A Arábia Saudita anunciou que não renovará o acordo dos petrodólares, assinado com os EUA em 1974. Esse acordo estabeleceu que o petróleo seria vendido em dólares e que as receitas seriam investidas em títulos do Tesouro Norte-americano. A decisão da Arábia Saudita é um passo importante para a substituição do dólar como moeda de reserva internacional.

O acordo dos petrodólares foi um instrumento fundamental para a manutenção da hegemonia do dólar como moeda de reserva internacional. Com a não renovação do acordo, a Arábia Saudita e outros países produtores de petróleo podem começar a aceitar outras moedas importantes como pagamento das suas exportações de petróleo.

A decisão da Arábia Saudita é parte de um contexto mais amplo de mudanças nas relações internacionais e comerciais. A Arábia Saudita está participando de um projeto de moeda digital, coordenado pelo banco central da China, que envolve outros países como Hong Kong, Tailândia e Emirados Árabes Unidos.

Contexto de surgimento do petrodólar

Em 15 de agosto de 1971, os EUA anunciaram o encerramento do sistema de conversibilidade do dólar ao ouro, vigente desde 1944 no acordo de Bretton Woods. Com a decisão unilateral dos Estados Unidos, o dólar tornou-se uma moeda fiduciária, sem lastro em algum metal precioso.

A crise do petróleo de 1973 foi um fator importante para o acordo dos petrodólares. A crise decorreu da Guerra do Yom Kippur, que envolveu o estado de Israel e de outro lado, Egito, Síria e Jordânia. O apoio de alguns países imperialistas, especialmente os EUA, a Israel nesse conflito, foi a gota d’água para os países árabes organizarem um boicote de petróleo.

A crise do imperialismo mundial

A decisão da Arábia Saudita deve ser compreendida em um contexto de grave crise do imperialismo mundial. Os sintomas estão por toda parte: derrota humilhante dos EUA no Afeganistão em 2021; atual operação russa na Ucrânia; golpes militares na África; massacre dos palestinos na Faixa de Gaza; recente ataque iraniano a Israel.

O orçamento militar dos EUA para este ano é de US$ 886 bilhões. A Rússia, que está ganhando a guerra dos na Ucrânia com relativa facilidade, tem um orçamento de defesa de US$ 112 bilhões, que é 12,64% do orçamento dos EUA.

O déficit público americano mostra uma outra face tenebrosa da crise. O déficit orçamentário do país ficou em US$ 2,02 trilhões no ano fiscal de 2023. A dívida pública dos Estados Unidos está em US$ 34,62 trilhões, conforme os dados divulgados em abril último.

A pobreza nos Estados Unidos, segundo um indicador chamado Medida de Pobreza Suplementar, subiu e passou a atingir 12,4% da população, conforme mostram números divulgados recentemente.

A hegemonia do dólar já tem quase 80 anos, vem desde os Acordos de Bretton Woods, feitos em 1944. Em boa parte, a dominação imperialista se dá sobre essa hegemonia da moeda. Quando os líderes do BRICS falam em substituir o dólar pelas moedas nacionais, ou por uma futura moeda do bloco, isso significa quase uma ameaça de morte para o imperialismo.

A Arábia Saudita e outros importantes produtores de petróleo, percebendo as mudanças na ordem internacional, estão diversificando o seu comércio, reduzindo o peso do dólar norte-americano nas transações. Esse movimento, dentro de um quadro mais geral, de influência dos EUA no mundo, reduz a importância do dólar na economia global.

A decisão da Arábia Saudita é um passo importante para a substituição do dólar como moeda de reserva internacional. A previsão dos especialistas é que todos os países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) sigam o exemplo da Arábia Saudita, com consequências só previsíveis em parte, para a influência do dólar do mundo.

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Última Atualização: 09/07/2024