Já dizia o maestro-filósofo Joachim Koellreutter que o mundo dá voltas e termina sempre no mesmo lugar, alguns degraus acima. Procurei explorar essa visão no meu livro “Os Cabeças de Planilha”, comparando a ultra financeirização da economia mundial (e do Brasil) em fins do século X e do século XX. E os movimentos especulativos dali decorrentes.
Esse modelo produziu bolhas especulativas, concentração de renda e reação política aproveitada pela ultradireita, tanto lá – com o crescimento do fascismo – como cá, com o avanço da ultradireita fascista.
Por isso é altamente significativa a escolha do nome de Papa Leão XIV, pelo novo papa, cardeal Robert Francis Prevost, um norte-americano de alma latino-americana.
Em 1891, Leão 13 publicou a encíclica Rerum Novarum, em pleno apogeu da internacionalização do capital, promovida a partir do Banco da Inglaterra.
O que diz ela:
Sobre a pobreza e as condições dos trabalhadores:
- Pobreza e Desigualdade:
- “O trabalho humano, que é a verdadeira fonte da riqueza, foi deixado de lado. Como resultado, a miséria, o sofrimento e a exploração do homem se intensificaram entre os trabalhadores.” (Rerum Novarum, §3)
- A Exploração do Trabalho:
- “O homem, devido à sua dignidade, não deve ser tratado como uma mera mercadoria, sujeita à exploração. Não se deve negar o direito dos trabalhadores a uma remuneração justa que permita uma vida digna.” (Rerum Novarum, §8)
Sobre o Capitalismo e suas Injustiças:
- Crítica ao Capitalismo Liberal:
- “O sistema econômico que se baseia puramente na liberdade de mercado, sem qualquer controle, leva à concentração de riqueza nas mãos de poucos e à miséria das grandes massas de trabalhadores.” (Rerum Novarum, §9)
- A Regulação do Mercado e o Papel do Estado:
- “É dever do Estado intervir na economia para assegurar a justiça social e garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados.” (Rerum Novarum, §14)
Há também uma crítica ao comunismo, cujos princípios começavam a se espalhar pela Europa:
- “O comunismo, que a tudo quer reduzir à igualdade e em que ninguém se preocupa com os bens privados, é uma violência contra a ordem natural, uma revolução de todos os direitos.” (Rerum Novarum, §15)
- “O comunismo quer eliminar a distinção entre classes, mas, para conseguir isso, acaba destruindo a liberdade e a propriedade individual, e acaba com a ordem social justa.” (Rerum Novarum, §15)
Tanto lá como cá, o que se propõe é uma terceira via, uma ordem social justa, baseada nos princípios humanistas da Igreja Católica.
- “A ordem social deve ser baseada na justiça, garantindo os direitos dos trabalhadores, sem recorrer a métodos revolucionários como o comunismo.” (Rerum Novarum, §33).
De lá para cá, houve algumas mudanças significativas. O comunismo perdeu expressão. E a Igreja católica também. Mas a bandeira da justiça social e da solidariedade humana permanece um grande fator para a mobilização dos homens e mulheres de boa vontade.
E o fato do novo papa ser um norte-americano crítico de Donald Trump abre a possibilidade da Igreja Católica se tornar protagonista relevante contra o avanço do obscurantismo no mundo.
Leia também: