O tempo certo é o desafio nas decisões

por João Pedro Silva

Antecipar o substituto do atual presidente do Banco Central é favorecer ao mercado, pois com antecedência pode gerar incerteza caso o substituto não seja aprovado, e, se for o Gabriel Galípolo, é indicar o candidato já aprovado pelo mercado, portanto, de um jeito ou outro, haverá liberdade e responsabilidade de escolha do presidente Lula, se for por um candidato que não agrade ao mercado e agregue à política desenvolvimentista do governo.

A antecipação significa cravar o nome de Galípolo. Por suas últimas declarações, acho um certo risco, dar mais tempo para novas manifestações e ações, creio ser o mais prudente pelo presidente Lula.

Os interesses do mercado financeiro são opostos ao crescimento econômico, afinal, os juros só coadunam com o desenvolvimento quando estão baixos, favorecendo ao consumo e ao investimento, quando favorece ao rentismo, estimula a especulação e à esterilidade econômica.

Caso o futuro presidente não esteja sintonizado com o governo, Lula estará desmoralizado. Não só, mas a Gleisi, presidente do PT, também, vez que defendem vigorosamente a redução da SELIC.

Estamos assistindo que as forças rentistas têm o financista Campos Neto no bolso, e, posteriormente, os quatro indicados pelo Lula votaram pela manutenção da SELIC, foram orientados a mudarem de postura para o mercado não fazer marola.

Daí em diante temos assistido declarações fracamente favoráveis à equivocada e tradicional política monetária do BC.

É uma questão tática, porque mesmo com a saída do atual presidente do Banco e a não indicação imediata, é o secretário-executivo, Galípolo, que responderá interinamente.

O BC foi criado durante a ditadura militar, em dezembro de 1964, a lei que lhe deu autonomia é de fevereiro de 2021, era bolsonarista. Sintomática coincidência.

O calendário da substituição dos diretores é um acinte à razoabilidade organizacional, é admissível deduzir que foi um cronograma preventivo para o caso de uma derrota do Bolsonaro.

E deu certo: a diretoria bolsonarista está operando contra a política do governo atual por dois anos.

É um aleijão no exercício do governo, visto que retira, por um período, a competência do governo eleito, que pode ficar, como tem ocorrido, debilitado para cumprir seus compromissos eleitorais.

A título de ilustração: imaginemos uma lei que impedisse por um ano o presidente eleito de nomear novos ministros da área econômica, do BB, da CEF, do BNDES, com a justificativa de não ter solução de continuidade.

Mais intrigante é o papel do COPOM e a sua composição, deixemos para uma outra ocasião uma reflexão a respeito.

Lula não tem histórico de independência nas escolhas dos presidentes do BC, mesmo quando não havia a lei de autonomia, indicou o banqueiro Meireles.

Na época não havia na sociedade a consciência de como a política monetária interfere na macro e microeconomia.

Na atualidade, por obra dele mesmo e da presidenta do PT, a militância começou a compreender que os juros não devem ser fator de freio ao consumo e ao investimento.

Discutir os nomes dos diretores do BC, entender os vieses das atas do COPOM, estão se tornando parte da pauta da sociedade.

No presente, o povo sabe que a despesa com os juros é maior do que com o orçamento da educação, saúde e assistência social.

E isso é indigno, revoltante, despesas sociais com tetos e sem limites para os juros.

O Banco Central é um poder autônomo sem legitimidade, sem outorga da soberania popular, ou mesmo da meritocracia do concurso público, é o braço institucional do capital financeiro; por tudo, é espúrio, e a lei que estabeleceu a sua autonomia precisa ser revista e a PEC 65, frontalmente inconstitucional, rechaçada amplamente pelas lideranças deste nosso país.

A economia política deve ser uma, com um sentido só, a política cambial e de juros não deve estar apartada, sob pena dos gestores praticarem remadas diferentes e o barco fazer água e correr o risco de ir à pique.

O golpe de 2016 trouxe em seu ventre um projeto contrarrevolucionário ao Estado democrático brasileiro, e temos assistido a sua implementação desde então pelos golpistas Temer, Bolsonaro e o Congresso.

Em tempos de olimpíadas, que os próximos diretores do BC acalentem o espírito olímpico de brasilidade.

João Pedro Silva, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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Última Atualização: 12/08/2024