O poder de ‘Ainda estou aqui’ na lembrança do 8 de janeiro, por Fernando Castilho

O poder de ‘Ainda estou aqui’ na lembrança do 8 de janeiro

por Fernando Castilho

Dia 8 de janeiro próximo haverá evento para lembrar a tentativa de golpe ocorrida dois anos antes. Os comandantes das Forças Armadas foram convocados numa demonstração de que o governo começa a chamá-las à responsabilidade. Na ocasião, Lula deverá discursar. Humildemente, gostaria que pelo menos um trecho do discurso fosse este:

“Minhas amigas e meus amigos,

Há dois anos, nossa democracia foi colocada em risco por aqueles que odeiam a liberdade e amam a tirania. A Praça dos Três Poderes, símbolo de nossa democracia, foi duramente golpeada por gente que fala em patriotismo e liberdade de expressão. Este evento acontece para que nunca nos esqueçamos disso e nos precavemos contra possíveis novos ataques futuros.

Foi o contra-ataque rápido que garantiu que a proposta vitoriosa nas urnas governasse. Foram dois anos de árdua reconstrução, não só das vidraças, móveis e objetos de arte quebrados, mas também das instituições, das atribuições dos ministérios e da economia. Foram anos de plantio. Agora, em 2025, começa a colheita para o povo brasileiro.

Minhas amigas e meus amigos, domingo tivemos a felicidade de ver nossa grande atriz Fernanda Torres, seguindo o DNA de sua mãe, Fernanda Montenegro, vencer o Globo de Ouro, em meio a outras grandes atrizes mundiais. Isso nos enche de orgulho. O filme, veículo para que ela conquistasse o prêmio, “Ainda Estou Aqui”, representa um marco na nossa arte e na nossa indústria do cinema. Parabéns, portanto, ao diretor Walter Salles, que soube, com maestria, reproduzir na tela a obra de Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, sequestrado de sua casa em 1971, torturado e assassinado, cujo corpo jamais foi encontrado.

É preciso lembrar que as pessoas que falam em Deus não o encontrarão num ambiente em que uma pessoa é torturada até a morte. É preciso lembrar que quando se fala em Pátria, fala-se do povo e da cultura de um país, seu maior patrimônio que inclui a democracia e o estado de direito. Assim, quando isso é desrespeitado, não há como falar em patriotismo.

É preciso lembrar às pessoas que falam em família, mas ignoram quando um homem, provedor de uma família, é sequestrado de sua casa, deixando esposa e cinco filhos que terão que sobreviver sem ele, que na verdade não defendem a família. É preciso lembrar às pessoas que falam em liberdade e liberdade de expressão que a prisão e tortura de um homem por causa de suas ideias é justamente o contrário do que pregam.

Portanto, minhas amigas e meus amigos, o filme “Ainda Estou Aqui” escancara de forma crua a hipocrisia daqueles que desejam que o povo seja tiranizado em nome de interesses escusos que só beneficiarão os tiranos. É disso que estamos falando ao rememorar os tristes acontecimentos de 8 de janeiro de 2023.

Por isso, vai aqui um alerta: as ameaças à democracia ainda pairam no ar é preciso que sejam combatidas diariamente. Não nos deixemos enganar por aqueles que falsamente pregam valores que são dignos e inegociáveis, mas que na verdade querem o mal para o povo mais sofrido do país.

Que nossa democracia se fortaleça cada vez mais e que nunca mais o país seja alvo de ataques contra sua democracia e seu povo.”

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

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