O ministro Alexandre de Moraes passou a integrar a lista de sanções da Lei Magnitsky, aprovada em 2012 nos Estados Unidos, sob o governo do democrata Barack Obama. Criada para punir autoridades russas envolvidas na morte do advogado Sergei Magnitsky, que teria denunciado um esquema de corrupção estatal e morrido sob custódia em Moscou, a lei teve seu alcance ampliado em 2016, graças a uma emenda que permitiu a inclusão de acusados de corrupção ou de violações de direitos humanos na lista de pessoas impedidas de fazer transações com bancos americanos.
O todo-poderoso ministro brasileiro tem como companheiros na lista os tradicionais inimigos do Tio Sam – gente da China, de Cuba, da Rússia, do Camboja, de El Salvador, enfim, os considerados corruptos, terroristas, traficantes de drogas e violadores dos direitos humanos de variado jaez. Até mesmo a organização PCC, da qual outrora o ministro foi suspeito de ser defensor, figura nesse curioso rol. Trump achou por bem incluir o herói brasileiro na lista. A imprensa, até agora, não divulgou eventuais prejuízos do ministro. Terá ele dinheiro ou aplicações financeiras nos Estados Unidos? Não sabemos, mas é bem possível que sim.
O fato interessante é a reação da esquerda brasileira: “Quero dizer aqui que hoje o Brasil inteiro é o ministro Alexandre de Moraes. O ataque ao ministro não é um ataque pessoal. É um ataque ao país, à nossa soberania, à nossa democracia, ao Poder Judiciário independente”, bradou Lindbergh Farias. “Ministro Alexandre de Moraes, nossa solidariedade! Hoje todo o Brasil é o ministro Alexandre de Moraes nesta luta, na defesa das nossas instituições e da nossa democracia”, reforçou o ex-cara-pintada que se notabilizou por pedir o impeachment de Fernando Collor de Mello em tempos idos.
Desde que deu início à sua peculiar cruzada “em defesa da democracia”, o ministro passou a encarnar as instituições, fazendo inveja a Luís XIV, o rei francês conhecido como “rei sol”, autor da frase “O Estado sou eu”. Mutatis mutandis, a nossa esquerda parece concordar em conceder a essa figura poderes absolutos, a começar pelo de ser a própria materialização corpórea da Justiça e, agora, da soberania e do próprio Brasil.
Nesta semana, em mais uma decisão sobre o caso de Jair Bolsonaro, que, além da tornozeleira, recebeu um veto ao direito de falar, o ministro escreveu: “A Justiça é cega mais não é tola!!!!!” [sic]. Em português claudicante – para dizer o mínimo –, Moraes mostra não ter entendido que a “cegueira” da Justiça é uma virtude, não um defeito a ser amenizado por um “mas não é tola”. Num texto coalhado de erros de português primários, o ministro mais não fez que afirmar que é ele quem decide o que é a lei.
O que não nos cansamos de lamentar é o rumo que a esquerda vem tomando. Uma comentarista do Portal 247 resumiu o espírito do tempo: “Bandido bom é bandido preso”, disse ela, distinguindo-se da extrema direta, para a qual “bandido bom é bandido morto”. Ela se orgulhou da comparação, para o gáudio da audiência do chat, animadíssima com a notícia da prisão de Carla Zambelli. “Quero ver a cara dela diante do Xandão”, dizia um. O fato é que “bandido morto” e “bandido preso” diferem em relação à quantidade (ou ao grau), mas não em relação à qualidade. Antigamente, a esquerda não era defensora do sistema prisional. Novos tempos.
Enquanto isso, nos Estados Unidos de Donald Trump, o “fascista”, Moraes recebe uma reprimenda sob a seguinte justificativa: “[Ele] assumiu para si o papel de juiz e júri em uma caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas dos Estados Unidos e do Brasil. Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos judicializados com motivação política — inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará responsabilizando aqueles que ameaçam os interesses dos Estados Unidos e as liberdades de nossos cidadãos”.
Gostemos ou não da sanção, difícil é dizer que a justificativa não se sustenta, mas a esquerda de salão está cada vez mais direitista. Alexandre de Moraes, o peessedebista indicado ao STF pelo golpista Michel Temer, não mudou nada. Quem mudou foi a esquerda.