“Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária” – Karl Marx (O Capital, vol. III)
Fervorosos e testados defensores da democracia, não devemos nos iludir quanto aos limites do processo eleitoral, cuja observância é a conditio sine qua non do governo legítimo, independentemente do que seja ele, faça ou deixe de fazer. Ainda que promova a guerra, como os governos estadunidenses, todos originários de processos eleitorais, ainda que muitos eivados de fraude.
A contar do fim da Segunda Guerra Mundial, todos os presidentes dos EUA, com a possível exceção de Jimmy Carter, podem ser qualificados de genocidas, como hoje o governo sionista de Israel, sustentado política, financeira e militarmente pelo Grande Irmão, cujo governo, por seu turno, é condicionado pelo complexo industrial-militar.
O fundamental, até aqui, é que os príncipes tenham sido ungidos por eleições – como, convém lembrar, foram Benito Mussolini e Adolf Hitler, além de Ariel Sharon e Benjamin Netanyahu. E pode voltar a ser Donald Trump, um racista condenado por estupro.
Mas nenhuma regra é absoluta na política. A eleição pode ser legítima, mas será inaceitável na ocorrência de variadas hipóteses: quando ameaça ou possa ameaçar a ordem capitalista ou a hegemonia político-militar-ideológica norte-americana.
Assim são as eleições nos EUA, nas quais quase tudo pode acontecer, contanto que o presidente eleito seja oriundo de um dos dois partidos hegemônicos, destinados pelos pais da pátria a conduzir o país. Esses dois, e só eles, e entre eles nenhuma personalidade heterodoxa.
O essencial é que o presidente, lá, aqui e até onde chegue a sombra da Pax Americana, seja um quadro do sistema para que, havendo troca de bastão, não haja mudança de governo, e assim a classe dominante tenha assegurada sua hegemonia.
Embora a maior parte dos norte-americanos apoie a taxação dos bilionários, nenhum candidato democrata ou republicano à Casa Branca abraça a ideia, dependentes (e procuradores) que são dos grandes doadores.
É esta a democracia representativa que se espalha, cada vez mais independente da soberania popular. É esta a cartilha a que somos constrangidos a nos adaptar.
A simbologia do Estado pode ficar nas mãos de um presidente sem poder, como por exemplo o presidente da Alemanha, que ninguém sabe quem é, transferida seja a gestão do governo para autarquias poderosas desvinculadas do processo eleitoral, como entre nós o Banco Central.
Este é o mundo que o neoliberalismo está construindo, ao lado da guerra – já acesa em quase todos os continentes, e que, a partir da Venezuela, pode chegar até nós, quando os embargos se tornarem insuficientes para manter a primazia dos interesses do império sobre os interesses nacionais.
A guerra já está na Europa e no Oriente Médio e, se depender do sionismo e da beligerância da União Europeia, tende a alastrar-se.
O que ocorre na Venezuela, país com o qual dividimos extensa fronteira, que pode ser considerada a entrada da Amazônia, deve ser analisado considerando esse quadro.
A esquerda em grande parte ficou sem bússola, ao abandonar a luta socialista e conceitos-chave como imperialismo e luta de classes – assim, facilmente se confundindo com os liberais, que lhe dão a mão para poderem apunhalá-la na primeira oportunidade que surja.
Fenômeno humano, a história não se desenvolve no vazio; o presente, sempre um fenômeno novo, é filho do passado, sem ser seu duplo. Mas pode nos advertir relativamente ao futuro. Aquele que os dados de hoje sugerem não deve surpreender o observador atento da história, mas nos deve assustar profundamente.
Paris é uma festa? – Aproveitando o momento de grande entusiasmo pelas instituições democráticas (que esperamos seja sincero), vale perguntar: quando Emmanuel Macron irá passar o bastão à Nova Frente Popular, vencedora das eleições de julho?
O Brasil sem espaço – Por artes e artifícios não sabidos, as forças armadas do Estado brasileiro dividiram entre si, lá atrás, a condução das áreas fundamentais para a soberania nacional e o desenvolvimento, autônomo segundo as circunstâncias.
A esfinge da política de comunicação – O desemprego caiu a nível recorde, a renda média cresceu. É o que diz O Globo (1º.8.24), reproduzindo dados do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios-PNAD). A população ocupada chega (recorde) a 101,8 milhões, enquanto o número de desempregados caiu para 7,5 milhões, o menor patamar desde 2015.