As relações entre Brasil e China continuam se aprofundando de maneira extraordinária. As exportações brasileiras para a China nos primeiros quatro meses de 2025 (janeiro-abril) totalizaram US$ 23,2 bilhões, o que representou 21,6% do total exportado pelo país no período. Os principais produtos brasileiros exportados para a China foram soja (US$ 10,8 bilhões), petróleo (US$ 5,3 bilhões), minério de ferro (US$ 5,2 bilhões) e carne bovina (US$ 1,9 bilhão).

Considerando todos os países, esses quatro produtos representaram 37,5% do total das exportações brasileiras em janeiro-abril de 2025. Ainda mais significativo: desse grupo de produtos estratégicos – soja, petróleo, minério de ferro e carne bovina -, a China comprou 57,7% do total exportado pelo Brasil. Esses são os produtos que vêm puxando de forma consistente o superávit comercial brasileiro.

Não se trata apenas de comércio, porque não são produtos quaisquer, mas de commodities absolutamente críticas para a própria sobrevivência física do povo chinês. Dois desses produtos estão ligados diretamente ao fator nutritivo mais determinante para a nutrição humana. Tanto a carne bovina quanto a soja são os produtos alimentícios mais ricos no mundo em proteína.

Os outros dois produtos – minério de ferro e petróleo – constituem, por sua vez, insumos também absolutamente estratégicos. O petróleo permanece como a principal fonte de energia no mundo e na China. O minério de ferro é o principal componente para a construção civil, sendo o produto essencial para a produção de aço. Sem minério de ferro, não há aço; sem aço, não há ferrovias, portos ou construção civil na China.

O Brasil ocupa posição crucial na segurança alimentar chinesa. Na soja, o domínio brasileiro é absoluto: 75% das 100 milhões de toneladas importadas anualmente pela China provêm do território nacional. Essa soja sustenta toda a cadeia produtiva animal do gigante asiático, já que 70% do volume importado transforma-se em ração para rebanhos que produzem carne, leite e ovos consumidos por 1,4 bilhão de pessoas.

Paralelamente, o Brasil fornece proteína animal diretamente através da carne bovina, atendendo 12,1% do consumo chinês e superando concorrentes tradicionais como Argentina, Uruguai e Austrália.

O minério de ferro nacional alimenta igualmente a expansão urbana e industrial chinesa. Representa 8,7% do consumo total e atende entre 20% e 25% das importações. Em 2024, as compras chinesas alcançaram US$ 19,9 bilhões, fornecendo matéria-prima para uma indústria siderúrgica que consome 54% de todo o minério importado mundialmente.

No setor energético, o petróleo brasileiro responde por 6% a 8% das importações chinesas, totalizando US$ 19,9 bilhões em 2024. Essa participação diversifica a matriz energética chinesa e reduz vulnerabilidades geopolíticas.

Os números de 2024 dimensionam essa parceria: US$ 31,5 bilhões em soja, US$ 19,9 bilhões em minério de ferro, US$ 19,9 bilhões em petróleo e US$ 8,2 bilhões em carne bovina. Em todos os setores, o Brasil consolidou ou ampliou sua participação na última década.

A China importa 85% da soja consumida, 68% do petróleo, 54% do minério de ferro e 26% da carne bovina. Esses percentuais revelam não apenas oportunidades comerciais, mas necessidades estruturais que moldam as relações internacionais contemporâneas.

Entre todas as commodities agrícolas, a soja distingue-se por características nutricionais únicas. Concentra 40% de proteína, superando amplamente milho (8-10%), trigo (12-14%) e outras leguminosas como feijão (20-25%). Mais significativo: oferece proteína completa, contendo todos os oito aminoácidos essenciais para nutrição animal e humana.

A produção brasileira concentra-se em grãos. A China processa esse material para extrair óleo e produzir farelo proteico, que concentra entre 44% e 48% de proteína. Esse farelo representa dois terços da produção mundial de ingredientes proteicos destinados à alimentação animal.

A trajetória histórica da soja remonta a cinco milênios. Agricultores do vale do Rio Amarelo domesticaram originalmente essa planta, que permaneceu restrita ao Extremo Oriente durante milênios. Sua expansão para a Europa ocorreu no século XVIII, chegando às Américas apenas no século XX.

A revolução nutricional do século passado transformou definitivamente a pecuária global. Pesquisadores descobriram que a combinação de soja com cereais produz ração altamente eficiente, permitindo aumentos significativos na produção de carne e ovos. Essa descoberta revolucionou os sistemas produtivos animais em escala planetária.

Os dados quantificam a posição brasileira em setores vitais da economia chinesa. Na soja, o Brasil lidera com 75%, seguido pelos Estados Unidos (18%) e Argentina (5%). No minério de ferro, a Austrália domina (60%), mas o Brasil mantém posição sólida (25%). Na carne bovina, a liderança brasileira é clara (45%), seguida por Argentina (15%) e Uruguai (10%). O petróleo apresenta mercado mais diversificado: Arábia Saudita (17%), Rússia (15%), Iraque (12%) e Brasil (8%).

As relações comerciais chinesas com fornecedores externos variam conforme o produto. Na soja, a China importa 85% do consumo total — o maior percentual entre os quatro produtos analisados. No petróleo, a dependência externa atinge 68%. No minério de ferro, 54%. Na carne bovina, 26%.

Limitações ambientais intensificam a necessidade chinesa de parceiros confiáveis. O país utiliza intensivamente suas terras aráveis e enfrenta problemas crescentes de degradação do solo, escassez hídrica e poluição atmosférica.

Do lado brasileiro, as perspectivas mostram-se favoráveis para ampliar o fornecimento de proteína. A região do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) adiciona milhões de hectares produtivos. A tecnologia agrícola tropical amplia vantagens competitivas para o agronegócio nacional. As reservas nacionais de minério de ferro de alta qualidade garantem fornecimento por décadas. O pré-sal oferece fonte energética estável para cidades e indústrias chinesas, gerando simultaneamente superávit para o país.

Esta convergência entre necessidades chinesas e capacidades brasileiras cria aliança que se aprofunda conforme aumentam as tensões geopolíticas globais. Enquanto potências ocidentais intensificam pressões sobre a China e tentam forçar alinhamentos, o Brasil oferece recursos naturais, tecnologia agrícola e estabilidade institucional. A China retribui com mercado, investimento e tecnologia industrial.

O Brasil deve aproveitar essa posição para atrair investimentos chineses em infraestrutura. A relação estratégica cada vez mais profunda cria oportunidades para negociar projetos transformadores. A ferrovia bioceânica, que conectará o Atlântico ao Pacífico passando pelo Brasil e Peru, com acesso ao porto chinês de Chancay, representa apenas o início. O país pode atrair investimentos em ferrovias de alta velocidade, sistemas de metrô e VLP que revolucionem a mobilidade urbana nacional.

Há ainda outro produto cuja exportação para a China está escalando de maneira muito rápida e que não surpreenderia se tornasse também um dos maiores produtos exportados para o gigante asiático em pouco tempo: o café. Os chineses começaram a amadurecer mais seu hábito de consumir café, abrindo perspectivas promissoras para mais essa commodity brasileira.

Como observou Confúcio: “Ter amigos que vêm de longe, não é uma alegria?” No caso desta parceria, a amizade transformou-se em pacto de sangue baseado em necessidades vitais compartilhadas e visão de futuro comum.

Artigo baseado em dados consolidados de importações chinesas (2015-2025) e análises sobre complementaridade econômica Brasil-China.

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Last Update: 02/06/2025