A decisão do governo dos Estados Unidos de retirar Alexandre de Moraes da lista de sancionados pela Lei Magnitsky devolve ao ministro do Supremo Tribunal Federal um ambiente de normalidade institucional, após quase cinco meses de tensão diplomática.
Criada para punir violações graves de direitos humanos e casos de corrupção no exterior, a Magnitsky é uma ferramenta de alcance extraterritorial usada para bloquear bens, restringir transações financeiras e suspender vistos de estrangeiros. Sua aplicação contra um integrante da Suprema Corte de um país democrático foi vista como um gesto incomum e altamente politizado. A medida adotada por Donald Trump em 30 de julho se baseava em acusações de que Moraes lideraria “julgamentos politizados” e restringiria liberdades em processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Embora Moraes não tenha patrimônio declarado nos Estados Unidos, a sanção provocou efeitos práticos imediatos, como o bloqueio de um cartão de crédito de bandeira norte-americana usado pelo ministro. O visto para Moraes entrar no país havia sido suspenso dias antes.
Mais do que isso, especialistas alertavam que empresas com operações nos EUA – de redes de cartões a bancos internacionais e big techs – poderiam se sentir pressionadas a aderir à sanção para evitar riscos regulatórios em território norte-americano. Esse cenário alimentou incertezas sobre serviços básicos, como operações bancárias, pagamentos e relações contratuais, ampliando a preocupação sobre eventuais impactos indiretos no Brasil.
Com a reversão, Moraes recupera plena segurança jurídica no relacionamento com bancos e empresas. A Magnitsky não tem validade automática no Brasil e não poderia ser aplicada por instituições brasileiras sem base legal. Uma decisão de agosto do ministro Flávio Dino, publicada em meio à crise, reforçou que atos judiciais ou executivos estrangeiros não têm eficácia interna sem um processo formal de internalização.
No campo político, o impacto da revogação também é imediato. A punição contra Moraes havia sido celebrada por aliados de Bolsonaro como uma espécie de condenação internacional ao ministro, responsável por conduzir a ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado. A retórica de Washington passou a ser incorporada ao discurso bolsonarista, acirrando tensões institucionais internas. Com o recuo de Trump, o ministro recupera espaço e se desfaz de um dos principais instrumentos usados para desgastar sua atuação no Supremo.
A retirada da sanção também descomprime a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos, que passou neste ano por sua pior crise em décadas. Agora, com a normalização progressiva das relações e o fim da Magnitsky, Moraes retoma integralmente sua rotina no STF.