O movimento anti-austeridade, que ganhou força após a crise global de 2008 e o norte-americano Donald Trump explorou em sua campanha para reeleição à presidência dos Estados Unidos, está perdendo espaço por conta da realidade imposta após a pandemia de covid-19 e a normalização das taxas de juros.
A avaliação é de Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI e professor em Harvard, em artigo publicado no Project Syndicate.
Segundo Rogoff, a lógica de que países desenvolvidos poderiam expandir indefinidamente sua dívida pública sem comprometer o crescimento econômico revelou-se ilusória.
“A inflação pós-pandemia e os juros mais altos destruíram a narrativa do ‘almoço grátis’ defendida pelos economistas anti-austeridade”, escreveu.
Nos Estados Unidos, os custos de serviço da dívida mais que dobraram após o fim da fase de juros historicamente baixos, e continuam crescendo à medida que títulos antigos são refinanciados com taxas mais elevadas.
Na Europa, líderes políticos já reconhecem que o Estado de bem-estar social em seu formato atual está sob pressão, em especial diante do baixo crescimento, do envelhecimento populacional e da necessidade de aumentar os gastos com defesa.
Para Rogoff, o risco central não é o colapso imediato, mas a perda de flexibilidade fiscal. Dívidas muito elevadas reduzem a capacidade de resposta dos governos em crises financeiras, pandemias ou recessões profundas.
“Historicamente, a maioria das crises de dívida e inflação ocorreu quando governos que poderiam ter honrado integralmente suas obrigações optaram, em vez disso, pela inflação ou pelo calote”, explica o articulista, ressaltando que estudos históricos destacam que os países com alta relação dívida/PIB tendem a crescer mais lentamente do que economias com endividamento menor.
“Assim, embora o teto teórico da dívida pública possa ser muito alto, os limites práticos costumam ser bem mais baixos. Isso não significa que exista um ponto de inflexão exato em que a dívida se torne insustentável – são variáveis e incertezas demais em jogo”, pontua Rogoff.