Em 31 de maio de 2010, o mundo testemunhou mais um ato de barbárie da ditadura sionista: o ataque brutal de suas forças militares à Flotilha da Liberdade, uma frota de seis embarcações que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Este incidente, que ficou conhecido pelo nome do navio principal, o Mavi Marmara, expôs a crueldade do enclave imperialista e a cumplicidade da imprensa imperialista internacional, incluindo a Folha de S. Paulo, na defesa de um Estado criminoso.
A iniciativa da Flotilha da Liberdade, organizada pelo Free Gaza Movement (com sede nos EUA) e pela Humanitarian Relief Fund (uma organização turca), tinha como objetivo romper o bloqueio imposto por “Israel” à Faixa de Gaza. Desde 2007, a população palestina de Gaza vivia sob um cerco desumano, com restrições severas à entrada de alimentos, medicamentos e materiais básicos, transformando a região em uma verdadeira prisão a céu aberto. As seis embarcações partiram de Chipre em 30 de maio, carregadas com suprimentos essenciais, em uma missão de solidariedade.
Durante a madrugada, ainda em águas internacionais, comandos navais da ditadura sionista invadiram o Mavi Marmara, o principal navio da frota. Apesar de ser uma missão humanitária, as forças de “Israel” abriram fogo contra os passageiros. Em um ato de legítima autodefesa, os ativistas tentaram resistir utilizando objetos improvisados e facas que encontraram a bordo.
O resultado foi trágico: nove ativistas turcos foram mortos no local, e um décimo faleceria em maio de 2014 após quatro anos em coma. Além disso, 53 ativistas de diversas nacionalidades e 7 soldados israelenses ficaram feridos. A brutalidade do ataque renovou a natureza criminosa do Estado de “Israel”, seu desprezo pela vida humana e pelo direito internacional.
No dia seguinte ao massacre, o Mavi Marmara, juntamente com as outras cinco embarcações menores, foi escoltado para o porto de Ashdod, em “Israel”. Mais de 600 ativistas foram detidos e, nos dias subsequentes, deportados.
Entre os passageiros do Mavi Marmara estavam figuras proeminentes, como Shaykh Raed Salah, líder do Movimento Islâmico em “Israel”, e Hanin Zu’bi, membro do Knesset pelo partido Assembleia Nacional Democrática (Hizb al-tajammu’ al-watani al-dimucrati).
Um sétimo navio, o Rachel Corrie, de bandeira irlandesa, partiu de Chipre em 3 de junho, levando dignitários internacionais, incluindo legisladores europeus e ex-diplomatas, além de mais ajuda humanitária. O enclave imperialista, com a permissão da Irlanda, também assumiu o controle deste navio em 5 de junho, guiando-o para Ashdod, repetindo a tática de interdição.
A ação militar de “Israel” contra o Mavi Marmara gerou condenação generalizada em todo o mundo. Protestos populares eclodiram em diversas cidades, demonstrando a indignação da população global. A Turquia e a África do Sul, em 31 de maio e 3 de junho, respectivamente, retiraram seus embaixadores de “Israel”.
Governos árabes e europeus denunciaram veementemente a agressão do Estado sionista. A União Europeia, em 31 de maio, classificou o bloqueio contínuo de Gaza como “inaceitável e politicamente contraproducente”, uma admissão tardia da desumanidade da medida, que no entanto, continuaram apoiando. O governo dos EUA, por sua vez, expressou seu lamento pela perda de vidas, afirmando estar “profundamente preocupado com o sofrimento dos civis em Gaza”, o que também não passava de demagogia.
Sob intensa pressão internacional, “Israel” anunciou em 8 de junho que iria flexibilizar o bloqueio de Gaza por “razões humanitárias”. Pela primeira vez desde junho de 2007, itens como geleia, sucos, especiarias e lâminas de barbear foram permitidos entrar em Gaza.
Em 5 de julho, o enclave imperialista emitiu duas listas de “itens de dupla utilização” (ou seja, de uso civil, mas que poderiam ser usados para fins militares), além da proibição de equipamentos militares. Itens da primeira lista, como fertilizantes, fibras de carbono e materiais de desinfecção de água, foram vetados.
A segunda lista incluía materiais de construção, como cimento, aço e isolamento térmico, permitidos apenas se pertencessem a projetos supervisionados diretamente por doadores internacionais. Tais “flexibilizações” eram, na prática, maquiagens para manter o cerco desumano à Gaza e retomar o bloqueio total, tão logo a pressão mundial diminuísse.
Em 2 de junho de 2010, o Egito declarou que abriria indefinidamente sua fronteira com Gaza, mas apenas para pessoas viajando por motivos humanitários, como estudantes palestinos, necessidades médicas ou portadores de passaportes estrangeiros que desejassem deixar a Palestina. O governo egípcio optou por continuar a observar as exigências israelenses de que as mercadorias exportadas para o território árabe entrassem apenas pela passagem de Kerem Shalom, controlada por “Israel”, demonstrando sua cumplicidade com o regime sionista.
Ainda em 2 de junho de 2010, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC) aprovou uma resolução estabelecendo um painel de três especialistas para investigar violações do direito internacional resultantes da interceptação da flotilha humanitária. O painel apresentou seu relatório em 27 de setembro, concluindo que o bloqueio de Gaza e o ataque ao Mavi Marmara por “Israel” foram excessivamente desproporcionais e, portanto, ilegais sob o direito internacional. O painel também acusou comandos militares israelenses de executar seis dos nove turcos mortos, uma denúncia grave que revelou a frieza do exército sionista.
No Brasil, a cobertura da grande imprensa sobre o incidente do Mavi Marmara foi um exemplo claro de sua subordinação aos interesses imperialistas e sionistas. O artigo de Christopher Caldwell para o jornal golpista e imperialista Folha de S. Paulo, sob o título Israel não tinha outra escolha a não ser parar navio e publicado na seção de “Opinião”, é uma peça vergonhosa de propaganda pró-“Israel”. O texto da Folha não apenas busca justificar a barbárie cometida pelo enclave imperialista, mas também tenta desqualificar a Flotilha da Liberdade e seus ativistas, chamando a ação dos militares israelenses de “nem estúpida nem malfeita” e afirmando que “repeliu com sucesso um ataque às fronteiras de Israel”.
A condenação global e a pressão internacional, no entanto, impulsionadas pela indignação popular, conseguiram forçar o regime sionista a uma flexibilização, ainda que limitada e tática, do bloqueio a Gaza. Este episódio reitera que, mesmo diante da brutalidade e da cumplicidade da imprensa burguesa, a mobilização massiva e a solidariedade internacional são ferramentas poderosas na luta em apoio ao povo palestino contra a ditadura sionista e seus crimes.