Organizada pelo governo Bush filho durante a ocupação tanto do Iraque quanto do Afeganistão, ocorreu em 27 de novembro de 2007 a Conferência de Anápolis, em Mayland, nos Estados Unidos. A conferência teve como objetivo oficial retomar as negociações de paz entre a Palestina e “Israel” e implementar o chamado “Roteiro para a paz”.
O time de negociações israelense era liderado pela então ministra de Relações Exteriores, Tzipi Livni, uma suposta reformista, cuja trajetória política começara na juventude do Betar, milícia fascista sionista, e que fizera parte dos “moderados” do Likud, hoje figura da oposição. O time de negociadores da Autoridade Palestina era liderado Saeb Erekat, que também liderara as negociações durante as reuniões de Oslo.
No ano anterior, o Hamas havia conquistado uma vitória eleitoral esmagadora nas eleições parlamentares, e, em junho de 2007, expulsado a Autoridade Palestina da Faixa de Gaza. Ou seja, a retomada das negociações tinha uma razão política muito concreta: o imperialismo estava buscando minar a autoridade política adquirida pelo Movimento de Resistência Islâmica. Em preparação, Abbas e Ehud Olmert já haviam se reunido pelo menos seis vezes desde junho para negociar um acordo. Com a rodada final de negociações ocorrendo em Washington, DC, na véspera da Conferência de Anápolis.
De maneira semelhante aos Acordos de Oslo, as demandas da OLP, agora representada na figura da Autoridade Palestina, eram muito “tímidas”, tratava-se efetivamente de uma rendição ao sionismo, como demonstraram anos depois os “Papéis da Palestina”, grande coletânea de documentos vazados pela Al Jazeera no final de janeiro de 2011, relatando anos (1999-2010) de negociações entre o sionismo e a OLP. Segundo Clayton E. Swisher:
“Ao analisar a parte dos Palestine Papers referente ao período de Annapolis (2007-2009), fica claro que a Autoridade Palestina estava disposta a fazer concessões sem precedentes ao governo israelense, aceitando abrir mão de partes da Jerusalém Oriental ocupada e de outras terras da Cisjordânia. Em troca, o governo israelense absorveu essas concessões, ao mesmo tempo em que admitia ter um projeto para confiscar mais terras e construir colônias exclusivas para judeus.
[…]No final das negociações de Anápolis, a Autoridade Palestina começou a aceitar que alguma forma de internacionalização do Haram al-Sharif [praça em que está localizada a mesquita de al-Aqsa] poderia ser necessária – independentemente das potenciais implicações.
Numa proposta transmitida oralmente a Abbas no final do verão de 2008 e documentada num relatório de 31 de agosto de 2008, Olmert sugeriu a ideia de permitir que os Estados Unidos, juntamente com Egito, Jordânia e Arábia Saudita, formassem um comitê que determinaria o destino do Haram al-Sharif/Monte do Templo. De acordo com os Palestine Papers, esse comitê não teria poder para forçar nem Israel nem a parte palestina, mais fraca, a aceitar um acordo.
Os comentários de Erekat parecem confirmar que a OLP – falando em nome de todos os palestinos – consideraria tal arranjo aceitável. As implicações são profundas: os Estados Unidos não têm qualquer legitimidade histórica na questão dos locais sagrados (nem sequer é uma nação que se declare cristã) e consideram-se o aliado mais próximo de Israel.”
Para os norte-americanos, a ideia era retomar o caminho pela paz proposto pelo Quarteto do Oriente Médio, estabelecido em 2002 em resposta à Segunda Intifada, com representantes da União Europeia, da ONU, dos Estados Unidos e da Rússia, com a versão final publicada no ano seguinte, estipulando uma implementação em três etapas.
“A primeira fase tem como objetivo pôr fim à violência palestino-israelense, congelar a atividade de assentamentos israelenses na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, fortalecer e reformar o governo palestino — conhecido como Autoridade Palestina — e aliviar as duras condições criadas pela repressão israelense sobre os 3,5 milhões de palestinos na Cisjordânia e em Gaza.
A segunda fase levará à criação de um Estado palestino provisório com fronteiras temporárias.
Na terceira fase, serão realizadas negociações finais sobre as fronteiras permanentes de um Estado palestino, o status de Jerusalém e o reconhecimento internacional tanto da Palestina quanto de Israel.”
O governo Sharon aceitou, em maio de 2003, as “etapas” do plano, não o plano em si, com 14 ressalvas. Ou seja, na prática, tratava-se de uma recusa. Não seria muito diferente desta vez (Anápolis), com o rompimento definitivo das negociações ocorrendo com a invasão de Gaza pelos sionistas, em 2009.