Semana passada foi o 79° aniversário das explosões e lançamentos das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, que mataram mais de 100 mil pessoas no Japão no final da Segunda Guerra Mundial. Em tempos de pandemias mundiais como a do Covid, que em seu momento ruim levava apenas no Brasil 4 mil pessoas por dia, cem mil pessoas pode parecer pouca coisa. No entanto, o significado do marco que foi a explosão dessas bombas é muito mais profundo do que isso. E para mim, ninguém expressou isso melhor do que Isaac Asimov, em “O Fim da Eternidade”.
O livro gira em torno de uma viagem no tempo. Nele, uma pessoa é “perdida” no tempo, é transportada para algum momento da história que ninguém sabe qual é. E caso ela não seja localizada rapidamente pelos nossos protagonistas, tudo de ruim irá acontecer. O protagonista resolve, então, investigar sua coletânea de revistas impressas do século XX. Sua hipótese é que o perdido, que sabia que ele possuía essa coletânea, teria mandado uma mensagem através delas. Porém, a mensagem teria que ser sútil: não poderia ser algo que chamasse muito a atenção, pois isso poderia bagunçar o fluxo do tempo, mas tinha que ser algo chamativo o suficiente para que ele percebesse ao olhar pelas revistas.
Após horas passando pelas páginas de cada uma de suas revistas, o protagonista finalmente encontra o que procura. Em uma revista financeira, encontra um anúncio, que continha um desenho em linhas em forma de uma nuvem de cogumelo de explosão de uma bomba atômica. Inicialmente, ninguém o entende: o que tem de incomum com uma coisa tão ordinária como um desenho de uma nuvem de cogumelo? O protagonista então explica: a revista é de 1932. Para qualquer um que lesse a revista antes dos eventos de Hiroshima e Nagasaki, o desenho passaria totalmente despercebido, seria apenas algumas linhas estranhas em forma de cogumelo. Porém, qualquer ser humano da Terra que visse o mesmo desenho após o que ocorreu há 77 anos, iria imediatamente associar ele a uma bomba atômica. E assim, os protagonistas descobriram o ano em que o perdido se encontrava.
As explosões em Hiroshima e Nagasaki, muito mais do que mataram mais de cem mil pessoas, foi quando se escancarou, se deixou à nu para todos, pela primeira vez, a possibilidade real e concreta de um holocausto causado pela bomba atômica. De tal forma que algo tão inocente quanto um desenho de uma nuvem em formato de cogumelo, que antes passaria totalmente despercebido para qualquer um, para nós é imediatamente associado à morte, ao genocídio. É uma imagem impregnada na cabeça de todos nós. As gerações que viveram esses eventos seguiram suas vidas sabendo que elas poderiam ser interrompidas a qualquer momento por uma bomba vinda do céu, que mataria a tudo e a todos. O perigo do holocausto pairando sobre a cabeça de todos, ainda mais diante dos desentendimentos entre as potências atômicas e nucleares.
Nós, jovens, nascemos em outro momento. Para nós, sequer causa espanto esse risco. Vemos o mundo ruindo a todo momento em nossa volta. Vemos parentes morrendo de covid, amigos cometendo suicídio. Vemos o meio ambiente sendo destruído de forma quase irreversível, vemos o próprio futuro se tornando apenas uma possibilidade, não mais uma certeza – quem dirá então um futuro bom. Esse é o marco da nossa geração. Somos uma geração pós-bomba atômica, somos a geração da decadência do mundo, levado a cabo do começo ao fim pelo capitalismo.
O perigo real, porém, é que essa geração de jovens transforme esse pessimismo, que não é imaginário, é um pessimismo real diante das péssimas perspectivas de vida sob o capitalismo, em apatia. Não podemos aceitar uma situação dessas calados, não podemos nos conformar, desistir, achar normal, esse avançado processo de decadência do mundo que vivemos. Seremos guerreiros. Mesmo em meio às ruínas que o capitalismo nos deixou, nos levantaremos, e com um grito de rebeldia, com o espírito de guerra em nossos corações e cabeças, destruiremos o capitalismo, e faremos reerguer de suas ruínas um mundo mais humano, mais justo, onde uma nuvem de cogumelo, antes de ser um símbolo de morte e destruição, seja apenas isso: uma nuvem em formato de cogumelo.