Quando começamos a discutir, é sensato começar pelos pontos comuns, aqueles que nos unem. Essas interseções, quando fortes o suficiente, tornam-se elos, que acabam por delimitar as forças que tendem a se organizar e atuam em conjunto.
Eixos da esquerda
Esse fato é essencial na formação das agremiações políticas, como acaba definindo os eixos políticos comuns à esquerda. A preocupação social, defesa de direitos democráticos, posicionamento contrário à opressão são bandeiras que historicamente identificaram os setores de esquerda.
A liberdade de expressão, autodeterminação dos povos, resistência à opressão já foram pontos comuns a quase toda a esquerda brasileira. Em certa altura, houve uma tendência política de unidade das esquerdas da América Latina, uma expressão da luta comum desses povos.
Perda da delimitação
Essas consignas que delimitavam os setores da esquerda da direita, atualmente, colocam muitos desses setores da esquerda pequena-burguesa alinhados com a direita. Nesta semana, por acaso, encontrei trechos de artigos de dois veículos apresentados como de esquerda, mas, de tanto que destoavam, pareceria ser da extrema direita.
Os textos demonstravam o quanto essa esquerda pequeno-burguesa se distanciou de antigas bandeiras, como liberdade de expressão irrestrita. Atestando uma proximidade com os regimes políticos burgueses, sob domínio da opressão.
Solnik, longe da esquerda
Um desses textos era uma coluna de Alex Solnik, no Brasil 247, portal com o qual também já contribui em coluna. O artigo, intitulado Marçal tem que ser cassado já, chamava atenção à defesa aberta da censura sobre a ideologia do candidato.
Todavia, o mais escandaloso era sua defesa da interferência política da Justiça Eleitoral nas eleições, um órgão sem qualquer representação popular. “Sua candidatura tem que ser cassada pela Justiça Eleitoral”, disse em relação a Marçal. Sua posição antidemocrática é tal ao ponto de atacar a Band por convidar um candidato “que nem deveria estar lá porque seu inexpressivo partido nem deputados tem”. A empresa foi criticada por ter uma posição, mesmo que parcial, mais democrática que o determinado pela Justiça Eleitoral.
A política apresentada fazia seu lastro em critérios morais subjetivos, distantes da luta de classes e de interesses objetivos da população. O discurso de aparência moral, chega à deselegância, não esclarece aos leitores, servindo apenas para afagar correligionários.
Opinião ‘imperialista’
O histórico do Opinião Socialista, veículo do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), defendendo posições de interesse do imperialismo, não é novidade. Sua política comumente serve como mão esquerda do imperialismo.
Defendeu a orientação do imperialismo na política nacional, com a defesa do golpe de 2016, com a defesa do “”. Não destoando dessa orientação na política internacional com a defesa do golpe na Ucrânia, “”. Chegando a colocar a ação de autodefesa russa como “invasão”, exemplificada em “”.
Seria um trabalho hercúleo elencar todas as colaborações políticas do PSTU com o imperialismo. Entretanto, semana passada, o PSTU adicionou mais um item a essa lista de crimes, somando ao coro da imprensa imperialista contra a Venezuela.
No dia 9 de agosto, publicou um artigo da redação intitulado: “”. O título mostra a orientação política imperialista do partido em dois tópicos.
Primeiro, condenando o processo eleitoral venezuelano, defendendo a intervenção golpista do imperialismo naquele país. Segundo, coloca a atuação dos agentes imperialistas na Venezuela como “luta dos trabalhadores”, encobrindo a intervenção golpista.
Frente única
A necessidade de frente única costuma ser um ponto pacifico, quase uma panaceia universal para alguns. A questão é o que seria essa frente para eles? Agir juntos em pontos comuns seria uma tendência natural, aqueles com interesses em comuns. A questão é justamente essa, quais os interesses?
De forma concreta, o principal critério para uma frente única seria um ponto pratico comum, algo que independente do viés ideológico. Na questão da Palestina, por exemplo, o fim do genocídio, da ocupação sionista.
No momento, o ponto nevrálgico para a ação política está na Palestina. Ao se reduzir a questão, caímos no direito de autodefesa dos povos oprimidos, a questão da resistência armada.
Aqui, a maioria da esquerda se coloca como carpideiras do genocídio, lamentam cada morte, mas condenam a reação, condenam o Hamas. Esse acaba sendo o ponto que delimita a luta real em defesa da Palestina. O que deveria nos unir, a “frente”, acabar por separar.
Conferencia Norte-Nordeste Comitês Palestina
Neste sábado, dia 10 de agosto, houve a conferência da região norte e nordeste dos comitês em defesa da Palestina. Essa atividade foi convocada pelos manifestantes do ato nacional em defesa da Palestina no dia 30 de junho.
Após o ato, pelo considerável quantitativo de ativistas das regiões norte e nordeste, estes resolveram se reunir e discutir a organização de uma conferência para impulsionar a luta na região.
Até aí, tudo bem, ótima iniciativa. Ocorre que a mesma campanha realizada pela esquerda pequena-burguesa contra o ato nacional no dia 30 foi reproduzida contra a conferência. Esses grupos, que foram convidados, não apenas se furtaram a participar, mas realizaram uma campanha contrária afirmando que a atividade seria do PCO. Mesmo sendo aberta, tendo companheiros das mais diversas forças políticas e partidos, para esses setores da esquerda, essas atividades teriam uma peste contraída com o PCO.
Qual seria essa doença?
Como citado anteriormente, a defesa daqueles que pegaram em armas seria o problema. Não porque usaram de violência, mas pela condenação que o imperialismo faz dessas forças de resistência. A política do PCO contraria historicamente os interesses do imperialismo e, por isso, é atacada pelos representantes deste.
Essa esquerda, assimilada ao Estado Burguês em seu momento de decadência, mantém estreitas relações com o imperialismo. Sua proximidade acaba lhe colocando na mesma derrocada da direita tradicional, desorientando o trabalhador de maneira mortal.
A política desses setores, além de desmobilizar os trabalhadores, favorece diretamente os interesses imperialistas. Em alguns momentos, resta-nos a dúvida se poderíamos chamar a estes setores de esquerda.