
A escalada militar no Oriente Médio ganhou nova dimensão com o anúncio do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, que prometeu “danos irreparáveis” aos Estados Unidos caso ocorra intervenção militar conjunta com Israel, um cenário que vem tomando força nas últimas semanas. O alerta foi reforçado após o presidente Donald Trump sinalizar que pode decidir, dentro de duas semanas, se os EUA se somarão à campanha militar israelense contra o Irã .
A ameaça iraniana foca em bases americanas distribuídas em 19 locais pelo Oriente Médio, onde estão aproximadamente 40 mil militares, muitos dentro do alcance de mísseis balísticos Sejil-2, com raio de até 2.000 km. São áreas estratégicas em países como Bahrein, Egito, Iraque, Jordânia, Kuwait, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes, além de porta-aviões posicionados na região.
Internamente, Trump enfrenta pressão: enquanto seus aliados de linha dura defendem apoio total a Israel, vozes isolacionistas como Steve Bannon e Rand Paul alertam para riscos de uma guerra ampla que poderia replicar os conflitos no Afeganistão e Iraque. A possibilidade de um ataque sem aprovação do Congresso levanta preocupações legais e políticas, justamente quando a retórica presidencial oscilante tornava o futuro imprevisível .
A intervenção estadunidense em um ataque direto ao Irã poderia permitir o uso de tecnologias como bombardeiros B‑2 e bombas de bunker para penetrar instalações subterrâneas, como a usina de enriquecimento de Fordow, onde o Irã já contraindica gerar urânio a quase 84%, muito próximo do nível militar .
Enquanto isso, o Irã ameaça também o bloqueio do Estreito de Ormuz, corredor por onde circula cerca de 20% do petróleo global. Foi nele que Teerã obstruiu e atacou embarcações em 2019, em retaliação à saída americana do acordo nuclear. Um bloqueio dispararia o preço do barril acima de US$ 100, com impactos macroeconômicos globais.

Além disso, Khamenei controla milícias aliadas, como o Hamas, Hezbollah e houthis, que são capazes de realizar ataques contra interesses americanos e de aliados ocidentais no território regional. Tais ações poderiam agravar o conflito, levando a uma guerra por procuração .
O tom das declarações de Khamenei é deliberadamente firme: “Serão consequências irreparáveis” caso Washington avance. Ele buscou diferenciar-se de Trump, que nas palavras do iraniano exibe retórica “absurda”, enquanto o Irã, segundo ele, nunca se intimidirá .
Apesar de manter conversa diplomática aberta, inclusive com dois encontros previstos com o enviado Steve Witkoff, Trump continuou alternando ameaças de intervenção e votos pela negociação, reforçando seu slogan de “soberania máxima” dos EUA.
A escalada provocou reação global: a Rússia alertou que uma intervenção americana no conflito poderia precipitar uma “catástrofe nuclear”, enquanto a OCDE e o FMI monitoram de perto o impacto sobre as cadeias de abastecimento e o preço do petróleo, cuja volatilidade já pressionou os mercados.