Os defensores do Estado de “Israel” que alegam que o problema é Netaniahu e não o Estado de “Israel” em si, não são uma novidade. Desde o início do movimento, essa ala era importante. Antes dos anos 1980, ela inclusive era majoritária. Antes mesmo da criação do Estado de “Israel”, na década de 1940, o Grupo de Socialistas da Palestina escreveu a carta aberta “Sionismo: entreposto do imperialismo”, criticando, dentre outras questões, justamente esses defensores do Estado de “Israel”.

O texto cita uma ala de “personalidades liberais burguesas, como o Dr. Magnes e Kalvarisky, que professam a intenção de viver em paz com os árabes. Esses homens não são apoiados por nenhum movimento. Qual é o programa político do Dr. Magnes e de seu grupo chamado ‘Thud’?

A carta cita um texto de Magnes: “a Associação Thud é uma ardente defensora da União desses quatro territórios (Palestina, Transjordânia, Síria e Líbano), não apenas porque tal União é historicamente válida, e talvez inevitável, mas também e principalmente porque pensamos que tal União pode ser de ajuda decisiva para os judeus. Tal União criaria o pano de fundo maior do qual uma resposta mais generosa ao problema da Palestina poderia ser dada. Se houver essa União, que reuniria uma população árabe de talvez cinco milhões, os árabes da Palestina não precisarão mais temer, como temem hoje, serem inundados por uma grande imigração judaica”.

Como de costume, os defensores do Estado de “Israel” defendem um golpe. A “união” seria, na prática, a criação do Estado de “Israel” na Palestina e os palestinos poderiam ficar nestes outros países. Foi, na prática, o que aconteceu com a limpeza étnica que foi a criação de “Israel”, os refugiados palestinos foram, em sua maioria, para os três países citados.

A carta continua: “a Palestina tem mais de 500.000 judeus e mais de um milhão de árabes. O que a Associação Thud defende é que a população judaica seja permitida, através da imigração, alcançar a população árabe, ou seja, que mais 500.000 judeus tenham a oportunidade de entrar na Palestina”. É a mesma tese base do sionismo até hoje, tornar os palestinos uma minoria em seu próprio país. A “esquerda sionista” tem a mesma tese que a extrema direita sionista.

Os socialistas destrincham:

“Mas o Dr. Magnes ainda deve uma resposta às seguintes perguntas:

  • Supondo que seu plano será realizado. O que então impedirá os sionistas de dizer que temem a grande maioria de árabes dentro da Federação? O Dr. Magnes pode então propor paridade entre os judeus e árabes dentro de toda a Federação – e se os árabes não gostarem disso – ele pedirá que estabeleçam uma Federação ainda mais ampla? Parece mais uma expansão sionista mascarada!
  • Quais fundamentos tem o Dr. Magnes para acreditar que o sionismo, que criou um abismo entre as duas comunidades por meio de seu boicote econômico, social e político, mudará repentinamente sua política quando o número de judeus aumentar aqui?
  • Se os sionistas realmente querem que os árabes não tenham medo deles, então há uma maneira muito simples: liquidar todo boicote nacional, apoiar a demanda por instituições políticas democráticas no país, etc. – em resumo, tornar-se uma parte orgânica do país, assim como os judeus no Egito são uma parte integrante da vida egípcia.”

A explicação aqui é muito clara. Os defensores do Estado de “Israel” tentam fazer uma argumentação muito bonita, e até nisso falham, enquanto, na prática, já estão atuando em meio a um apartheid. Este fenômeno não mudou. Os defensores do Estado de “Israel” hoje defendem o bombardeio em Gaza, mas um bombardeio comedido, isso porque eles “defendem os árabes”. Fato é, se defendessem os palestinos eles não estaria falando em uma sociedade melhor, estariam agindo de forma a tratar os palestinos como seres humanos.

Eles seguem: “em um Memorando escrito pela Sociedade Brith Shalom (nome deste grupo na época) sobre uma Política Árabe para a Agência Judaica em 1930, eles propõem o seguinte como um dos fundamentos para o entendimento mútuo: Que o status político do Poder Mandatário no país deve ser tal que assegure a estabilidade nas relações entre os dois povos que vivem no país, mantenha sua segurança pública, proteja suas fronteiras e guarde os interesses específicos, tanto britânicos quanto internacionais, do Poder Mandatário na Palestina”.

Aqui já fica claro que os defensores do Estado de “Israel” são totalmente lacaios do imperialismo. O setor “de esquerda” defende o poder britânico na Palestina. Essa também é uma das bases do sionismo. Ou seja, sendo um braço do imperialismo é impossível que seja de fato um movimento de esquerda.

Por fim, a carta cita outro ponto do Brith Shalom: “atualmente, é totalmente impossível transferir do Mandatário, responsável perante a Liga das Nações, a responsabilidade pelo governo do país e pela execução do Mandato, e colocá-la sobre um Governo local representativo”. 

A concepção dos defensores do Estado de “Israel” é sempre reacionária. Naquele momento era de defesa da colônia da Palestina, quando se criou o Estado de “Israel” passaram a defendê-lo. Como sempre o adjetivo é o que conta. O “sionismo de esquerda” não tem nada de positivo da esquerda e tudo de pior do sionismo.

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Última Atualização: 09/07/2024