Na última sexta-feira (9), o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), por meio de seu jornal oficial, Opinião Socialista, buscou explicar a posição pró-imperialista sobre a suposta fraude na eleição de Maduro na Venezuela. Na matéria intitulada “Perguntas e respostas sobre o chavismo e a Venezuela”, os morenistas se dedicaram a atacar o movimento chavista e, de quebra, os “imperialismos” da China e Rússia. 

As contradições do governo venezuelano são exploradas de forma a defender sua derrubada, as teses de uma organização anti-marxista são utilizadas para atacar regimes nacionalistas em favor do imperialismo. Dessa forma, se faz necessário esclarecer como as teses do partido morenista não contribuem para o avanço de uma consciência nacionalista e assim colocar em marcha um amplo movimento anti-imperialista no Brasil. 

O jornal morenista fez questão de declarar que “ex-tenente-coronel Hugo Chávez chegou ao poder através da via eleitoral” e que, apesar de ter cunhado o termo “Socialismo do Século 21”, o chavismo “nunca ameaçou o sistema capitalismo”. A Venezuela teria continuado a ter “papel de grande exportadora de petróleo” e o governo Maduro teria atacado “os direitos e as condições de vida da maioria da população”. 

Não fica claro o objetivo do PSTU em destacar que o líder venezuelano teria ascendido através de eleição, talvez o partido morenista tenha um fetiche com o processo eleitoral dominado pela burguesia, uma operação totalmente antidemocrática e que inclusive o próprio partido sofre com as fraudes no Brasil. 

Antes de ser eleito em 1998, Hugo Chávez foi buscou golpear o regime subserviente aos Estados Unidos junto a outros oficiais do exército e terminou preso em 1992. Assim, se tornou um líder popular e foi libertado em 1994 como resultado de inúmeras manifestações da população venezuelana. Portanto, o chavismo é resultado de um amplo movimento nacional e não de uma simples vitória eleitoral, tese que não se aplica na fase superior do capitalismo. 

Evidentemente o regime venezuelano não é o socialismo e tampouco um governo operário, ou seja, a Revolução Bolivariana liderada por Chávez não levou a cabo a expropriação completa da burguesia. Porém, não se pode ter qualquer dúvida de que o regime venezuelano se opõe aos interesses do imperialismo e, diante dessa luta política, a posição dos marxistas é de defesa do governo nacionalista contra o imperialismo. 

O governo de características nacionalistas na Venezuela representa um fator de crise gigantesco para o capitalismo em decadência, onde há uma necessidade ainda maior de controle das riquezas de nações oprimidas pelo imperialismo. A manutenção do governo chavista resulta num aprofundamento ainda maior da crise do regime burguês e abre caminho para uma nova revolução na Venezuela com liquidação das forças burguesas. 

Ainda que contradições internas estejam presentes na Venezuela principalmente em virtude de a burguesia não ter sido expropriada por completo, diante do exposto não pode negar que o chavismo ameaça o imperialismo. Os valores do movimento inspirado nas ideias de Simón Bolivar, líder da independência latino-americana, como defesa da soberania nacional, nacionalização de reservas minerais e independência diante às influências estrangeiras estão em oposição aos interesses do imperialismo. 

Obviamente que os problemas sociais que a população venezuelana estão longe de ser resolvidos, porém dizer que o chavismo atacou suas condições de vida significa que os governos capachos do imperialismo eram melhores para o povo. Em pouco mais de uma década, os governos nacionalistas na Venezuela reduziram para um terço o índice de extrema pobreza que atingia 21% da população e a mortalidade infantil que era de 20 a cada mil nascidos caiu pela metade. 

Esse mesmo tipo de falsificação também é aplicada no Brasil, para o PSTU os governos petistas seriam equivalentes e até piores que foram os neoliberais de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), uma política inconsequente como se viu no golpe de 2016 e análoga à teses sobre o “social-fascismo” elaboradas pelos stalinistas (segundo os quais, social-democracia e fascismo seriam “antípodas”, porém “gêmeos”). 

Para o PSTU, apesar do “discurso” e “rusgas”, o presidente venezuelano Nicolás Maduro “nunca enfrentou o imperialismo”. Uma suposta reportagem do Financial Times seria a prova de que o imperialismo estaria disposto a aceitar a vitória do líder chavista e o acordo de restruturação da dívida Chevron, o atestado de sua subserviência. Além disso, o governo de Maduro estaria trocando de “dono” ao se alinhar ao que chamou de “imperialismos russo e chinês”. 

Parece que o partido morenista não acompanhou toda campanha da imprensa porta-voz do imperialismo de que a eleição de Maduro seria uma fraude, ao apresentar pesquisas completamente falsificadas sobre a vitória do candidato da oposição Edmundo González Urrutia. Nem mesmo as declarações do governo norte-americano após o pleito, possibilitaram compreender o golpe em marcha na Venezuela, o PSTU defende a vitória da extrema-direita e a derrubada do governo. 

A ideia de que Maduro seria pró-imperialista pelo fato de reestruturar a dívida de uma empresa norte-americana é um absurdo. Desta fórmula, resulta que todos os regimes nacionalistas do mundo que não expropriaram a burguesia seriam subservientes ao imperialismo.  Porém, isso não explicaria o fato de o imperialismo impor bloqueios criminosos como promove contra Venezuela impedindo a entrada de alimentos e medicação, atentar contra presidentes como as inúmeras tentativas de assassinar Maduro, as sabotagens como à estrutura de energia elétrica e infiltrações de mercenários para promover de distúrbios no país. É uma visão unilateral da realidade, dado que ignora que o nacionalismo burguês dos países atrasados está permanentemente em uma encruzilhada, acossado por um lado pelo imperialismo e, por outro, pela classe operária de seu próprio país.

A ideia de que o presidente Maduro teria a liberdade de escolher para a qual imperialismo se vender é errada de ponta a ponta.  Trata-se de uma concepção revisionista da caracterização de Lênin sobre o imperialismo. Repete como ventríloquo a acusação dirigida pelo imperialismo norte-americano contra a Rússia e a China – os próprios imperialistas acusam os governos de dois países atrasados de serem… imperialistas! Além de sugerir a possibilidade absurda do isolamento da Venezuela e de qualquer outro país, essa tese tem objetivo claro de defender que o alinhamento com a Rússia e a China seria algo ruim, ou seja, nada mais é do que uma campanha em favor do imperialismo. 

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Última Atualização: 12/08/2024