O atentado contra Donald Trump no último sábado (13) durante um comício na Pensilvânia, Estados Unidos, gerou preocupações entre os aliados do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Há um temor de que o episódio fortaleça o discurso de perseguição à direita e, consequentemente, reforce a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que sofreu um ataque a faca durante a campanha presidencial de 2018.
A comparação entre os ataques a Trump e Bolsonaro foi feita pelo próprio ex-presidente brasileiro e rapidamente espalhada nas redes sociais por aliados, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também compartilhou imagens do atentado ao marido e ao ex-presidente estadunidense.
“Atentados são contra as pessoas de bem e conservadores”, declarou Bolsonaro no domingo (14), ignorando outros episódios de violência política, como os tiros que atingiram dois ônibus da caravana de Lula em 2018.
Já no sábado, Bolsonaro chamou Trump de “maior líder mundial” e escreveu: “Nos veremos na posse”. No entanto, Bolsonaro está com o passaporte apreendido por ordem do STF e não poderá viajar legalmente aos EUA. O atentado a Trump aconteceu em um momento delicado para Bolsonaro, que enfrenta reveses no Judiciário, incluindo o indiciamento por joias vendidas durante seu governo e operações da PF sobre espionagem clandestina na Abin.
Enquanto bolsonaristas tentam associar o ataque a Trump ao de 2018, um aliado de Lula lembra que Bolsonaro foi hospitalizado após a facada e faltou aos debates presidenciais, ao contrário de Trump, que já recebeu alta e não cancelou as agendas seguintes.
Segundo a Folha, esse aliado ressalta que ainda é cedo para medir o impacto do episódio na campanha estadunidense, lembrando que a esquerda e o centro conseguiram se unir na França para derrotar a extrema-direita nas eleições legislativas.
No Brasil, políticos de diferentes partidos descartam que o atentado a Trump influencie diretamente as eleições municipais de outubro. O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que o episódio não deve alterar a participação de Lula na campanha deste ano, embora haja maior preocupação com segurança. “Na verdade, acho que haverá mais cuidados ainda. Mas não creio que ele vá mudar de ideia em participar da campanha”, disse Costa.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, também acreditam que o atentado não terá impacto nas eleições brasileiras, mas Costa Neto prevê influência nas eleições americanas devido à “maior revolta dos eleitores” lá.
Líderes políticos, como o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), condenaram o atentado e enfatizaram a necessidade de convivência pacífica e democrática. “Atos extremistas e violentos vêm se repetindo mundo afora… Ou ampliamos a busca pela convivência pacífica e democrática, ou veremos outras tragédias acontecerem”, alertou Pacheco
Integrantes do governo Lula também repudiaram publicamente o ataque. A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), destacou que toda violência política macula a democracia e deve ser duramente condenada. O senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), líder do governo no Congresso, afirmou que a política deve ser um espaço para o diálogo e a democracia.
Aliados de Bolsonaro, por outro lado, seguem usando o ataque para reforçar a narrativa de perseguição contra líderes conservadores. “A história se repete. Se não podem vencer, tentam matar. Trump irá voltar”, escreveu Jair Renan, o quarto filho do ex-presidente. O senador Flávio Bolsonaro postou: “Líderes de direita são vítimas de atentados contra suas vidas, por motivos políticos… Assim como Jair Bolsonaro no Brasil, tentam matar Donald Trump porque ele já está eleito!”.
Além de estar inelegível até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, Bolsonaro enfrenta outras investigações, incluindo tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de Direito, que podem resultar em condenações significativas e mais anos de inelegibilidade.