Hoje, dia 24 de agosto de 2024, marca os 70 anos do suicídio de Getúlio Vargas e da derrota do golpe de 1954. A trajetória de Vargas, marcada por grandes feitos políticos, revela dados cruciais sobre o funcionamento da luta de classes. Além disso, as lições a serem tiradas de sua vida política são muito importantes para a luta dos dias de hoje. Getúlio Vargas representou a burguesia brasileira em sua luta para se desenvolver, se contrapondo aos interesses do imperialismo. Essa luta mostrou os limites da capacidade revolucionária da burguesia, os métodos brutais que o imperialismo se utiliza, e o papel da classe operária nos países atrasados face a uma luta desse tipo.
Após um período revolucionário e de grande turbulência política, depois da I Guerra Mundial e da Revolução Russa de 1917, no Brasil, a Coluna Prestes e a fundação do Partido Comunista, a burguesia brasileira derrotou as oligarquias e, sob a liderança de Getúlio Vargas, realizou a Revolução de 1930. Anos depois, Vargas estabeleceu um governo caracterizado por Leon Trotski como semi-fascista, o Estado Novo, atravessando assim a II Guerra Mundial. Nesse período é famosa a política de Vargas de se equilibrar entre o nazismo e os norte-americanos para garantir vantagens para a burguesia brasileira. Depois do golpe de 1945, onde os norte-americanos derrubam Vargas, Getúlio volta ao poder em 1951, eleito presidente democraticamente.
Esses vários momentos da política de Vargas, com toda a oscilação entre a revolução burguesa, o fascismo e a democracia, faz com que ele seja uma encarnação, na sua personalidade e ação políticas, de diferentes etapas e diferentes maneiras de agir da burguesia. Seu governo a partir de 1951, bastante democrático, é o oposto do de 1937, durante o Estado Novo.
Toda a trajetória política de Getúlio Vargas oferece muitas lições e paralelos com a situação política atual, onde o governo nacionalista burguês do Partido dos Trabalhadores (PT), encabeçado por Lula, tenta se equilibrar entre as pressões do imperialismo, da burguesia nacional e da classe operária. Em 2016, 62 anos após o suicídio de Getúlio Vargas, o governo de Dilma Rousseff foi derrubado por um Golpe de Estado orquestrado pelo imperialismo, ainda que tenha cedido diversas vezes à direita, como fez o próprio Vargas em 1945. O golpe de 1945 e o de 2016 têm em comum, além de outras características, o exemplo do limite dos acordos com o imperialismo. Mostram que é uma aliança entre o lobo e o cordeiro.
Já no presente momento, em 2024, o governo Lula tenta utilizar fórmulas fixas para lidar com a situação. No marco do acirramento da luta entre os países atrasados, como Rússia, China e Irã, e o imperialismo, Lula tenta se equilibrar em uma corda bamba inexistente. Assim como Vargas não sabia como romper os acordos com o imperialismo em 1945 e 1954, Lula não sabe como romper com a direita em 2024, nem sabia em 2016.
A burguesia nacional de um país atrasado como o Brasil, diante do ataque do imperialismo, não tem muitos meios de enfrentá-lo e capitula. A única força equivalente aos imperialistas é a classe operária. No entanto, os governos nacionalistas burgueses têm dificuldade de mobilizar as massas, até porque, em última instância, a classe operária também têm a burguesia nacional como inimiga.
O programa de Vargas para seu último governo era abertamente nacionalista, de desenvolvimento industrial e de melhoria das condições de vida da população. Sua história e esse programa o conferiram um largo apoio da classe operária, do setor nacionalista da burguesia brasileira e de parcela das forças armadas. A oposição imperialista, desde o início, o hostilizou incansavelmente, mas esse apoio era o que sustentava o governo. No entanto, a crise econômica faz com que, no final de 1953, os trabalhadores lancem a “Greve dos 300 mil em São Paulo”, uma greve histórica no Brasil. Dada a natureza de classe do governo Vargas, ele se vê obrigado a derrotar a greve. Esse enfrentamento com a classe operária era o que a oposição imperialista esperava para deslanchar uma ofensiva golpista com vistas a derrubar finalmente o governo.
O primeiro alvo do ataque foi o petróleo. A oposição realizou um golpe dentro do exército, derrubando e transferindo os oficiais nacionalistas que realizaram a campanha do “Petróleo é Nosso”, chegando ao ponto de reprimir violentamente os militares que estavam contra o golpe, com prisões e torturas. Os militares pró-imperialistas, por sua vez, impulsionaram ainda mais a mobilização contra o governo, fazendo a propaganda de que eles mesmo eram nacionalistas. Com todas as diferenças que se possa ter, vale lembrar que um dos primeiros ataques contra a política timidamente nacionalista do atual governo Lula foi a questão da exploração do petróleo na foz do Rio Amazonas.
A campanha golpista de 2016, com a cartelização da imprensa burguesa, as inúmeras calúnias, as acusações de corrupção, a unificação dos setores burgueses ligados ao imperialismo e dos militares, seguiu o mesmo modelo utilizado em 1954 para derrubar Getúlio Vargas.
O maior erro de Vargas, e também do PT, que Lula segue cometendo hoje, é o de sempre tentar manter uma política de conciliação de classes, inclusive com o imperialismo. Uma consequência dessa política é de não mobilizar as massas. Diante do suicídio de Vargas, a população, entendendo que se tratava de um golpe imperialista, lançou uma revolta de características verdadeiramente revolucionárias. Tivesse Vargas mobilizado essa mesma população contra o golpe, não precisaria ter tirado a própria vida. Lula e o PT deveriam tirar essa lição fundamental da luta contra o imperialismo para não cometer, mais uma vez, os mesmos erros.