O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes afirmou em entrevista à CartaCapital que o Brasil avançou, do ponto de vista institucional, para não permitir a reedição dos abusos cometidos por procuradores e juízes na Lava Jato. Aquele período, declarou o decano da Corte, ficará na história como “uma quadra obscura”, durante a qual o País deu poder “a uma gente muito chinfrim”.
A operação, cujos principais expoentes foram o então procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol e o então juiz Sergio Moro, completa dez anos em 2024, em meio a uma série de decisões contra irregularidades na condução dos processos.
Gilmar é autor de uma das mais notáveis determinações deste ano: em outubro, anulou as condenações impostas por Moro ao ex-ministro José Dirceu, líder histórico do PT. Os diálogos da Vaza Jato e outros elementos indicam uma ação coordenada entre o então magistrado e a força-tarefa de Curitiba para denunciar Dirceu como forma de preparar a posterior acusação contra Lula (PT).
O ministro também ligou a Lava Jato à ascensão de Jair Bolsonaro (PL), eleito presidente em 2018. “Vimos que Curitiba era uma atividade política, tanto que Moro já é chamado entre o primeiro e o segundo turnos para ser ministro da Justiça de Bolsonaro. E foi até algo positivo, porque ali se revelou o tamanho de sua incompetência.”
O decano do Supremo disse ainda que o Brasil “deu poder enorme a uma gente muito chinfrim”, e apontou a responsabilidade generalizada do sistema político na hipertrofia da operação. “De alguma forma, todos nós participamos ou deixamos que essa pantomima toda se instalasse.”
Diante dos impactos jurídicos, políticos e econômicos da operação, sustenta Gilmar, a maioria dos ministros do STF teve o mérito de fazer “a corrigenda adequada”.
“É um fato constrangedor para toda a gente que se declarou lavajatista ver que, a despeito da ousadia que essa gente tem, eles tinham cérebro de minhoca”, declarou. “Dá uma certa vergonha: ‘Poxa, deixamos que esses microcéfalos nos dirigissem por tanto tempo’.”
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