O secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou nesta terça-feira no Egito, onde prosseguirá os esforços para promover uma trégua entre Israel e o Hamas em Gaza, no mesmo dia em que o Exército israelense anunciou que recuperou os corpos de seis reféns.

Após mais de 10 meses de guerra na Faixa de Gaza, desencadeada após um ataque letal do Hamas em território israelense em 7 de outubro, Israel e Hamas trocaram acusações sobre a responsabilidade pelo fracasso na última rodada de negociações indiretas para um cessar-fogo organizadas na semana passada em Doha.

A Defesa Civil de Gaza anunciou nesta terça-feira a morte de pelo menos sete palestinos em um bombardeio israelense contra uma escola que abriga deslocados na Cidade de Gaza, no norte do território. O Exército de Israel afirmou que efetuou um bombardeio “contra terroristas escondidos na escola”.

Blinken, que está em sua nona viagem à região desde 7 de outubro, chegou nesta terça-feira à cidade egípcia de El Alamein, onde se reuniu com o presidente Abdel Fatah al Sisi, antes de viajar ao Catar.

Al Sisi pediu um “cessar-fogo em Gaza” e fez um alerta contra uma “expansão regional do conflito com consequências difíceis de imaginar”, informou a presidência egípcia.

“Chegou o momento de acabar com a guerra, recorrer à sabedoria e defender a linguagem da paz e da diplomacia”, afirmou Sisi em um comunicado divulgado após a reunião com Blinken. Todas as partes devem ter cuidado diante do “perigo de uma expansão regional”, acrescentou.

Depois de várias reuniões na segunda-feira em Israel, o secretário de Estado afirmou que esta é “talvez a última oportunidade de levar para casa os reféns” sequestrados no ataque de 7 de outubro e “de obter um cessar-fogo”.

Blinken disse que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, confirmou que Israel aceita o plano do acordo para uma trégua apresentado por Washington e pediu ao Hamas que faça o mesmo.

O presidente americano, Joe Biden, acusou o movimento palestino de “distanciar-se” das negociações, mas insistiu que um entendimento “ainda é possível”.

O Hamas rebateu a acusação de Biden nesta terça-feira. “As declarações enganosas […] não refletem a posição real do movimento, que deseja alcançar um acordo de cessar-fogo”, afirma um comunicado.

A nota chama as palavras de Biden de “luz verde americana para que o governo extremista sionista cometa mais crimes contra civis indefesos”.

Na sexta-feira, após dois dias de conversações indiretas em Doha entre os negociadores israelenses e os países mediadores – Estados Unidos, Catar e Egito -, Washington anunciou uma nova proposta de acordo, que foi rejeitada pelo Hamas.

O grupo palestino, que não participa nas negociações, acusou o governo dos Estados Unidos de incluir “novas condições” de Israel, principalmente a manutenção de suas tropas na fronteira de Gaza com o Egito e “um direito de veto” sobre os presos palestinos detidos em Israel que poderiam ser trocados pelos reféns.

Sequestrados em túnel

O Hamas se recusa a seguir negociando e exige a aplicação do plano anunciado pelo presidente americano em 31 de maio, que o grupo aceitou no início de julho.

O plano prevê uma primeira fase de seis semanas de trégua, com a retirada israelense das áreas densamente habitadas de Gaza e a libertação dos reféns sequestrados em 7 de outubro.

Em uma segunda fase, a proposta inclui a retirada total das tropas israelenses de Gaza.

Netanyahu insistiu em várias ocasiões que pretende continuar com a guerra até a destruição do Hamas, que governa Gaza desde 2007 e é considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, Israel e União Europeia.

O Exército de Israel anunciou nesta terça-feira que recuperou os cadáveres de seis reféns na Faixa de Gaza em uma operação conjunta com os serviços de inteligência.

Os corpos recuperados são de Alex Dancyg, Chaim Peri, Yagev Buchshtab, Yoram Metzger e Nadav Popplewell, que já haviam sido declarados mortos nos últimos meses, e de Avraham Munder, que teve o óbito anunciado nesta terça-feira pelo kibutz Nir Oz, onde ele morava.

Os seis homens foram mantidos juntos em um túnel em Gaza, disse um ex-refém à AFP.

No ataque de 7 de outubro, militantes islamistas do Hamas mataram 1.199 pessoas, em sua maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Do total de sequestrados, 105 ainda estão em Gaza, embora 34 tenham sido declarados mortos pelo Exército israelense.

A ofensiva israelense em Gaza deixou pelo menos 40.173 mortos, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, governado desde 2007 pelo Hamas.

“Senso de urgência”

Na Faixa de Gaza, onde quase todos os 2,4 milhões de habitantes foram deslocados, os bombardeios israelenses prosseguem sem trégua.

Além do bombardeio israelense contra a escola da Cidade de Gaza, seis pessoas morreram em um ataque do Exército israelense em Rafah, no sul do território, segundo fontes médicas.

No norte de Israel, o Exército israelense identificou 10 foguetes lançados pelo Hezbollah, que não deixaram vítimas. O movimento libanês pró-Irã abriu uma frente contra Israel na região em apoio ao Hamas em 8 de outubro.

Para Washington, uma trégua em Gaza ajudaria a evitar um possível ataque do Irã e seus aliados – Hezbollah, Hamas e os rebeldes houthis – contra Israel.

A República Islâmica ameaçou Israel depois de atribuir ao país o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em 31 de julho em Teerã, e após a morte, um dia antes, do comandante militar do movimento libanês Hezbollah em um bombardeio – este sim reivindicado pelo Estado hebreu – perto de Beirute.

Durante os encontros em Tel Aviv, Blinken expressou que “há um verdadeiro senso de urgência na região”, diante da ameaça de um conflito ainda maior.

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Last Update: 20/08/2024