A queda de popularidade do governo Lula tem gerado vários debates e uma crise na esquerda que apóia e integra o governo, especialmente no PSOL.
O PSOL defende o governo e desautoriza mínimas críticas. Daí a demissão do economista Deccache e, mais impressionante, a postura de lavar as mãos perante o ataque ao mandato do Deputado Glauber Braga.
O PT e o PSOL têm como eixo político apoiar o governo Lula para combater a extrema direita. É nesse contexto, que Valério Arcary, da corrente Resistência e da tese Semente PSOL, entra no debate através de artigos e entrevistas como vanguarda da propaganda dessa linha política.
Optamos por debater com Valério principalmente porque o debate com ele aborda vários ângulos, o que permite aprofundar e dar mais nitidez aos argumentos que demonstram ser errada, irreal e utópica a política de apoio ao governo Lula para combater a extrema direita. E porque, ao contrário do que diz Valério, a estratégia do socialismo, a independência de classe e a construção de uma organização revolucionária e socialista é necessidade e tarefa do nosso tempo.
Combater a extrema direita com a mesma política que a impulsiona?
Valério toca em muitos temas, todos necessários de serem debatidos, o que voltaremos a fazer em outros artigos. Nos limites deste texto, vamos focar em debater principalmente se a tarefa dos ativistas e do proletariado é apoiar politicamente o governo Lula ou, ao contrário, fazer oposição de esquerda a ele. Tocaremos também no esgotamento do modelo de partido que representa o PSOL. E, ainda, se como diz Valério, sua política é a mesma de Lenin contra Kornilov . Ou, se como dizemos nós, muito pelo contrário, sua política é oposta à de Lenin contra Kornilov e oposta à de Trotsky contra o fascismo e os nazismos.
Em entrevista dia 18/02 ao programa Faixa Livre no youtube, Valério diz “Não estamos numa etapa em que a relação de forças entre a revolução e a contra revolução evoluía favoravelmente à revolução nos países periféricos. Ao contrário. Estamos à beira do abismo, do perigo de um inverno siberiano, de uma derrota histórica. Logo, precisamos do Lula, do Lula moderado, do Lula que negocia com o Centrão a governabilidade no Congresso Nacional, do Lula que apoiou o Hugo Mota. Nós precisamos desse Lula para derrotar a extrema direita porque estamos à beira do abismo, de uma catástrofe histórica que vai exigir o intervalo de uma geração para ser superada”
Nesta mesma entrevista ele diz que não está entre os que tinham expectativa de que o governo Lula iria romper com o neoliberalismo, mas defendeu apoiá-lo desde o 1º turno, porque estaríamos em uma “época histórica em que a tarefa é derrotar o fascismo e não a luta pelo socialismo”. Quer dizer, Valério diz que dá para derrotar a extrema direita e o “fascismo” apoiando o governo Lula, com Arcabouço Fiscal e tudo.
Ele elenca várias bandeiras que os movimentos levantam, mas diz que “não podemos lutar por 10 reivindicações”, então devemos lutar e mobilizar por um único eixo: “Sem Anistia”.
E aconselha o governo Lula a “vir à esquerda” aprovando algumas bandeiras que não seriam anticapitalistas, mas especialmente pede ao governo para se posicionar contra a Anistia para Bolsonaro e apoiar a mobilização de a FPSM e a FB chamaram contra o ato dos bolsonaristas.
Valério não exige que o governo rompa com a burguesia ou com o Arcabouço Fiscal. Está contra inclusive que se exija do governo a revogação das reformas trabalhista e da previdência, ou que Lula pare as privatizações e reestatize as empresas de Energia e o Saneamento, por exemplo.
Embora ele diga não apoiar o “Arcabouço Fiscal do Haddad”, não chama ninguém a lutar contra o mesmo.
Mas como combater a direita bolsonarista ou ainda mais o “fascismo” com Arcabouço Fiscal neoliberal, se é justamente esse padrão de acumulação do capitalismo que produz a nova direita? É mais ou menos como dizer: se trata de ser contra diabetes, mas o mais importante é estar com um médico democrático, ainda que ele continue te dando açúcar pra comer.
Acontece que o governo Lula aplica a mesma política econômica de seus anteriores mandatos, chamada de “social liberal”, “neoliberalismo inclusivo” ou “terceira via”, termos usados na adesão da social democracia ao neoliberalismo. Só que esta mesma política se aplica hoje em circunstâncias diferentes e piores. Circunstâncias forjadas em grande parte nos anteriores governos do PSDB e do PT, agravadas pela crise capitalista mundial e pelos posteriores governos de Temer e Bolsonaro. A política econômica de Lula 3 já encontra um mundo mais em crise e um país muito mais desindustrializado, reprimarizado e com níveis superiores de precarização do trabalho do proletariado, construído por décadas de subordinação do país à divisão mundial do trabalho imperialista.
A queda de popularidade do governo mostra a inviabilidade do seu projeto capitalista “social liberal”, que gera cada dia mais frustração na classe trabalhadora e nos setores médios, porque apesar de pequenas concessões (que estão sendo atacadas), como o aumento do mínimo acima da inflação, a promessa de isenção dos 5 mil do IR (que, se aprovada para 2026, não valerá a mesma coisa que em 2024) ou o aumento do emprego (precário e com baixos salários) não são suficientes para melhorar a vida. A carestia dos alimentos é muito superior ao aumento do salário; o trabalho precário tem longas jornadas e baixíssimos salários, enquanto o governo dá generosos subsídios aos monopólios capitalistas e mantem intocado os lucros do sistema financeiro. Não bastasse, o governo que botou simbolicamente os pobres e oprimidos para subir a rampa na posse, rifa suas pautas para aliar-se ao Centrão e à direita.
Os indígenas estão sendo massacrados, o STF e a bancada ruralista estão legalizando a mineração em suas terras e empurrando o marco temporal. E o governo Lula não apenas não desautoriza nada disso, como se abraça a Alcolumbre para defender exploração de petróleo na Margem Equatorial e atacar o Ibama.
Para não falar que o governo, depois de o 8J ter significado uma derrota para a direita, atuou para manter as FFAA intactas e o entulho autoritário na Constituição, como mantem Mucio como ministro da defesa.
A desculpa da “correlação de forças”
Valério passa pano para Lula dizendo que não há correlação de forças. Para ele, o PT, o governo Lula e suas alianças com a burguesia, a CUT e o próprio PSOL não fazem parte da correlação de forças. Não é de estranhar. Valério era um dos que diziam ser impossível uma Greve Geral contra Temer e a reforma trabalhista em 2017 (não haveria correlação de forças). Mas houve a maior Greve Geral desde 1989. E poderia ter tido outra, que poderia ter inclusive impedido um Bolsonaro em 2018. Mas não teve outra Greve por que? Por causa de “inverno siberiano” ou por causa do PT, da CUT, das demais Centrais Sindicais (exceto a CSP Conlutas)?
Da mesma maneira, agora querem colocar a luta contra o 6×1 à reboque da dinâmica parlamentar, sem buscar atingir seu potencial de mobilização de massas. Quando todos sabemos que conquistar o fim da escala 6×1 exige grandes mobilizações. Os capitalistas e o congresso precisam estar ao ponto perderem os dedos para ceder alguns anéis. Tal mobilização fortaleceria extremamente a classe trabalhadora e, seguramente, enfraqueceria a extrema direita. Mas porque não é essa a política do PSOL, do Valério e menos ainda do governo Lula? Porque tal mobilização se chocaria com os monopólios capitalistas, com a burguesia com quem o governo se alia e para quem governa, e de tabela com a política econômica do governo. O governo Lula perante tal mobilização, a apoiaria e iria pra cima da direita e da burguesia? Ou faria como Alckmin e Haddad em 2013, que se negaram a congelar as tarifas de ônibus e reprimiram os estudantes?
Por que Valério e o PSOL não exigem que Lula paute já a votação de isenção do IR para quem ganha até 5 mil, o fim da escala 6×1, diminuição do preço dos alimentos ou gatilho salarial, demarcação imediata de todas as terras indígenas, apoio ao Ibama e a partir disso que chame o povo às ruas?
Valério de novo sabe que o governo não fará isso pelos acordos que tem com a burguesia. Mas bota a culpa na correlação de forças e defende uma política e estratégia utópica e reacionária: orienta o ativismo a ficar atrelado e à reboque do governo e de seu Arcabouço Fiscal, e se limitar à luta pelo “Sem Anistia”.
É claro que devemos exigir prisão de Bolsonaro e nenhuma anistia. Mas, não é possível alavancar sequer essa luta, deixando de lado as principais reivindicações e bandeiras que tocam a classe trabalhadora e a maioria do povo, como o salário, a carestia, a jornada e o 6×1, as terras indígenas, o clima. E todas elas se chocam com as alianças e com a política econômica do governo Lula e seu Arcabouço Fiscal. Porque para serem atendidas exigiria atacar os monopólios capitalistas do agronegócio, da indústria e dos bancos. Por que o governo não sobretaxa os monopólios capitalistas, o agronegócio, o sistema financeiro, os lucros e dividendos das 150 ou 200 maiores empresas e seus bilionários capitalistas? Porque permite a dolarização dos preços dos alimentos internamente, enquanto paga salário em real?
A política “Sem Anistia” combinada com apoio ao governo Lula com Centrão e tudo, fortalece a direita e deixa todo descontentamento justo dos trabalhadores à mercê da demagogia da extrema direita
Essa receita do Valério longe de combater o “fascismo”, alimenta e fortalece a extrema direita, que na iminência da possibilidade de prisão de Bolsonaro sente-se em condições de contra-ofensiva, principalmente pela política do governo capitalista de colaboração de classes de Lula, que causa frustração.
Uma análise – justificativa para uma falsa política
O fortalecimento da nova direita mundialmente, inclusive com a recente vitória de Trump, é fato. A extrema direita não deve ser subestimada e sem dúvida deve ser combatida.
Mas é preciso saber combatê-la e fazer uma análise realista. Valério diz que estamos na beira do abismo, de uma situação contrarrevolucionária (inverno siberiano), de uma derrota histórica. Agita medo e impotência. Ele pinta um quadro em que pega alguns elementos da realidade, mas deixa outros muito importantes de fora.
Pois é fato também que nem Trump é um governo fascista estrito termo. O fascismo histórico ou o nazismo tem como característica central ser um movimento armado para destruir todas as organizações e lutas do proletariado, com métodos de guerra civil. A extrema direita atual, inclusive Trump, neste momento não é isto. Possuem um projeto bonapartista, autoritário, buscam organizar um movimento e mobilizar. Não são meras superestruturas eleitorais, mas seu centro nesse momento é disputar as eleições. E desde o Estado buscam estreitar o regime político.
Não são nesse momento organizações paramilitares armadas massacrando as organizações e lutas da classe trabalhadora. E até o momento não conseguiram aplastar ou derrotar a classe trabalhadora e nem terminar com as divisões interburguesas em cada país. Por isso, mesmo Trump pode ser derrotado pela luta dos trabalhadores dentro e fora dos EEUU.
Ele quer impor outra correlação de forças, mas isto ainda é uma luta e seu desfecho tem várias possibilidades. Não está dado e determinado à priori que ele conseguirá impor uma derrota histórica à classe.
No Brasil também não estamos perante um golpe militar em curso, nem com um movimento fascista com métodos de guerra civil nas ruas e muito menos na iminência de uma derrota histórica. O governo Bolsonaro foi derrotado eleitoralmente e também na sua tentativa de golpe em 8J. E tende a ir para a prisão.
Não quer dizer que a nova direita esteja morta, nem que deva ser subestimada, porque as condições sociais que a originaram, a desagregação social e a decadência do país, – nas quais, além da crise capitalista mundial, os governos do PT têm grande responsabilidade – continuam as mesmas. E o governo do PT continua fazendo o que fazia antes em circunstâncias piores, as quais ele mesmo ajudou a construir. Mas não há nesse momento um golpe em curso e nem um movimento fascista nas ruas. Há isso sim uma política da extrema direita de mobilização visando 2026. Política facilitada pelo governo de Frente Ampla de Lula e sua politica econômica.
A política para combater a extrema direita não passa por apoiar e se atrelar ainda mais ao governo. Passa por levantar as bandeiras dos trabalhadores contra os monopólios capitalistas, a política econômica do governo e do Congresso e contra a extrema direita. Em suma, construir a independência de classe dos trabalhadores em relação à burguesia e ao governo de conciliação de classes de Lula, e ser oposição de esquerda e socialista a ele, sob pena de entregar a classe trabalhadora para os braços da direita.
Mas, supondo que nossa análise esteja errada e a do Valério esteja correta. Supondo que estamos à beira de nos enfrentar com milícias armadas contra as organizações dos trabalhadores e nossas lutas, ou que exista um golpe em curso.
A política, mais ainda, não poderia ser apoiar politicamente Lula com Centrão e tudo, com Mucio e Arcabouço Fiscal.
Nossa política teria de ser chamar a construir destacamentos armados de autodefesa nos sindicatos, nas ocupações, nos movimentos, construir a unidade da classe com independência de classe e mobilização unificada. A prioridade é ter a classe organizada, unificada e mobilizada de forma independente da burguesia. A partir disso, ela pode fazer unidade na ação (e não mais que na ação) até com a avó do diabo. No caso de um golpe, evidentemente é preciso chamar a mobilização e fazer unidade de ação com o governo contra o golpe, mas jamais dar apoio político à sua política capitalista, que é rechaçada, com razão, pela classe trabalhadora e pela juventude.
As lições da História
Nos anos 30, Trotsky era totalmente contrário à metodologia stalinista de chamar todos os governos de direita de fascistas, ou de bonapartistas. Fazia questão de diferenciar o que ele chamava de pré bonapartistas (que não haviam ainda conseguido ainda derrotar profundamente o movimento operário), dos fascistas e do bonapartismo, que estabilizava um regime reacionário ou contra-revolucionário, após derrota da classe trabalhadora e da pequena burguesia. Dizia Trotsky que, evidentemente, não há muros intransponíveis entre pré-bonapartismo, bonapartismo e fascismo. E nesse sentido, o futuro da extrema direita não está pré determinado, mas definir quem enfrentamos hoje não é secundário, para melhor combater.
Valério, diferente de Trotsky, não analisa de forma criteriosa a realidade atual.
Na Alemanha de 33, Trotsky defendeu essencialmente a Frente Única anti fascista, que consistia em primeiro lugar em um acordo dos comunistas com os sociais democratas para mobilizar e formar destacamentos de auto-defesa para enfrentar os bandos fascistas, especialmente militarmente. Os comunistas sob orientação de Stalin consideravam os social democratas iguais aos fascistas e se negaram a fazer frente única com eles. Mas, mesmo na Alemanha, Trotsky não defendeu sequer frente eleitoral entre social democratas e comunistas, quanto mais governo com a burguesia.
Na França de 34 a 36 e depois na Espanha, os stalinistas, mudaram de política e passaram a defender a Frente Popular, quer dizer a frente com a burguesia democrática. Trotsky não se cansou de dizer que a aliança política com a burguesia liberal era contra as classes médias, que, portanto, não se combatia o fascismo pela via eleitoral e muito menos via governo de conciliação de classes. Que o mais importante era a independência de classe, um programa claro e ação de classe unificada. Ao contrário do Valério, nunca defendeu que se combatia fascismo apoiando governo de conciliação com os capitalistas. Nem a tarefa central era fazer unidade de ação com setores democráticos da burguesia (embora pudesse ser feito). Antes de tudo, a tarefa era unir a classe com independência de classe. A partir da unidade da classe de maneira independente da burguesia, esta poderia fazer acordos para a ação com quem fosse necessário. Mas para combater o fascismo, a partir de unir a classe, a primeira tarefa era mobilização independente e unificada da classe e destacamentos armados de auto-defesa do proletariado. Nada de prioridade eleitoral e apoio a governo de conciliação de classes!
Lenin contra Kornilov fez o contrário do que orienta Valério
Em certa altura, Valério toma como exemplo a luta de Lenin e dos bolcheviques em 1917 contra a tentativa de golpe de Kornilov, dizendo ser a política que ele defende a mesma de Lenin. Mas não só as circunstâncias eram outras, havia uma revolução e um golpe militar em curso, coisa que não há neste momento, como a política de Lenin era oposta à que defende Valério. Pois Lenin jamais deixou de ser oposição de esquerda, socialista e revolucionária ao governo de conciliação de classes de Kerensky. O partido de Lenin nunca participou do governo, nem nunca deu “apoio político crítico” a ele, nem mesmo quando priorizou fazer unidade de ação militar contra Kornilov para derrotar o golpe. A história não se repete, mas as lições da história são fundamentais porque nos ajudam a analisar a realidade atual e a nos orientar nela. E nesse sentido pensamos que é muito útil que todo ativismo leia com atenção e com seus próprios olhos o texto de Lenin sobre Kornilov e compare a política de Lenin com a politica de Valério e da Resistência. E vejam como é o PSTU (que Valério chama de ultra esquerdista) quem defende a política de Lenin, e não Valério. A política que defende Valério e que o PSOL aplica não é a que defenderam Lenin e Trotsky, mas sim, as que defenderam os mencheviques em 1917 e Dimitrov nos anos 30.
O esgotamento do projeto do PSOL e a atualidade do projeto socialista e revolucionário
Embora a Tese à qual Valério pertence no PSOL apareça como um setor intermediário entre a esquerda do partido e sua direção, é aliada à direção majoritária. Valério mesmo diz que considera, com um erro aqui, outro ali, a política geral do PSOL correta.
O PSOL nasceu de uma ruptura com o PT durante o primeiro mandato de Lula, opondo-se à reforma da previdência, reagindo então ao projeto neoliberal do governo. Desde a sua origem, porém, foi construído sob a base do modelo de “partido amplo”, chamado de anticapitalista, em oposição ao projeto de partido revolucionário, socialista e leninista. A tese que justificou tal concepção de partido é essa que defende Valério: que a luta pelo socialismo não estaria colocada para esta época histórica.
Seu modelo se baseava em “unir revolucionários e reformistas honestos” sob a base de um programa dentro dos limites do sistema capitalista e da democracia burguesa, visando ampliá-la. Não tinha como estratégia o poder dos trabalhadores (a ditadura do proletariado) e o socialismo. Por isso também, sempre foi um partido que priorizou as eleições burguesas à mobilização da classe trabalhadora e da juventude.
Na Europa acabou capitalizando eleitoralmente, em alguns países, grandes mobilizações, que surgiram pela esquerda empalmando a decepção com governos da social democracia, que, como os do PT aqui, se adaptaram ao neoliberalismo e passaram a desmontar as conquistas do Estado de Bem Estar Social.
A evolução desse modelo de partido amplo, chamado de anticapitalista, resultou em pouco tempo em partidos ainda mais amplos que acabaram na maioria dos casos se reconciliando com a social democracia e com a institucionalidade vigente, participando de seus governos e sustentando a aplicação dos ajustes neoliberais contra a classe trabalhadora. É o caso do Podemos na Espanha e foi o do Syriza na Grécia.
Inclusive, na Grécia, onde, contra a social democracia, o Syriza chegou ao governo central em 2015 com Alexis Tsipras, acabou por aplicar os planos da Troika (FMI, BCE, Comissão Européia), causando total decepção nos trabalhadores, num país que viveu a maior crise econômica e quase uma insurreição entre 2012 e 2015.
No Brasil, o PSOL percorre o mesmo caminho. Com o esgotamento da Nova República, a decadência do país, a crise econômica mundial e o surgimento da extrema direita, ele vai voltando para os braços do PT, integra o governo e defende a institucionalidade e a ordem vigente.
Isto expressa, ao contrário do que diz o Valério, que se estreitou o espaço para ter um partido com aparência de radical, como oposição ao neoliberalismo e a um governo de conciliação, sem chegar a questionar de fato a democracia burguesa e o sistema capitalista. Isso demonstra a necessidade ainda mais urgente de um projeto socialista e revolucionário, que organize a classe trabalhadora com independência de classe e de todos os governos capitalistas, para derrotar a extrema direita e as condições sociais que a reproduzem. E que portanto lute pela transformação socialista dessa sociedade, aqui e no Mundo.