No dia 16 de junho, o colunista do portal Brasil 247, Mario Vitor Santos, publicou um texto intitulado “Lula 3, a revolução vitoriosa e silenciada na direita e na ‘esquerda’”, no qual tenta argumentar que a eleição de Lula em 2022 teria sido uma revolução. Felizmente, ideias como essas tendem a passar despercebidas, ainda mais com o clima político e econômico no Brasil, que só agrada uma parcela ínfima dos eleitores de Lula, em especial, aqueles que acompanham com entusiasmo os indicadores econômicos publicados pela Folha de São Paulo, mas que não conversam com a população, nem precisam fazer compras nos supermercados. O texto começa com o seguinte parágrafo:
“É um exercício que exige alguma filosofia explicar a razão ou a desrazão pela qual uma gestão econômica – e política – tão exitosa como a deste terceiro mandato do presidente Lula é recebida com o esperado mau humor pela direita mas também por uma parte dos progressistas.”
O problema desse “êxito”, é a realidade. No mundo real, o desemprego é altíssimo, muito distante do apresentado nos índices econômicos. O País é refém da especulação financeira, com os maiores juros reais do planeta, enquanto a indústria está paralisada e o governo não consegue sequer iniciar a exploração de petróleo na margem equatorial, pois além de não controlar órgãos subordinados ao executivo (caso notório do Ibama), tem em sua equipe governamental pessoas como Marina Silva, golpista e representante de interesses estrangeiros no Brasil.
O texto continua, chegando ao ponto principal, o de que o governo de Lula seria um governo revolucionário:
“Não deixa de ser apenas óbvio que uma revolução – sim, revolução – seja recebida assim pela direita. Parcela da esquerda, porém, talvez até majoritária, adota uma atitude de menosprezo ou negação diante dos feitos verdadeiramente admiráveis deste terceiro mandato.”
E como ninguém acreditaria em apenas um parágrafo, repete:
“O governo Lula é assim desdenhado justamente porque é uma revolução. Sim, uma revolução recalcada, negada, indigna de reconhecimento – por mais evidentes que sejam suas conquistas.”
E novamente:
“De novo, mas em outras palavras, o que aconteceu com a eleição de Lula em outubro de 2022 foi uma revolução, ou seja, uma inversão de classes e frações de classes no comando do aparelho de Estado.”
Se fosse uma revolução, seria a mais brancaleônica da história. Embora Lula pessoalmente e o PT tenham ligação com os trabalhadores, o governo está lotado de representantes da burguesia e, principalmente, da burguesia imperialista.
Marina Silva é um exemplo, mas está longe de ser o único. Que dizer do vice de Lula? Alckmin é completamente ligado aos interesses da burguesia imperialista, chegando inclusive a receber prêmios EUA por privatizações enquanto era governador de SP.
Além disso, o governo que subiu prometendo que controlaria o Banco Central, indicou uma pessoa do mercado financeiro para o controle do órgão e agora defende Galípolo como se não se tratasse do responsável por sua política.
Isso, sem contar que o governo de Lula, quando pressionado pelos EUA, impediu que a Venezuela entrasse nos BRICS, o que foi tomado por uma parcela considerável da esquerda brasileira e inclusive mundial como um ato de traição, para não falar da postura vergonhosa diante do genocídio em Gaza, que se iniciou com o governo condenando o Hamas e se compadecendo dos genocidas israelenses.
Sendo assim, não têm sentido afirmações como a seguinte: “sob criminosa resistência foram retiradas da hegemonia sobre o Estado as frações políticas mais ligadas ao grande capital financeiro e agrário.”
O texto segue:
“Com o advento de Lula 3, a hegemonia da aliança política no controle do poder passou a ser exercida por representantes dos interesses dos trabalhadores da cidade e do campo, dos mais pobres, dos intelectuais, do Estado, das frações médias de menor renda e desprivilegiados beneficiários dos investimentos estatais em saúde, educação e outros muitos programas sociais.”
Seria uma representante do povo Sonia Guajajara? Que entregou a gestão das terras indígenas do Brasil à iniciativa privada em Davos e que vive de viagens para os EUA, mas que, diante de chacinas de índios por todo o País não toma nenhuma providência, preferindo ditar regras sobre se devemos falar “índio” ou “indígena” ou se devemos ou não usar uma pena na cabeça?
O texto se torna ainda mais escatológico na sequência:
“A essa revolução não faltou, como o país tem testemunhado em detalhes no julgamento do golpe, nem mesmo a componente do enfrentamento militar, armado, elemento tão valorizado nas receitas dos radicais de manual.”
Onde Mario viu um enfrentamento armado? O governo “revolucionário” defende os desmandos do STF contra a população brasileira a mando de que prendam manifestantes dos atos de 8 de janeiro de 2023, que não estavam armados. Não há uma única foto de uma arma em cena.
Mesmo que estivessem, não houve nenhum enfrentamento. Alguém por acaso leu sobre alguém baleado no dia?
“Ocorre que mesmo parcela importante dos progressistas, porém, embriagados pelo ‘algoritmo do derrotismo’, insiste desde a transição e o primeiro dia de 2023, em caracterizar Lula como chefe de um governo sitiado, cada vez mais servil e inapelavelmente de joelhos diante dos representantes das elites no Congresso e dos rentistas da Faria Lima.”
Não são os que criticam que são derrotistas. É o governo que insiste em ficar ajoelhado frente à Faria Lima e, mesmo assim, trata tudo com o otimismo mais inocente de todo o mundo.
Na realidade, o que reclama o autor do texto é justamente a falta de um otimismo besta em toda a esquerda, como segue:
“À esquerda, predominam as acusações de que Lula comanda uma gestão encurralada, mantida nas cordas e repleta de traidores escolhidos por Lula. Este estaria rendido, numa situação de contínuo assédio, em um ambiente político geral caracterizado pela sensação inabalável de, desde o primeiro momento do mandato, iminente colapso.”
No entanto, o autor do texto não percebe que a ideia de que o governo é fraco e está encurralado pela direita é a mais amigável a Lula, já que, caso contrário, teríamos que tirar a conclusão de que tudo está sob controle do governo e que ele é direitista por opção própria, o que afastaria ainda mais a ideia de que se trata de um governo revolucionário.
“Abatidos pela ideologia do inimigo, alguns que professam simpatia por Lula fazem de tudo com os sucessos de seu governo, menos incorporar a suas análises a grandiosidade das conquistas e suas consequências políticas. Alguns gênios chegam ao ponto de sugerir a mais alta e brilhante celebração do fracasso: a desistência Lula antes da eleição do ano que vem, em que ele simplesmente aparece como a melhor chance para manter as mudanças e evitar a volta da contrarrevolução.”
Realmente, caso Lula não disputar as eleições do ano vem, a derrota para o PT é certa. No entanto, o caminho da derrota está justamente em recalcular o curso do governo, insistindo em tentar ganhar o amor da burguesia.