Recente pesquisa da Quaest, a partir da ferramenta Debate Digital, mostrou que o coach Paulo Marçal teve 3,4 milhões de menções registradas nas redes sociais após o debate com pré-candidatos à prefeitura de São Paulo promovido pela Band, na última quinta-feira (8).
Além de superar o total de citações dos demais candidatos, surpreende o fato de que 58% delas positivas, apesar do comportamento controverso, agressivo, desrespeitoso e com falta de compostura do coach.
Mas para o escritor e historiador João Cezar Castro Rocha, convidado do programa TVGGN da última sexta-feira (9), trata-se de um modus operandi bastante replicado por Marçal.
“O que o Paulo Marçal fez é de uma inteligência excepcional, do ponto de vista de negócios. O mecanismo que mais promove visibilidade e monetiza são os chamados cortes. Ele inventou uma comunidade de pessoas anônimas que têm como responsabilidade uma competição interna para ver quem faz os melhores cortes do Paulo Marçal. Então, o Paulo Marçal transformou ele mesmo em uma espécie de plataforma e há centenas de pessoas no Brasil que fazem espontaneamente cortes, porque depois de um tempo há um certo tipo de júri que avalia quais são os melhores cortes para serem premiados”, explica Rocha.
Segundo o historiador, o alcance no coach após o debate nas redes foi ainda maior: chegou a 57 milhões de visualizações poucas horas após a exibição do programa na Band.
Evolução do bolsonarismo
Em vez de seguir a cartilha bolsonarista, Paulo Marçal é, na análise de João Rocha, a evolução do bolsonarismo, trumpismo e da extrema-direita, tendo em vista que o coach se assemelha mais ao estilo do presidente argentino Javier Milei, que propõe a radicalização máxima do fenômeno da economia da atenção.
A economia da atenção parte do princípio de que, do ponto de vista da condição humana, há uma limitação da nossa capacidade de atenção cognitiva. “A economia da atenção é o maior desafio a esta forma de governo que nós chamamos de democracia”, continua o entrevistado.
Assim, o historiador aponta que, nas redes sociais são usados alguns tipos de recursos estratégicos para aumentar a visibilidade de uma pessoa, entre eles o escândalo, a vulgaridade e o grotesco. Quem grita mais alto pode ser escutado. Quem faz a ação mais inusitada, mais absurda, mais bizarra é visto.
Neste sentido, o historiador crava que o coach significa a colonização definitiva da política pela economia da atenção.
“Se nós não reagirmos a tempo no meio político no mundo inteiro, se nós não compreendermos que a colonização da política pela economia da atenção significa o projeto negro da extrema-direita de hiper politizar o cotidiano para despolitizar a polis, pois somente uma polis despolitizada pode admitir uma figura tão grotesca quanto o Paulo Marçal candidato à prefeitura em São Paulo”, continua o entrevistado.
Estagnação
Apesar do alvoroço causado pelo coach nas redes sociais após o embate, João Rocha chama a atenção para o fato de que Paulo Marçal oscilou pouco nas primeiras semanas de campanha. Passou de 10% para 12% das intenções de voto.
Assim, cabe a nós a tarefa de serenar o ambiente, afinal a tática mais famosa da extrema-direita é crescer na base do grito e da histeria.
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