Ao refletir sobre o que a URSS deixou ao mundo, a maioria das pessoas provavelmente lembrará apenas da vitória sobre o nazismo. De fato, isso foi importante. Entretanto, tal façanha só foi possível em virtude do desenvolvimento de um método inovador de desenvolvimento das forças produtivas: o planejamento econômico. Mais do que isso, a existência da URSS também teve efeitos profundos fora de suas fronteiras, pois foi a pressão do modelo soviético que forçou o Ocidente a adotar o famigerado “estado de bem-estar social” como resposta à “ameaça socialista”. Direitos trabalhistas, saúde pública, educação gratuita e seguridade social se expandiram não por generosidade capitalista, mas por medo da alternativa representada pela URSS.

Primeiro, é importante ressaltar que até a tomada do poder na Rússia por Lenin, o planejamento econômico era algo muito incipiente. Havia algumas ideias de que isso era possível e como deveria ser operacionalizado, entretanto, o que de fato impulsionou significativamente tal modelo foi a consolidação do poder soviético. A partir dos anos 1920, e sobretudo com os planos quinquenais iniciados em 1928, a URSS demonstrou que era possível organizar a economia de forma centralizada e alcançar resultados impressionantes. Resultado disso foi que entre 1928 e 1940, a produção industrial cresceu mais de 250%, a produção de aço saltou de 4 para 18 milhões de toneladas, e a geração de eletricidade aumentou quase dez vezes.

Esse modelo permitiu ao país, em poucas décadas, transformar-se de uma nação agrária e majoritariamente analfabeta em uma potência industrial e científica. Antes da Revolução Russa, em 1917, apenas cerca de 40% da população era alfabetizada, e esse número foi para quase 100% na década de 1950. Assim, em 30 anos, o analfabetismo foi praticamente erradicado, algo nunca antes visto na história da humanidade. Mais do que isso, a expectativa de vida na Rússia em 1915, antes da Revolução, era de 33 anos, e mais do que duplicou em 50 anos, atingindo a média de 67 anos. O planejamento econômico se afirmou então como prática concreta de desenvolvimento das forças produtivas em larga escala, trazendo benefícios à sociedade russa que duram até hoje.

Diante de tantos avanços econômicos e sociais promovidos pela URSS, os países capitalistas foram obrigados a dar uma resposta por medo de que revoluções socialistas eclodissem em seus próprios territórios. Enquanto os países ocidentais estavam com a economia estagnada e fortemente abalada pela crise de 1929, havia sucesso visível do planejamento soviético, que pressionou intelectuais e formuladores de política a buscar alternativas ao “livre mercado”. O próprio economista Keynes, embora crítico do modelo soviético, reconheceu a falência do laissez-faire e defendeu a necessidade de intervenção estatal, planejamento da economia e ampliação dos investimentos sociais como forma de atenuar o risco de colapso ou revoltas, propondo assim a base de políticas que permitiram aos países capitalistas implementar o chamado “estado de bem-estar social”.

Fica portanto patente que, sem a existência da URSS, dificilmente teríamos assistido à expansão de serviços públicos essenciais como educação, saúde e seguridade social no Ocidente. Da mesma forma, o desenvolvimento tecnológico acelerado da URSS, que colocou o primeiro satélite e o primeiro ser humano no espaço, obrigou potências como os Estados Unidos a investirem massivamente em ciência, indústria e inovação, acelerando o progresso global em um ritmo sem precedentes.

É claro que os erros da burocracia soviética contribuíram para seu colapso, um tema a ser abordado em outro texto. Apesar disso, é preciso dizer com clareza que a existência da URSS representou um vetor real de progresso social para a humanidade, que nos influencia até hoje. Sem ela, é provável que estivéssemos mergulhados em uma forma ainda mais brutal de barbárie capitalista. Negar isso por desconhecimento é compreensível, por isso é necessário sempre fazer o trabalho profilático de disseminar dados e informações. Entretanto, quando alguém tem os dados e os nega, já passa a ser burrice.

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Last Update: 26/06/2025