O que Bolsonaro afirma (e o que silencia) sobre a acusação no caso das joias

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizou um erro da Polícia Federal sobre o valor do suposto desvio de joias recebidas de governos estrangeiros, mas silenciou sobre os elementos do relatório que o indiciaram por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

O documento enviado pela PF ao Supremo Tribunal Federal sustentava que o valor dos itens de luxo chegaria a cerca de 25 milhões de reais. Na tarde desta segunda-feira, porém, a corporação corrigiu a estimativa e mencionou um montante de 6,8 milhões.

“Aguardemos muitas outras correções. A última será aquela dizendo que todas as joias ‘desviadas’ estão na CEF [Caixa Econômica Federal}, Acervo ou PF, inclusive as armas de fogo”, escreveu o ex-capitão nas redes sociais.

Ao atribuir o crime de associação criminosa a Bolsonaro, a PF afirma que ele tinha “plena ciência” do esquema de venda de joias ao menos desde 2019. Cita, por exemplo, um diálogo no WhatsApp em que o tenente-coronel Mauro Cid envia o link de um leilão que ocorreria dias depois nos Estados Unidos, ao qual Bolsonaro responde com: “Selva”.

“Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, diz um trecho do relatório.

O documento cita ao menos dois kits de joias que teriam sido “subtraídos diretamente” pelo ex-presidente com o objetivo de vendê-los no exterior.

Os gastos de Bolsonaro durante a permanência nos EUA, entre dezembro de 2022 e março de 2023, constam do material apreendido pela PF em posse do ex-ajudante de ordens Marcelo Câmara. Antes de deixar o Brasil, na antevéspera da posse de Lula (PT), o ex-capitão transferiu 800 mil reais de sua conta no Banco do Brasil para uma conta no BB Américas.

Ao sair dos EUA, ele mantinha o mesmo valor em conta, um indicativo de que teria utilizado apenas dinheiro em espécie para bancar a estadia no exterior. Esse método, concluiu a Polícia Federal, é “uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”. Estaria, portanto, configurado o crime de lavagem de dinheiro, na avaliação da corporação.

Agora, a Procuradoria-Geral da República tem 15 dias para decidir se denuncia Bolsonaro ao STF, pede novas diligências à PF ou arquiva a investigação.

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