Em 24 de novembro, foram realizadas eleições presidenciais na Romênia. Durante o primeiro turno, um político pouco conhecido, Cristian Popescu, um candidato independente ultranacionalista, obteve 22,9% dos votos. Em segundo lugar ficou Elena Lasconi, jornalista que deu o salto para a política, primeiro local, depois nacional, de carácter liberal e europeu. Nem os sociais-democratas do PSD nem os liberais do PNL, partidos que se revezam no poder desde 2012, conseguiram ir para o segundo turno. A grande surpresa, em qualquer caso, foi que as pesquisas não tenham detectado o aumento do apoio a este líder antissemita e nostálgico de Codreanu e da Guarda de Ferro. Corneliu Zelea Codreanu foi um político fascista romeno e o fundador da Guarda de Ferro, foi um movimento fascista radical que surgiu em 1927 e se manteve ativo até o início da Segunda Guerra Mundial. O movimento era conhecido por suas ideologias antissemitas, anticomunistas e nacionalistas radicais.
Popescu tem ideias de extrema direita clássicas e os tradicionais negacionismos. Mas o que o imperialismo não perdoou foram suas opiniões sobre a geopolítica internacional. Ele fez críticas à União Europeia e a OTAN, e descreveu o escudo de defesa contra mísseis balísticos desta última em Deveselu como uma “vergonha da diplomacia” e chamou-o de “desgraça”. Ele também elogiou o presidente russo, Vladimir Putin, como “um homem que ama seu país”. Ele disse que queria se envolver com a Rússia, em vez de desafiar, porque “a segurança vem do diálogo, não do confronto”. Falando da Guerra Russo-Ucraniana, Popescu disse: “A situação na Ucrânia é claramente manipulada, com o objetivo de provocar um conflito destinado a ajudar financeiramente o complexo militar-industrial dos EUA”. Popescu também prometeu encerrar a ajuda militar à Ucrânia se for eleito presidente.
A Romênia é um país estratégico para o imperialismo. Ela é um antigo membro do Pacto de Varsóvia que agora faz parte do flanco oriental da OTAN. Os governos conservadores que até agora ganhavam as eleições mantiveram o país na vanguarda dos esforços do bloco para ameaçar a Rússia. A costa romena do Mar Negro oferece uma rota conveniente para o transporte de armas para a Ucrânia através do porto de Odessa. A infraestrutura militar da OTAN na Romênia serve de trampolim para o lançamento de drones para espionar desde o ar os movimentos da Rússia no Mar Negro e coordenar os ataques ucranianos contra a Crimeia. A sua posição de país fronteiriço com o Mar Negro ajuda a OTAN a justificar a sua presença naval nesta parte do mundo. Além disso, a fronteira entre a Romênia e a Moldávia permite que a OTAN ameace a Transnístria, um enclave separatista moldavo encravado entre a Moldávia e a Ucrânia, onde está estacionado um contingente de forças de manutenção da paz russas.
A base aérea de Mihail Kogalniceanu, localizada perto de Constanta, será ampliada e deverá tornar-se a maior base militar da OTAN na Europa. A base militar de Deveselu, perto de Caracal, abriga o sistema de defesa contra mísseis balísticos Aegis Ashore dos EUA, cujos lançadores Mk 41 podem ser usados para lançar mísseis (como mísseis de cruzeiro Tomahawk) contra a Rússia
Nesse contexto, a tal democracia que é o grande mote da política imperialista não podia comportar as ideias de um político até então desconhecido, mas que ganhou um enorme apoio popular com sua proposta de parar de apoiar a Ucrânia na guerra da OTAN contra a Rússia. Há um verdadeiro tsunami político no país, sem precedentes, com a anulação do primeiro turno das eleições presidenciais pelo Tribunal Constitucional. A decisão foi justificada por relatórios do Conselho de Segurança Nacional e a agência de inteligência romena que afirmavam ter havido uma campanha de desinformação nas redes sociais promovida pela Rússia para favorecer o candidato da extrema-direita, Cristian Popescu. Essa versão foi totalmente desmentida recentemente, porque foi provado que a campanha eleitoral no Tik Tok foi totalmente realizada e financiada pelo partido de Popescu. Além disso, foi feita uma recontagem de votos que validou a vitória de Popescu O candidato criticou duramente a decisão do tribunal, declarando: “Hoje é o Dia da Constituição e já não há nada constitucional na Romênia. Ao cancelar a democracia, a nossa própria liberdade é cancelada.”
O imperialismo impediu que o primeiro turno se tornasse válido. A chegada de um enviado norte-americano a Bucareste resultou, poucas horas depois, na decisão do Tribunal Constitucional. Isto mostra até que ponto os imperialistas estão dispostos a fazer todo o possível para manter o governo romeno sob controle.
Para justificar o golpe de Estado, o Tribunal aceitou a tese dos porta-vozes do imperialismo de que houve uma campanha nas redes sociais “envolvendo cerca de 25 mil contas TikTok coordenadas através de um canal Telegram, influenciadores pagos e mensagens coordenadas”. Alguém deveria explicar o mais básico a estes juízes: para ganhar eleições é preciso fazer campanhas de propaganda, espalhar slogans e publicidade, quanto mais, melhor.
Após a anulação das eleições, a polícia lançou uma campanha repressiva para demonstrar que as eleições não foram justas. Interrogou 20 pessoas e revistou 18 locais, apreendendo o que há de mais típico em qualquer crime desta natureza: computadores, discos rígidos, documentos, cartazes, no mais velho estilo Lava Jato brasileiro…
A imprensa internacional, e também a imprensa vendida brasileira (Globo, Estadão, Folha, etc.), trataram o assunto como ocorrido em um país distante em que os tribunais fizeram o que tinham que fazer. Longe disso, constitui um golpe de Estado muito claro através do qual as eleições foram roubadas ao candidato vencedor. Os Estados Unidos e a Europa demonstram mais uma vez que a democracia não será um obstáculo aos seus interesses de dominação imperialista. É evidente o quase desaparecimento de uma imprensa independente em questões de política internacional. É muito difícil encontrar meios de comunicação que não reproduzam o roteiro do Departamento de Estado norte-americano. Essa é a grande importância da mídia independente e revolucionária como o Diário da Causa Operária e a sua TV. No Brasil há uma grande rede de canais progressistas, mas infelizmente, muitas vezes veiculam a versão imperialista da notícia.
O que o imperialismo fez com o uso da força militar nas décadas de 70 e 80 do século passado é agora obtido com a ajuda de Tribunais, juízes, meios de comunicação e políticos. Na América Latina sabemos bem disso, tem sido chamado de “lawfare”. É o sistema que derrubou Dilma Rousseff, prendeu L