Em depoimento à Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid relatou supostas investidas de advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para obter detalhes da sua delação premiada. O militar prestou esclarecimentos à corporação na última terça-feira 24, em um inquérito a respeito de possível obstrução da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.

A apuração começou por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que também mandou ouvir Fábio Wajngarten, ex-assessor de Bolsonaro, e Paulo Bueno, atual advogado do ex-presidente.

Segundo relatou aos investigadores, uma foto que advogados dos reús na ação do golpe utilizaram como prova de que Cid teria conversado sobre a delação (o que seria proibido) por meio de um perfil no Instagram foi, na verdade, fruto de vazamento.

Desde o início do processo no STF, defensores de réus tentam invalidar a colaboração sob o argumento de que Cid teria violado termos do acordo.

O tenente-coronel afirmou ainda ter sido gravado sem autorização e que os áudios teriam sido editados e recortados antes de vir a público. Declarou também não ser o responsável pela criação de um perfil nomeado “gabrielar702” e negou ter tratado da delação com o advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara — outro réu no processo do golpe.

No depoimento, Cid disse ter recebido visitas na prisão, em 2023, de Kuntz e Wanjgarten, que à época integrava a defesa de Bolsonaro. Em outro momento, segundo o delator, se encontrou com o defensor de Câmara em um evento na Hípica de Brasília, mas acreditou que seria algo “fortuito”. Os defensores também tentaram se aproximar de seus familiares, alegou Cid.

Aos investigadores, o militar afirmou que abordagens teriam sido constantes entre o segundo semestre de 2023 e o início do ano passado. “Que ao analisar o telefone celular de sua filha, identificou que os advogados Luiz Eduardo de Almeida Kuntz e Fábio Wajngarten estavam mantendo contato constante com sua filha menor G.R.C, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram”, diz o registro do depoimento.

Na visão do tenente-coronel, ao analisar o conteúdo das conversas, o objetivo dos advogados seria se aproximar dele por meio de sua filha mais nova. Conforme a oitiva de Cid à PF, Kuntz “estabeleceu esse contato para obter informações sobre o acordo de colaboração firmado pelo declarante e, com isso, obstruir as investigações em andamento, aproveitando-se da inocência de sua filha menor de idade”.

O contato com a mãe de Cid teria sido “feito pessoalmente, em pelo menos três oportunidades”, em eventos esportivos que a família frequenta, também na hípica. Ainda segundo o militar, em uma das abordagens, Paulo Bueno também estava presente. Na ocasião, os advogados “se colocaram à disposição para atuar na defesa do declarante”.

Durante o depoimento aos investigadores, Cid entregou declarações assinadas por sua esposa, Gabriela Ribeiro Cid, e por sua mãe, Agnes Barbosa Cid. Ambas relatam nos documentos terem sido procuradas por advogados ligados ao ex-presidente, na tentativa de fazer Cid mudar de defesa. No relato assinado por Gabriela, há menção à gravação de uma suposta conversa com Wajngarten.

“No ano de 2023, provavelmente nos meses de agosto e setembro, o advogado Fábio Wajngarten me telefonou diversas vezes. Eu não atendia essas ligações. Atendi após o pedido de minha filha, que era alvo de ligações insistentes por parte dele. Nessa oportunidade, fiz uma gravação em vídeo da ligação onde ele tenta me persuadir a trocar de advogado. Isso aconteceu assim que Mauro passou a ser atendido por Cezar Bittencourt.”

A esposa de Cid afirmou ter apagado a gravação “por sentir que não estava fazendo o correto, entregando uma pessoa que, inicialmente, parecia estar querendo me ajudar”.

Leia a íntegra do depoimento de Mauro Cid: 

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Last Update: 26/06/2025