Diante do processo político nacional, é preciso considerar uma hipótese que vem ganhando força: em vez de lançar um candidato de direita escancarado, como Tarcísio com apoio de Bolsonaro, a burguesia pode apostar em um candidato de “esquerda”, com apoio de Lula — uma manobra semelhante à anterior, mas pelo lado oposto.
Seria, na prática, uma manobra ainda mais eficiente: apresenta-se como oposição ao bolsonarismo, faz-se uma campanha supostamente democrática, e o cidadão, uma vez eleito com o apoio da esquerda, coloca em prática o programa da direita.
Esse cenário se torna viável se a candidatura de Lula for suficientemente abalada — e a ofensiva nesse sentido está em curso. É crise atrás de crise. O PT nem sequer terminou de lidar com a crise do INSS e já está atolado na do IOF. Se essas crises forem capazes de enfraquecer Lula o bastante, o próprio PT pode ser conduzido a fazer um acordo com a burguesia e apoiar um nome “contra o fascismo” em troca de algumas vantagens secundárias.
Nesse cenário, o PT lançaria alguém que não fosse Lula. O candidato da burguesia precisaria apenas de votos suficientes para ir ao segundo turno. Ciro Gomes, por exemplo, já conta com cerca de 10 milhões de votos. Seria necessário apenas dobrar esse número — o que não é difícil, já que os partidos burgueses o apoiariam.
Com isso, o candidato vai ao segundo turno. Bolsonaro poderia lançar Michelle ou algum dos filhos apenas para manter presença. O candidato da burguesia ficaria em segundo lugar, mas ganharia força no segundo turno. Essa alternativa precisa ser considerada. É perfeitamente possível.
A segunda manobra é melhor para a burguesia do que a primeira. A primeira, com um bolsonarista declarado, geraria resistência nos sindicatos. Um candidato bolsonarista atacando a população diretamente tende a gerar reação. Já um candidato apoiado pela esquerda tem o efeito oposto: enfraquece a própria esquerda. Desmobiliza.
Nesse sentido, é preciso mostrar à população o que a burguesia está planejando. É preciso resistir ao ataque que está sendo preparado e que pode ser devastador para o povo brasileiro.
Do ponto de vista internacional, vê-se a contra-ofensiva do imperialismo. Foi feito um esforço enorme para manter a guerra na Ucrânia, apesar de Trump. Estão inviabilizando o governo Trump, apoiam Netaniahu por debaixo dos panos, fizeram provocações contra o Irã e, aparentemente, conseguiram atingir o Hesbolá com mais força que o esperado.
Ainda assim, o imperialismo não conseguiu derrotar a resistência em Gaza e aprofunda cada vez mais a sua crise. A opinião pública está majoritariamente contra o imperialismo, nem mesmo os governos dos próprios países imperialistas conseguem sustentar o apoio. O sionismo não consegue vencer o Hamas e com isso, o imperialismo tenta uma negociação pelos Estados Unidos para não deixar Netaniahu cair de vez. Mas o Hamas rejeitou o acordo, denunciando-o como não satisfatório.
Está contra-ofensiva chegou a seu auge? Irá se intensificar? Apesar de perguntas como essas não estarem claras, já é evidente que ela revela a fraqueza do imperialismo.
Na Ucrânia, a situação também é delicada. O exército ucraniano está bombardeando civis russos para provocar um contra-ataque. Os russos agem com máxima cautela. O fato de Trump não conseguir reassumir o controle mostra que a pressão imperialista é enorme.
Ao mesmo tempo, vemos sinais dessa crise na Europa. Em Portugal, por exemplo, o Partido Socialista ficou em terceiro lugar, ganhou um partido de direita, mas o mais importante é que o Chega conquistou 60 cadeiras. Um sintoma da decomposição do regime político. O Bloco de Esquerda foi varrido do mapa. O Partido Comunista sobreviveu com dificuldade.
Isso mostra que o imperialismo não consegue mais se sustentar com a aparência democrática. Precisa de um pretexto para impor ditaduras. Precisa militarizar todos os países europeus. Precisa controlar o Estado de forma direta. Não está preocupado com popularidade. Quer avançar, mesmo sem base popular. Quer avançar rumo à ditadura.
E isso ilustra o Brasil. Aqui, a burguesia nem existe mais como partido político. É apenas uma máquina. O país está polarizado entre PT e bolsonarismo. E por mais que a burguesia se apoie no PT para tentar impor seus interesses, é uma aliança precária. Finalmente, não é possível levar a política do grande capital adiante por meio do PT.
O imperialismo tenta formar uma nova OTAN na Ásia contra a China e pode, talvez, tentar algo parecido entre países árabes contra o Irã, o Iêmen, o Hamas e o Hesbolá. É um plano complexo, mas não impossível. Afinal, a crise dos regimes burgueses é muito grande e, com isso, o mundo se prepara para uma nova grande guerra.
Em algum momento, esta contra-ofensiva será freada. Um grande acontecimento obrigará o imperialismo a mudar de política, assim como aconteceu na Faixa de Gaza em 7 de outubro de 2023: um verdadeiro choque no imperialismo e em sua dominação sobre o mundo.