Por Lucas Silva
A coletiva de imprensa de Bolsonaro, ontem, no aeroporto de Brasília, foi um espetáculo típico de fim de linha, que serviu a dois propósitos bastante peculiares:
1. *Transformar um fiasco previsto em fiasco consumado*
Arranjada para passar a impressão de uma potente manifestação pública com a participação de milhares de seguidores, a coletiva terminou em constrangimento. Ninguém apareceu para recebê-lo. O “mito” ficou no passado, como um VHS mofado em uma prateleira esquecida. Nem mesmo a bancada fascista deu o ar da graça.
Na cena, o elenco era magro: um filho (o de sempre), um senador (o de sempre) e uma enorme tiara florida, muito parecida com as usadas pela juventude hitlerista — uma tiara que coroava uma testa colossal, mais parecida com um outdoor. De quem era a cabeçorra que sustentava a tiara é um mistério, pois as câmeras, por óbvio, só conseguiram captar testa e tiara.
2. *Bolsonaro atirar sua última bala de prata no próprio pé — com força*
Bolsonaro viveu ontem o seu “Dia de Collor”, aquele clássico momento em que o ex-presidente, ao retornar de uma viagem infeliz a Buenos Aires, bradou no desembarque: “Não me abandonem, vistam-se de amarelo e saiam às ruas em minha defesa!”. A resposta do povo foi um desfile em preto, com caras pintadas, pedindo seu impeachment. O déjà vu foi instantâneo: o apelo patético, o tom desesperado, a melancolia de um líder abandonado até pelo teleprompter.
Transmitida ao vivo pelos canais bolsonaristas, a coletiva foi um desastre que degustei em tempo real. Bolsonaro, com a voz pastosamente sedada e as ideias ainda mais embotadas do que em sua habitual anormalidade, parecia disputar consigo mesmo para ver até onde ia sua capacidade de construir não-sentidos. Conhecido por nunca ter conseguido construir uma única frase coerente — ainda que pequena —, ele se superou. Fungando arritmadamente, suando seco, acuado, assustado e mentindo como sempre, nos brindou com um show de falsidades e mentiras entremeadas por devaneios, alucinações e assombrações.
O clímax da performance do ator canastrão ocorreu quando, ao tentar defender o indefensável, acabou confirmando a existência de uma organização golpista estruturada em etapas, com agentes e papéis definidos e planejada no tempo, mas que, segundo ele, “nunca saiu do papel” — mesmo havendo prints da operação abortada para assassinar o ministro Alexandre de Moraes. Em sua mente conspiratória, golpe de estado só existe se “todas as Forças Armadas estiverem envolvidas”. Ele tentou emplacar a ideia de que “não podemos agora querer punir o crime de opinião ou de pensamento”. Em pensamento bolsonariano, conspirar pode, desde que fique no PowerPoint.
O que vimos ontem no aeroporto de Brasília foi a missa de corpo presente e falante do mais tenebroso momento histórico do Brasil.
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