Para comemorar os 40 anos do movimento Diretas Já, o escritor e professor de Direitos Humanos e mestre em Direito do Estado, João Pedro, lançou a obra “Tia Beth, que rata”, que recria, de forma ficcional, o desaparecimento do cantor e poeta, Luís Carlos, filho de tia Beth, durante o Regime Militar, e como sua mãe revive a tragédia familiar anos depois.
João Pedro participou do programa TVGGN Justiça da última sexta-feira (5) para falar sobre a importância deste tipo de obra, a fim de educar a população a partir da identificação.
“Minha intenção com esse romance, até por conta da minha formação em Direito, Direitos Humanos, Direito do Estado, era dar uma contribuição um pouquinho além das letras mortas da lei”, explica o autor.
“Uma das melhores formas de desenvolver a empatia no ser humano, não adianta discutir, não adianta defender teses, não adianta bater boca, é tentar pegar pelo coração. Durante a pandemia foi um pouquinho que a gente testemunhou um monte de atrocidades de pensamento, elogios às figuras da ditadura, como o coronel Ustra, e nós percebemos a família, a base da sociedade se dividindo, a polarização no seio familiar e uma tentativa de recontar um período tão dantesco como foi a ditadura militar”, emenda.
Durante a entrevista, João Pedro comenta que o livro traz esta resposta à ode aos militares e à ditadura tão reafirmada ao longo da gestão de Jair Bolsonaro (PL), uma vez que, apesar de a personagem principal ser ficcional, a obra conta com relatos de familiares e amigos próximos de pessoas vítimas do regime militar.
Afinal, o escritor estudou Direito na USP, no Largo de São Francisco, onde vários estudantes eram filhos ou sobrinhos de pessoas torturadas pelos militares.
“É preciso relembrar, não apenas de forma acadêmica e panfletária, mas é preciso principalmente neste ano, que são 40 anos de Direita Já e 60 anos do início da ditadura. É um ano muito emblemático para trazer de volta ao público, para que o povo relembre que eram pais, eram filhos, eram alunos, eram mães de família”, ressalta o também professor de Direitos Humanos.
A obra se torna relevante ainda por retratar diversos abusos cometidos pelo Estado na época, tendo em vista que a polarização ideológica tornou este tipo de discussão superficial.
“Hoje é curioso o questionamento que se dá ao STF [Supremo Tribunal Federal], ao jurídico, parece que o mundo borbulhou para trás, trouxe de volta uma visão de ultra direita e do fascismo”, continua. João Pedro.
Segundo o autor, tia Beth conquista os leitores por ser uma mulher de classe alta, uma mãe comum, mas cujo filho é morto no fim da década de 1960, gerando toda uma tensão familiar.
Além da obra, o convidado explicou ao longo da entrevista porque a Constituição Brasileira é uma das melhores, senão a melhor, do mundo, entre outros avanços que tivemos no país após o fim da ditadura.
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