O líder do grupo militar, Abu Firas al-Suri, concedeu uma entrevista ao The Times, onde deixou claro que não permitirá que a Síria seja usada como plataforma de lançamento para ataques contra o Estado fictício de ocupação, “Israel”.

“A justificativa de Israel era a presença do Hesbolá e das milícias iranianas, então essa justificativa se foi”, declarou. “Estamos comprometidos com o acordo de 1974 e estamos preparados para devolver os [monitores] da ONU. Não queremos nenhum conflito, seja com Israel ou qualquer outro, e não deixaremos que a Síria seja usada como plataforma de lançamento para ataques. O povo sírio precisa de uma pausa, e os ataques devem acabar, e Israel tem que recuar para suas posições anteriores.”

A fala de al-Suri escancara a proximidade entre o imperialismo e o grupo militar, mostrando de forma cristalina quem de fato comanda o grupo. Não por acaso, os EUA e o Reino Unido já iniciaram contatos diplomáticos com os militares, como revelaram diversos órgãos de comunicação.

Al-Suri, que ainda figura na lista de procurados dos Estados Unidos com uma recompensa de US$ 10 milhões por sua captura, também aproveitou a entrevista para pedir que o Ocidente suspenda as sanções impostas à Síria durante o governo de Bashar al-Assad. Segundo ele, as restrições dificultam a “recuperação” do país.

“Os países devem agora retirar essa designação. A Síria é muito importante geoestrategicamente. Eles devem retirar todas as restrições que foram impostas ao flogger e à vítima — o flogger se foi agora. Essa questão não está aberta para negociação”, afirmou o líder do grupo militar, fazendo uso do termo “flogger” para se referir ao governo Assad.

O discurso “moderado” de al-Suri, tão aclamado pela imprensa imperialista, deixa evidente a tentativa de repaginação do grupo militar como “rebeldes sírios” que derrubaram a chamada “ditadura” Assad. Além dos órgãos de comunicação que sempre atuaram como porta-vozes do imperialismo, setores da esquerda pequeno-burguesa, inclusive no Brasil, também caíram de amores pelo líder do grupo militar, ignorando o óbvio: o grupo atua como braço auxiliar dos interesses norte-americanos e sionistas na região.

Al-Suri chegou a prometer “anistia” para todos os sírios, exceto os que, segundo ele, “têm sangue nas mãos”. “Metade da população está fora do país, e muitos não têm documentos”, afirmou, referindo-se aos milhões de sírios deslocados pela guerra civil. “Precisamos trazer as pessoas de volta dos países vizinhos, da Turquia e da Europa.” Palavras que, sob a fachada humanitária, servem apenas para consolidar o controle do imperialismo sobre o território sírio, uma região geoestrategicamente fundamental em meio aos conflitos do Oriente Médio.

Desde a queda de Assad, os EUA e “Israel” têm se beneficiado da destruição da Síria, avançando em seus planos na região e enfraquecendo qualquer resistência, como a do Hesbolá e do Irã. A atuação do grupo militar, agora rebatizado como “força libertadora”, é uma extensão desses interesses, sendo mais uma peça no tabuleiro do imperialismo. Enquanto Gaza é destruída e o Líbano é atacado, os “rebeldes sírios” de al-Suri não passam de cães de guarda de Washington e Telavive.

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Last Update: 18/12/2024