentos críticos da história, o presente demanda que as ruas e as praças sejam ocupadas em repúdio ao genocídio em Gaza, e que o som das ruas force os parlamentos e seus governos à ação.

Arnaldo Francisco Cardoso, cientista político e professor universitário.

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Last Update: 10/06/2025