Enquanto a senadora Kamala Harris se prepara para uma provável candidatura presidencial no lugar de Joe Biden, seu histórico na justiça criminal está sob intenso escrutínio. Quando procuradora-geral da Califórnia, Harris foi criticada por políticas que afetaram desproporcionalmente jovens negros, contradizendo sua imagem de “defensora dos direitos humanos”.
Antes de sua ascensão à vice-presidência, Harris começou sua carreira na Bay Area, onde trabalhou como promotora do Condado de Alameda. Mais tarde, foi eleita promotora distrital de San Francisco em 2004, cargo que ocupou por dois mandatos até 2010. Nesse ano, sucedeu Jerry Brown como procuradora-geral da Califórnia, tornando-se a primeira mulher, negra e sul-asiática a ocupar esse cargo na história do estado. Harris foi empossada em janeiro de 2011 e serviu até 2017, quando foi eleita senadora.
Em artigo no New York Times, a professora associada de direito da Universidade de São Francisco, Lara Bazelon, mirou na afirmação de Harris de que ela buscava corrigir injustiças e mudar o sistema de justiça criminal de dentro para fora.
Lara destacou que Harris frequentemente se opôs ou ficou em silêncio em relação a reformas progressistas. “Harris lutou para manter condenações injustas, obtidas por meio de má conduta oficial, adulteração de evidências e supressão de informações cruciais pelos promotores”, escreveu.
A crítica mais contundente recai sobre sua decisão de manter políticas de encarceramento em massa, incluindo um esforço para defender a pena de morte, mesmo quando pessoalmente se opunha a ela. Harris foi criticada por não apoiar padrões estaduais para o uso de câmeras corporais por policiais, alegando que cada jurisdição deveria ter flexibilidade para definir suas próprias regras.
Como procuradora-geral, Harris foi acusada de manter uma linha dura em relação a crimes leves, contribuindo para o encarceramento desproporcional de jovens negros. A professora Bazelon argumenta que suas decisões eram frequentemente motivadas por ambições políticas maiores, visando manter o apoio das autoridades policiais.
Seu passado como promotora a colocou muitas vezes na linha de tiro dos grupos mais à esquerda entre os democratas, que veem na justiça criminal um meio para reforçar desigualdades.
Por outro lado, ela tem posição dura em diversas questões econômicas, tendo tido um papel importante em negociações por indenizações cobradas de instituições financeiras em razão da crise das hipotecas de 2008.
O debate sobre seu histórico de justiça criminal deve se intensificar caso Harris confirme sua candidatura, especialmente entre eleitores afro-americanos, que constituem uma parcela significativa do eleitorado em estados como Carolina do Sul. Muitos ativistas democratas criticam Harris por não apoiar a Proposta 47 em 2014, que visava reduzir o impacto do racismo sistêmico no sistema de justiça criminal.
A candidatura de Harris está sendo cuidadosamente observada, e seu histórico jurídico será um ponto focal de discussão. A complexidade de suas decisões como promotora e procuradora-geral pode influenciar significativamente seu apoio entre os eleitores democratas.
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