O recente bombardeio israelense contra instalações nucleares no Irã inaugura um novo estágio, mais direto e violento, de uma disputa marcada, há décadas, por sabotagens, impasses diplomáticos e ameaças veladas.
O dano a componentes críticos de Natanz, um dos centros de enriquecimento de urânio do país, não foi suficiente para paralisar o programa nuclear iraniano – que permanece disperso, protegido por fortificações subterrâneas e resiliente a ataques convencionais. Para desmontar de fato a capacidade nuclear iraniana, seria necessária uma ofensiva militar em larga escala, com munições de penetração profunda, bombardeiros de longo alcance e suporte logístico.
O que está em jogo
Entender a disputa exige entender a sensibilidade envolvida em qualquer programa nuclear. Segundo a Arms Control Association, apenas nove países possuem arsenais nucleares declarados: Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte. O Irã não faz parte desse grupo — mas ocupa uma posição singular.
Formalmente voltado a fins civis e aprovado pelo Ocidente até a Revolução Islâmica, o programa atômico iraniano opera sob vigilância da Agência Internacional de Energia Atômica. Ainda assim, o enriquecimento de urânio a 60% — um patamar tecnicamente próximo do grau militar — alimenta suspeitas históricas de Israel sobre a intenção de Teerã em obter capacidade nuclear armada.
Único país sem arsenal declarado que processa urânio a esse nível de pureza, o Irã garante que não busca uma bomba. Mas, com o colapso do acordo de 2015 — desmantelado por Donald Trump em 2018 —, o país acelerou suas atividades, acumulando estoques sensíveis.
Na semana passada, a AIEA aprovou uma resolução de censura ao Irã, denunciando que a produção de urânio altamente enriquecido dobrou em apenas três meses, a medida mais dura contra o país em quase duas décadas. O timing da resolução abriu espaço diplomático para o ataque israelense.
O mapa do programa iraniano
Além de Natanz, as principais instalações nucleares do Irã incluem Isfahan, Arak, Bushehr e Fordow — esta última construída sob uma montanha, projetada para resistir a bombardeios pesados. É em Fordow que se concentra o principal desafio militar: qualquer tentativa de destruição exigiria munições e capacidades técnicas que Israel, por si, não possui.
Sem Washington, Israel dificilmente conseguirá desmantelar o programa iraniano; com Washington, o risco de uma guerra total explode. O próprio ministro da Defesa, Israel Katz, reconhece as limitações. Nesta terça-feira 17, em declaração à mídia local, disse que o ideal seria que os EUA ‘desferissem o golpe final’.
“Israel não pode destruir sozinho a infraestrutura nuclear-militar do Irã. Isso exige munições, bombardeiros e sistemas de entrega que o país não possui, e é por isso que o [Benjamin] Netanyahu está tão focado em arrastar os EUA para a guerra.”
Katz anunciou novos ataques contra alvos governamentais e de infraestrutura, com o objetivo declarado de neutralizar pelo menos dez instalações nucleares na região de Teerã. A viabilidade dessa meta, porém, continua incerta.