Jorge Bergoglio estampou várias capas da revista desde a sua inesperada eleição no conclave de 2013. “E o papa é argentino”, dizia o título daquela edição, quando ainda pairavam suspeitas sobre a colaboração do religioso com a sangrenta ditadura do seu país. O tempo dissipou qualquer dúvida a respeito de suas convicções e Francisco tornou-se uma rara figura pública, um verdadeiro estadista em um mundo carente de lideranças. E o fez não por sua fé, irrelevante para seis sétimos do planeta, mas por sua humanidade. Há muitos séculos, os papas não têm divisões, desdenhou Josef Stalin durante a Segunda Guerra Mundial. Exercem, porém, fascínio e influência, sobretudo no Ocidente. Um pontífice reacionário a esta quadra da história seria um instrumento a serviço do avanço da extrema-direita. Resta torcer para que as ideias de Bergoglio sobrevivam a seu corpo.
Esta edição também trata de assuntos mais mundanos. Hugo Motta, presidente da Câmara, parece disposto a conter a sanha pela aprovação do PL da Anistia. A pressão continua. O Congresso retomou o debate acerca da regulação das redes sociais. O Centrão tem seu projeto e interesses. O governo promete enviar um texto alternativo ao Parlamento nos próximos dias. A falta de consenso só favorece as big techs, senhoras de uma terra sem lei, onde a única regra é o lucro a qualquer custo. Nos Estados Unidos, Harvard lidera a resistência das universidades ao cerco de Donald Trump.
A edição impressa resume a semana de intensa e extensa cobertura no site da morte de Francisco. Os leitores encontram, no entanto, outras alternativas na versão online, entre elas a entrevista de Leonardo Padura. “A esquerda já não pode construir um futuro sobre as bases de Lenin”, afirma o escritor cubano. Ou a reportagem investigativa sobre os cassinos de fachada, as betshops, autorizadas pelo governador do Paraná, Ratinho Jr., que sonha em conquistar o espólio de Bolsonaro e disputar a Presidência da República. As apostas estão abertas.
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Publicado na edição n° 1359 de CartaCapital, em 30 de abril de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O papa e o escritor’