O manto tupinambá, peça histórica do século 17, chega ao Rio de Janeiro na primeira semana de julho. Feito com penas de guará, a indumentária foi devolvida pelo governo dinamarquês para repor parte do acervo destruído no Museu Nacional após incêndio em 2018.
O manto, de 1,2 metro de comprimento, é considerado um artefato sagrado pelo povo Tupinambá e é utilizado em rituais por caciques e líderes indígenas.
O retorno do manto ao Brasil é fruto de dois anos de negociações entre o Museu Nacional, o Itamaraty e líderes indígenas brasileiros, como Jamopoty Tupinambá. O recebimento da peça foi confirmado na manhã desta quinta-feira 11 pelo Museu Nacional nas redes sociais, mas uma data para a exposição ainda não foi confirmada.
O manto já havia retornado ao Brasil nos anos 2000, quando foi exposto na Mostra do Redescobrimento, em São Paulo. À época, lideranças indígenas tentaram impedir que retornasse para o exterior, alegando que a relíquia deveria retornar ao seu povo de origem, mas não obtiveram sucesso.
Embora o retorno definitivo da peça seja encarado como uma vitória, a chegada da peça diretamente para o museu dividiu opiniões nas redes sociais. Ativistas indígenas denunciam uma suposta postura “colonizadora” do Museu Nacional ao omitir informações sobre a chegada da peça e a exclusão dos povos originários no processo.
Em nota, o Conselho Indígena Tupinambá de Olivença diz ter sido estabelecido em acordo com o museu, firmado em 8 de maio, que haveria uma recepção coordenada pelo povo Tupinambá, e que nenhuma decisão sobre o manto seria tomada sem o consentimento das lideranças.
"Este manto de mais de trezentos anos é um ancião sagrado que carrega consigo a história e a cultura de nosso povo, como foi transmitido para nós por Amotara, nossa anciã. O manto retornou para nós, mas ainda não foi recepcionado pelo nosso povo de acordo com nossas tradições", destaca trecho.
Segundo o CITO, Jamopoty foi avisada via WhatsApp em 8 de julho que o manto havia retornado ao Museu e que seria inviável a realização de uma recepção antes da abertura ao público. CartaCapital tentou contato com o Museu Nacional para averiguar a denúncia e se haverá uma recepção reservada ao povo Tupinambá, mas até o momento não obteve retorno. O espaço segue aberto.
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