O mito da austeridade

A palavra que dá tesão aos liberais é “austeridade”. Para eles, o que importa é manter o equilíbrio das contas públicas, pouco importando as consequências sociais dessas medidas. Desde já, é preciso ser direto: o discurso da austeridade é uma farsa completa. Seus efeitos concretos estão muito distantes das promessas vendidas, e o mais revelador é que nenhum país desenvolvido adota essas medidas com o rigor que se exige das economias periféricas.

O cerne do discurso da austeridade é que é preciso reduzir os gastos públicos, a fim de que a dívida pública esteja equilibrada. Na prática, ninguém se importa com isso. Vejamos os dados da relação Dívida Pública/PIB nos países ricos. Nos EUA, o modelo dos liberais, a relação dívida/PIB é 124%, ou seja, tem muito mais dívida do que PIB. Próximo a ele, o Canadá, paraíso dos social-democratas, é mais um país que tem mais dívida do que PIB, com a relação em 111%. Saindo da América e indo à Europa, o mesmo ocorre. Na França, país onde o presidente é o queridinho dos banqueiros, a relação dívida/PIB é 113%. Na Itália, comandada por uma mulher fascistoide de extrema-direita, a relação dívida/PIB é 135%. Onde, afinal, está o venerado deus liberal do equilíbrio fiscal?

Pela lógica dos liberais, os países com menor relação dívida/PIB seriam os mais promissores do ponto de vista econômico. Vejamos alguns exemplos. Serra Leoa, país notoriamente reconhecido pela pobreza, tem 43% de dívida/PIB, com suas contas mais equilibradas do que os países ricos. Seria esse o nível de desenvolvimento que os liberais querem? Ou seria a Etiópia o grande modelo liberal, que apesar de ser um país reconhecido por suas crises de fome, tem uma relação dívida/PIB de 32%, indicando seu exímio controle dos gastos públicos? Quem sabe talvez possamos achar o paraíso liberal no Haiti, que é um dos países mais pobres do planeta, mas ostenta a relação dívida/PIB de 14%.

Esses dados inevitavelmente nos levam à conclusão de que “austeridade” é uma conversa para enganar otários. Se o “equilíbrio das contas públicas” fosse um critério relevante para o desenvolvimento econômico, não teríamos tantos países com contas “equilibradas” e, ao mesmo tempo, paupérrimos.

Apesar dos dados concretos, os liberais alegam que aumentar os gastos públicos no Brasil levará a uma crise econômica, com inflação descontrolada e alta taxa de juros. Mais uma vez, a história recente nos mostra que nada disso é real. Bolsonaro furou o teto de gasto em 795 bilhões durante o seu mandato e não houve explosão nem de inflação, nem de taxa de juros. De forma similar, a China é um dos países em que o Estado mais faz investimentos no mundo, e eles têm uma média de inflação abaixo de 3% nos últimos 10 anos. Quantos exemplos mais precisamos dar para mostrar que o discurso liberal é ladainha de quinta categoria?

De forma breve, podemos dizer que a austeridade fiscal é um veneno disfarçado de cura, oferecido por celerados. Se olhamos para os dados do mundo real, vemos que as fórmulas liberais não passam de uma armadilha perigosa, que buscam manter os países pobres no subdesenvolvimento, enquanto as nações ricas despejam bilhões para garantir seu crescimento contínuo. Não podemos ser parte disso. O Estado nacional brasileiro deve aumentar o seu investimento em previdência, saúde, educação, e todos os outros gastos primários, que estão muito abaixo do necessário por aqui. Tal medida, aliada a um programa de reindustrialização nacional através de investimento público, pode nos colocar em uma rota de superação do subdesenvolvimento. Algo muito temido pelos países ricos.

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