A Polícia Federal enviou ao Supremo Tribunal Federal, nesta quarta-feira 18, um novo relatório que dificulta a situação do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto (PL), réu por envolvimento na tentativa de golpe de Estado em 2022.
O documento se baseia nos dados obtidos no celular do coronel da reserva Flávio Botelho Peregrino, que passou pelo Gabinete de Segurança Institucional, pela Casa Civil e pelo Ministério da Defesa.
Segundo a PF, os dados demonstram que os integrantes da organização criminosa agiram para acessar o conteúdo da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). A conclusão reforça outros elementos de prova na investigação da trama golpista.
Braga Netto está preso preventivamente desde dezembro de 2024 exatamente por tentar obter informações relacionadas à colaboração de Cid.
Os investigadores identificaram no celular, por exemplo, a criação de um grupo no WhatsApp intitulado “Eleicoes 2022@”, do qual faziam parte seis pessoas, entre as quais Peregrino e Braga Netto.
“As trocas de mensagens demonstram que os integrantes da organização criminosa planejaram e executaram diversas ações para subverter o regime democrático”, sustenta a PF.
Além disso, os dados apontam que eles trabalharam na elaboração e na revisão do documento “bolsonaro min defesa 06.11- semifinal.docx”. Trata-se de uma minuta com alegações sobre supostas fraudes nas urnas que seria endereçada ao então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, com o objetivo de influenciar a auditoria das Forças Armadas sobre o sistema de votação em 2022.
“Os integrantes do grupo atuaram também na elaboração de estudos falsos interpretando dados públicos disponibilizados pelo TSE relativos ao pleito de 2022, com a finalidade de subsidiar a propagação
de fake news sobre possíveis fraudes e inconsistências que colocariam em descredito as eleições presidenciais.”
Para a PF, as trocas de mensagens confirmam o papel de Braga Netto como uma figura central na execução de estratégias para desacreditar o sistema eleitoral e a disputa de 2022.
“Elemento fundamental, dentro do escopo traçado pela organização criminosa, para estimular seus seguidores a ‘resistirem’ na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propicio para o Golpe de Estado.”
Em 18 de novembro de 2022, Braga Netto inflamou o bolsonarismo em meio a cobranças por um golpe de Estado. Diante do Palácio da Alvorada, disse a apoiadores: “Vocês não percam a fé. É só o que eu posso falar agora”. Uma mulher mencionou que o grupo estava “no sufoco”, sob chuva. O general respondeu: “Eu sei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom?”.
O general é réu no STF pelas práticas de organização criminosa armada, golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.