Na semana passada, o jornalismo perdeu o repórter e documentarista australiano Michael Jenkins, aos 84 anos. Ao longo de seis décadas, produziu reportagens e filmes sobre conflitos e guerras. Sua cobertura o levou à missão de dar voz aos que são vítimas dos horrores perpetrados pelo imperialismo.
Seus filmes são retratos ainda muito atuais sobre o capitalismo na era neoliberal. Ele usa como formato a reportagem, na qual intercala breves comentários que contextualizam um assunto e apoia-se em depoimentos e entrevistas.
Todos nós conhecemos essa forma de inúmeros programas de TV. Tem as vantagens do baixo orçamento e da rapidez da produção.
Um desses filmes é A Luta que ainda é o assunto (The struggle is still the issue, de 2002). Ele visitou Gaza pessoalmente e entrevistou vários moradores e intelectuais sobre a situação colonial e opressora em que viviam.
É impressionante como o documentário ainda está atual. Jenkins mostra vários tipos de violência contra os palestinos, como bombardeios, revistas e humilhações, prisões arbitrárias, perseguições infundadas, assassinatos. Seu documentário é uma continuação de outro filme de sua autoria sobre o mesmo tema, feito em 1977.
Em uma cena, uma mulher palestina descreve como, em trabalho de parto, foi obrigada a ter seu bebê na estrada pelo simples fato de que o exército sionista não permitiu a ela que chegasse ao hospital a tempo. O bebê acabou morrendo. Ao que tudo indicar, essa era uma prática rotineira na faixa de Gaza naqueles anos.
A diferença que percebemos entre aquele momento histórico e o nosso é a ausência de referência a milícias organizadas, como o Hamas. A resistência palestina era feita com pedras ou, no desespero, por pessoas que amarravam bombas aos seus corpos e as explodiam em lugares públicos. Um desses casos é abordado no filme.
Outra diferença importante é a ausência das redes sociais como fontes de informação imediata sobre o que está acontecendo em Gaza ou no Líbano. Há 20 anos, dependeríamos de pessoas como Michael Jenkins para conseguir ver reportagens abordando o lado das vítimas. Seu olhar é voltado para o oprimido e sua tarefa é dar voz a essas pessoas.
Um de seus mais famosos filmes é A Guerra que você não vê (The war you don´t see, 2011). Nele, o jornalista aborda como as mídias corporativas europeias e norte-americanas fabricam inimigos. Seu foco é a Guerra do Iraque e a morte de Sadam Husseim. Ele não tem medo de fazer as perguntas certas e consegue depoimentos chocantes de jornalistas que contaram mentiras sobre os iraquianos e apoiaram a destruição do país.
Em uma última postagem no Twitter, ele escreveu: “Se compreendermos porque Julian Assange e David McBride, contadores da verdade sobre as guerras do Ocidente, estão sendo perseguidos, então compreenderemos Gaza e os seus assassinos em série. As duas questões dizem respeito à verdade e à liberdade e alertam-nos para a aproximação de um fascismo no Ocidente “iluminado”.
Michael Jenkins foi, com certeza, o que há de melhor na profissão de jornalista. Uma profissão que é muito difícil de exercer.