
Instalado no antigo hospital de infectologia Couto Maia, o Hospital Estadual Mont Serrat – Cuidados Paliativos estreou como a principal unidade do SUS dedicada exclusivamente ao acolhimento humanizado de pacientes com doenças graves, sem expectativa de cura.
O hospital funciona num belo casarão do século XIX, situado na Ponta de Humaitá, que preserva a arquitetura original e oferece vista privilegiada para o mar. O espaço dispõe de 64 leitos (em quatro pavilhões), uma “Sala da Saudade” para despedidas familiares, e não possui UTI ou sala de reanimação, reforçando a proposta de conforto, dignidade e foco no cuidado até os últimos dias.
A médica Karoline Apolônia, coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos da Secretaria da Saúde da Bahia, reforça: “o foco aqui não é a morte. Aqui, o foco da gente é cuidado enquanto vida tiver”.
O hospital foi idealizado em 2019, a partir da criação do núcleo estadual, e ganhou urgência em 2024 com a implementação da Política Nacional de Cuidados Paliativos pelo Ministério da Saúde. Com cerca de 430 profissionais em atividade e atendimento mensal a mais de 2 000 pacientes, a unidade também integra ambulatórios de especialidades e oferece suporte a familiares.

Historicamente, foi nesse local que o ex-corredor e guia turístico Ayrton dos Santos Pinheiro, de 90 anos, reencontrou memórias afetivas ao contemplar o mar da região onde iniciou corridas até os três faróis, Humaitá, Barra e Itapuã.
“Quando cheguei aqui, minhas forças se renovaram”, emocionou-se. A abordagem humanizada estimula a permanência mínima (em média, oito dias) e permite alta quando possível, para que o paciente continue o cuidado em casa, cercado por seus familiares.
O surgimento do Mont Serrat representa um avanço significativo na estrutura do SUS, especialmente considerando o envelhecimento populacional. Segundo o IBGE, o percentual de idosos dobrou entre 2000 e 2023, passando de 8,7% para 15,6%, com previsão de alcançar 40% em 2070.