No artigo intitulado Falta na esquerda alguém que possa duelar com Nikolas, publicado no último dia 10 de maio, o jornalista Moisés Mendes, identifica uma crise na esquerda ao enfrentar a extrema direita, personificada por Nikolas Ferreira. Ao tratar o problema como uma questão de comunicação ou falta de figuras carismáticas, Mendes erra feio o diagnóstico. Isso porque a crise não é técnica, mas política, algo que a esquerda abandonou em favor de táticas institucionais e repressivas, alienando-se do povo. Eis as considerações do jornalista:

“O que as esquerdas precisam ter – e não o governo – é algo equivalente a Nikolas. Mas que algo? As esquerdas não têm nada. Nem uma figura, nem um discurso, um método ou uma estratégia. Até porque as tentativas de resposta a Nikolas são produzidas por gente com pelo menos o dobro da idade dele.”

O autor sugere que a esquerda carece de uma figura jovem, um discurso ou uma estratégia para enfrentar Nikolas Ferreira, porém que enfrentamento? Após ter delegado a luta política às agências da repressão estatal como a Polícia Federal e o STF, a esquerda agora colhe os frutos dessa desmobilização.

Não se trata de idade ou carisma, como Mendes implica ao mencionar que as respostas vêm de pessoas “com o dobro da idade” de Nikolas. A questão é que a esquerda, ao se alinhar ao imperialismo e endossar políticas impopulares – como a repressão a adversários políticos pelo Judiciário, associação com o STF –, perdeu credibilidade.

Por uma questão de conveniência, Mendes ignora o conteúdo político do sucesso do parlamentar do PL, que se deve justamente à oposição crescente da população à ditadura imperialista. Com esse pano de fundo, parcelas cada vez maiores da população acreditam que o bolsonarismo é uma expressão da luta contra o regime dominado pelos monopólios, ilusão facilitada pela esquerda defensora de “Xandão” na luta política, e de Haddad no campo da economia. Com isso, o parlamentar bolsonarista capitaliza com uma desmoralização que não deveria ser do governo, mas acaba sendo pela falta de uma política independente da potências estrangeiras.

Essa desmoralização se expressa no sucesso de vídeos que associam o Palácio do Planalto (sede do governo federal) a supostos descaminhos institucionais, algo que a esquerda não consegue rebater e isso, independente de qualquer outra questão, deveria ser o ponto central a ser analisado. Não é o que Mendes faz porque sua defesa não é uma mudança na política que o povo rejeita e que cria um campo fértil para que o governo seja responsabilizado por um esquema que começou no governo anterior.

O articulista de Brasil 247, porém, continua defendendo a questão da comunicação como algo técnico:

“As esquerdas não têm um jovem com a agilidade e a capacidade de fala de Nikolas, ou têm e essa figura está escondida. A guerra contra os ataques de Nikolas só poderá ser enfrentada por alguém com perfil assemelhado.”

O que Mendes defende, porém, é parte de uma percepção equivocada da realidade e uma comprovação disso foi dada recentemente, quando o presidente nacional do Partido da Causa Operária Rui Costa Pimenta, participou do programa Roda Solta, quadro comandado pelo direitista Danilo Gentili, que foi ao ar na rede de televisão SBT. Pimenta é claramente alguns anos mais velho do que Ferreira, mas isso não impediu o vídeo de sua intervenção ultrapassar a impressionante marca de um milhão de visualizações apenas no YouTube, desmentindo a tese de Mendes.

O que falta é uma postura política autêntica, que não se curve a interesses impopulares. A esquerda não precisa de figuras oportunistas como Guilherme Boulos, que promete reprimir ocupações de moradia, nem de discursos ensaboados. Precisa de lideranças que defendam os interesses do povo, não os de seus inimigos. A popularidade de Nikolas não vem de sua “agilidade”, mas da capacidade de explorar essa insatisfação popular com um governo que adota políticas rejeitadas pelas massas e paga o preço por isso.

A reversão desse quadro dramático que Mendes se propõe não tem nada a ver com uma estratégia de comunicação, mas com uma estratégia política. É a política que precisa mudar para que a esquerda mude essa conjuntura e para que a demagogia da extrema direita perca força.

Espertamente, o articulista opta por fugir do mérito da aceitação, porém é muito fácil conseguir os resultados de Ferreira quando a realidade empurra as pessoas às conclusões que o parlamentar bolsonarista defende. Quando se tem um governo que está frequentemente tentando meter a mão no bolso do povo com um ministro rapace como Fernando Haddad, organizador de uma política de cortar benefícios do setor mais pobre da população enquanto faz a taxa de juros disparar, demonstrando total insensibilidade com a dureza das condições da vida do povo e premiando os banqueiros sem dar nada em retorno para os trabalhadores, o governo termina fazendo é criar as condições para que a agitação política bolsonarista alcance amplas parcelas da população.

O sucesso observado por Mendes de um parlamentar inepto é, acima de tudo, a desmoralização do governo e é isso que precisa mudar. É preciso uma guinada radical na política econômica, que passe a atender o povo trabalhador, com medidas de impacto que beneficiem a população.

Acima de tudo, a esquerda precisa entender o sucesso das publicações de Nikolas Ferreira como uma consequência e não como uma causa de uma crise. Deve-se atuar na causa para conseguir mudar o que a realidade descrita por Mendes, observada por ele, porém de maneira diletante, sem uma ação consequente superar o que está posto. Finalmente, não custa lembrar que entre outras coisas, o identitarismo custou à esquerda a perda do humor, algo que precisaria ser recuperado para fugir à chatice da propaganda esquerdista.

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Last Update: 12/05/2025