Para a parte 5 de nossa análise sobre o artigo de Aldo Fornazieri, publicado no portal Brasil 247, intitulado “Madurismo e a traição ao chavismo”, vamos abordar alguns argumentos do sociólogo que demonstram o apoio a uma política para a Venezuela que é análoga à política do golpe de 2016 no Brasil, contra a presidenta Dilma Rousseff. A parte 1 contrapôs argumentos do sociólogo ao início do texto, a parte 2 contrapôs falas citadas de ex-amigos de Hugo Chávez, e a parte 3 contrapôs as posições de ex-ministros de Chávez, utilizadas pelo articulista.
Primeiro, acusações de autoritarismo, mas com alguns pontos específicos relevantes que permitem evidenciar a posição do acadêmico:
“Maduro faz na Venezuela o que Bukele faz em El Salvador, Ortega faz na Nicarágua e o que Bolsonaro queria fazer no Brasil. Ele domina o parlamento, a Suprema Corte e a Comissão Eleitoral Nacional, o exército e as polícias, instituições de Estado transformadas em aparatos de controle e repressão madurista. Bolsonaro comprou o parlamento com o orçamento secreto e investiu forte contra o STF e o TSE, querendo dominá-los, até com articulações de prisões e substituições de juízes.”
Os exemplos apresentados por Fornazieri aqui são em grande medida irrelevantes, foquemos nos feitos. Aqui, a maioria no parlamento, e o apoio da Suprema Corte, da Comissão Eleitoral, do exército, são apresentados como pontos negativos, ainda, a dita investida contra órgãos do judiciário é apresentada como prova do caráter antidemocrático do governo de Nicolás Maduro. É preciso, contudo, compreender o que ocorre, e tomar outro exemplo, mais relevante para o caso, já apontado por nós: o exemplo de Dilma Rousseff.
A questão das Forças Armadas da Venezuela vem da época de Hugo Chávez. O comandante efetuou uma limpeza no exército de elementos alinhados ao imperialismo, golpistas, após o golpe de 2002, derrotado em dois dias. A reestruturação pôde ser realizada pois Chávez encabeçava um gigantesco movimento popular, que o elegeu, e depois o tirou da prisão e derrotou o golpe. Desde então, o exército venezuelano não pode mais ser usado pelo imperialismo, ou não tão facilmente, contra o governo soberanista.
O caso do parlamento reflete, naturalmente, o apoio popular do chavismo. É importante relembrar, Chávez chegou a receber a autorização de governar por decreto pelo parlamento venezuelano, e mais de uma vez, medida prevista e regulada por lei na Venezuela. Estaria o comandante dominando o parlamento então?
Vejamos agora o judiciário. Em 2003, Hugo Chávez aumentou o número de juízes na Suprema Corte, de modo a prevenir uma ofensiva golpista e uma sabotagem do governo popular pelas figuras do velho regime, alinhadas ao imperialismo e à burguesia. Essa medida, por exemplo, impediu que se desse um processo como aquele de 2016, assim como a limpeza no exército. Teria Chávez investido forte contra a corte?
Maduro nada mais faz do que seguir não só a política geral, mas os feitos específicos de Chávez ao defender seu governo contra a ofensiva golpista do imperialismo.
Sobre os aparatos de controle e repressão maduristas, o apontamento genérico é demonstração da farsa. Agora, vejamos alguns motivos para a utilização da repressão contra a oposição. Em agosto de 2022, por exemplo, um incêndio criminoso atingiu um armazém do Instituto Venezuelano de Segurança Social (IVSS), dependente do Ministério da Saúde, onde estavam armazenados insumos de diálise. Ao incêndio, a oposição na sequência emendou uma campanha terrorista de que os pacientes ficariam sem tratamento.
O governo denunciou o incêndio como parte da campanha terrorista da oposição. Em 2019, um blecaute foi causado pelo que o governo também denunciou como sabotagem da oposição na usina hidrelétrica Simón Bolívar, um incêndio na principal linha de transmissão da usina.
Em junho de 2017, um protesto da oposição queimou vivo e matou um homem, Orlando Figuera, acusado de ser chavista.
Como respondem os acusadores de Maduro a tais fatos e outros análogos?
“Agora, com a brutal repressão desencadeada pelas forças policiais-militares de Maduro contra os protestos populares, é o Partido Comunista da Venezuela (PCV), que denuncia a fraude eleitoral:
“‘El Buró Político del Comité Central del Partido Comunista de Venezuela (PCV) hace un llamado a las fuerzas genuinamente democráticas, populares y patrióticas a unir fuerzas para defender la voluntad del pueblo venezolano que se expresó este domingo 28 de julio con una clara intención de cambio político en el país.
“Alertamos a la opinión pública internacional que así como el Gobierno de Nicolás Maduro há despojado al pueblo venezolano de sus derechos sociales y económicos, hoje pretende privarlo de seus direitos democráticos’.”
“Vários partidos comunistas das Américas se solidarizaram com o PCV e com os outros partidos e movimentos de esquerda que não reconhecem a vitória de Maduro.”
Fornazieri demagogicamente se utiliza de partidos autodeclarados como de esquerda, comunistas, para atacar Maduro. Pois bem, um mínimo de atenção ao Brasil verá que o golpe de 2016, contra Dilma Rousseff, contou com amplos agentes dentro da esquerda. Dentre eles, o PSTU, que declarava abertamente o Fora Dilma, o PCB e o PSOL, que se colocavam de maneira ambígua sobre a palavra de ordem, mas denunciavam o governo como sendo de direita, chamando a esquerda, na prática, a não defendê-lo. A ofensiva golpista continua rememorando cenas do golpe no Brasil.
“Os panelaços e as manifestações de rua foram recorrentes nos últimos dias. Os jovens que puxam os protestos afiram que eles não são liderados nem por partidos e nem pelos políticos da oposição. Dizem que a fraude eleitoral precisa ser interrompida e que o governo de Maduro precisa sair. Se declaram cansados de ser maltratados.
“Sustentam ainda que o governo roubou sua dignidade, que eles não têm sequer dinheiro para comprar comida para os filhos. ‘Olhe os meus sapatos, estão furados e não tenho dinheiro para comprar novos’, disse um jovem de Petare, em Altamira. Maduro respondeu com repressão violenta que matou mais de 20 pessoas. Mais de dois mil manifestantes foram presos.”
A direita golpista brasileira, que se transformou no bolsonarismo, também batia panelas e fazia manifestações, com uma denúncia de fraude movida pelo opositor à época, no PSDB, Aécio Neves. A juventude da direita, “apartidária”, como o MBL e o Vem Pra Rua, também puxava protestos. E a direita utilizou largamente o lema de que o povo estava cansado de ser maltratado.
A crise econômica era igualmente um motor dos protestos. Apresentadores da imprensa capitalista denunciavam a inflação, a queda nas condições de vida da população, com quem seus patrões do Departamento de Estado dos EUA ou da CIA tanto se preocupam. Já a tal repressão a manifestantes, até onde se sabe, financiados desde a América do Norte