Da esquerda para a direita: Mark Zuckerberg (Meta), Lauren Sánchez (jornalista e noiva de Jeff Bezos), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google/Alphabet) e Elon Musk (Tesla, SpaceX, X/Twitter), durante evento após a posse de Donald Trump – Foto: Reprodução

Por Reynaldo Aragon, jornalista e diretor executivo da Rede Conecta de Inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática (UFF/CNPq)

As grandes plataformas digitais, conhecidas como big techs, têm demonstrado resistência a regulamentações locais, representando um desafio crescente à soberania informacional e democrática do Brasil. Sob a influência do governo Trump, essas empresas adotaram posturas mais agressivas contra legislações nacionais, consolidando-se como agentes políticos globais. Esse cenário se agravou com ações recentes, como o fim do programa de checagem de fatos da Meta e a ausência de representantes em reuniões convocadas pela Advocacia-Geral da União (AGU), reforçando a percepção de que não pretendem se submeter ao controle estatal.

A posse de Donald Trump marca uma nova fase de alinhamento entre as big techs e a agenda da extrema-direita. Essas empresas, incluindo Meta, Alphabet e X, passam a utilizar sua infraestrutura tecnológica para ampliar desinformação e promover narrativas políticas que enfraquecem governos progressistas. No Brasil, a tensão cresce à medida que o governo Lula tenta implementar regulamentações para combater a desinformação e proteger a democracia. A resistência das big techs, entretanto, vai além da recusa em dialogar: trata-se de uma estratégia de fortalecimento de seu poder político e econômico.

O episódio do impulsionamento artificial de uma postagem de Nikolas Ferreira sobre a “taxação” do PIX é um exemplo emblemático desse conflito. A publicação, recheada de desinformação, viralizou em pouco tempo, revelando como as plataformas podem manipular o alcance de conteúdos para favorecer interesses políticos específicos. A Meta, responsável pela amplificação do caso, inicialmente negou que suas mudanças afetariam o Brasil, mas a realidade mostrou o contrário. Esse movimento não apenas compromete a transparência, mas também reforça a capacidade das big techs de desestabilizar instituições democráticas.

Essa relação conflituosa reflete um dilema maior: a dependência do Brasil dessas plataformas para comunicação e organização social. Embora o judiciário brasileiro tenha adotado medidas como multas e bloqueios, o poder econômico e político das big techs dificulta a criação de regulamentações efetivas. O caso brasileiro é emblemático de uma disputa global pelo controle da informação. Empresas como Meta e X têm utilizado sua influência para evitar regulamentações que limitem seu poder, enquanto promovem agendas que favorecem governos desregulamentadores, como o de Trump.

O conceito de “Califórnia Republic”, que une a inovação tecnológica do Vale do Silício a uma governança autoritária, ilustra a aproximação das big techs com a agenda da extrema-direita. Sob o tecnofeudalismo 4.0, essas empresas controlam dados, algoritmos e circulação de informações, consolidando-se como atores políticos globais. Para o Brasil, essa dinâmica representa um risco significativo, especialmente pela dificuldade de implementar regulação frente ao poderio econômico e à influência política dessas corporações.

Outro aspecto preocupante é o alinhamento das big techs com estratégias de guerra híbrida. Empresas como Meta e X têm se posicionado como instrumentos de influência política, promovendo desinformação e discursos que ampliam a polarização. No Brasil, essas práticas ameaçam não apenas a estabilidade democrática, mas também a confiança pública em instituições essenciais. A decisão da Meta de encerrar a checagem de fatos, por exemplo, reforça sua postura de priorizar agendas políticas alinhadas ao governo Trump.

A resistência das big techs não se limita ao Brasil. Essa postura é parte de uma estratégia global que desafia Estados nacionais, posicionando as plataformas como atores soberanos em um tabuleiro político e econômico. O lobby contra regulamentações, amplamente praticado em países do norte global, agora se intensifica no sul global, criando desafios para governos que buscam preservar suas democracias frente à crescente influência dessas empresas.

Para o Brasil, a ausência de alternativas tecnológicas nacionais robustas agrava o problema. Sem opções independentes, o país enfrenta o dilema de combater a desinformação enquanto mantém ferramentas essenciais para sua comunicação social. Além disso, há o risco de sanções econômicas e políticas por parte dos Estados Unidos, caso o governo brasileiro avance em regulamentações mais rígidas. Essa vulnerabilidade expõe o país às pressões do governo Trump e de um cenário internacional cada vez mais hostil.

Donald Trump assina decretos na Casa Branca – Foto: Jim Watson/AFP

A combinação de controle tecnológico, poder econômico e influência política transforma as big techs em protagonistas de uma nova forma de guerra híbrida. No Brasil, a propagação de desinformação, aliada à manipulação de narrativas políticas, compromete a soberania informacional e fortalece grupos antidemocráticos. A relação entre o governo brasileiro e as plataformas digitais precisa de respostas firmes e estratégicas para evitar que essas corporações continuem desestabilizando o cenário político e institucional.

Diante desse panorama, é urgente que o Brasil invista em alternativas tecnológicas nacionais, articule alianças internacionais e desenvolva mecanismos de proteção à democracia. A resistência das big techs às regulamentações não é apenas uma questão comercial, mas uma manifestação de poder político que exige uma resposta coordenada. O futuro da soberania informacional e da estabilidade democrática do Brasil depende de ações firmes para enfrentar os desafios impostos por essas corporações globais.

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Last Update: 23/01/2025