Em meio a uma avalanche de críticas pela sua insistência em taxas de juros elevadas da economia e sua ineficácia para conter o aumento do dólar, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, saiu da audiência pública nesta terça-feira (13), na Câmara dos Deputados, sem responder se havia lucrado com as empresas offshores que possuía em paraíso fiscal.
Com a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), que derrubou uma liminar favorável ao presidente do BC para não ser investigado, a comissão de ética da Presidência da República vai investigar se existe conflito de interesse na sua ação no BC com as empresas no exterior.
“Nesses fundos exclusivos que o senhor é proprietário, existem títulos remunerados pela taxa Selic ou IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)?, questionou o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) durante reunião conjunta das comissões de Finanças e Tributação e de Desenvolvimento Econômico.
“Vou fazer uma pergunta direta: quanto o senhor tinha em offshores antes e quanto tem agora, após ser presidente do BC?”, voltou à carga o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).
Neto disse que não responderia questionamentos do ponto de vista pessoal e que já havia prestado contas ao Comitê de Ética do BC.
“Acho que a gente está aqui para fazer um debate mais construtivo”, disse ele. “Mas o senhor é uma autoridade pública”, devolveu Braga.
“Tudo que eu tenho já foi examinado pelo comitê de ética, já foi apresentado, todos relatórios foram apresentados, estou muito tranquilo”, limitou-se.
O deputado Paulo Guedes (PT-MG) lembrou as especulações no país em torno da alta do dólar. “O Banco Central ficou calado mesmo com US$ 365 bilhões de reservas cambiais. Não fez nada. E eu pergunto por quê?”, indagou o deputado.
“O câmbio é flutuante. Nestes momentos de stress, nós discutimos o tempo todo sobre fazer intervenção. Em alguns dias, ficamos olhando outras variáveis, vendo se outras moedas estavam sofrendo muito, por que o Brasil estava sofrendo mais… Mas é uma decisão de colegiado. O colegiado hoje tem oito diretores indicados pelo governo atual e discutimos no dia a dia”, respondeu Neto.
Diante da terceira maior taxa de juros (10,5%) do planeta, o presidente do BC afirmou que não tem taxa de juros exorbitante, mas alta.
“A taxa de juros no Brasil é alta? É muito alta, porque a taxa de juros neutra no Brasil é muito alta. Ou seja, a taxa de juros no Brasil que não gera inflação é alta”, disse Neto.
Juros
Ocorre que essa política de juros do BC faz com que o Brasil transfira montanhas de recursos ao mercado financeiro.
Nos últimos 12 meses, o país gastou R$ 835,7 bilhões apenas no pagamento de juros da dívida pública. São recursos que estão indo para o mercado financeiro em detrimento dos investimentos em áreas fundamentais como saúde e educação.