As eleições iranianas ocorreram na sexta-feira (28), após um mês e 10 dias do trágico acidente que levou à morte do presidente Ebraim Raisi. Foram quatro candidatos que concorreram à Presidência do país em uma eleição que se estendeu até a meia-noite para que o máximo de iranianos pudesse votar. O resultado foi que haverá segundo turno no dia 5 de julho, entre os candidatos Pszeshikian, considerado moderado, e Jalili, o mais nacionalista de todos que concorreram.
O porta-voz da Sede Eleitoral anunciou os resultados, afirmando que os iranianos depositaram 24.535.185 votos, com uma taxa de participação de 40%. Pszeshikian obteve 10.415.991 votos, equivalente a 42%, enquanto o segundo colocado, Jalili, obteve 9.473.298 votos, 39%. Os dois outros candidatos, Mohammad Baqer Qalibaf e Mostafa Pourmohammadi, obtiveram 14% e menos de 1% dos votos, respectivamente.
O primeiro colocado, Pszeshikian, tem 69 anos, e é um cirurgião cardíaco que representa a cidade de Tabriz no parlamento desde 2008. Ele atuou como ministro da Saúde sob o último presidente reformista do Irã, Mohammad Khatami, que ocupou o cargo de 1997 a 2005. Khatami endossou a candidatura de Pszeshikian nas eleições atuais.
Já Saeed Jalili foi um negociador nuclear do Irã, ou seja, de um setor mais nacionalista. Com 58 anos, ocupou vários cargos importantes no governo, incluindo no escritório do Líder Supremo Ali Khamenei no início dos anos 2000. Atualmente, ele é um dos representantes de Khamenei no Conselho Supremo de Segurança Nacional, o mais alto órgão de segurança do Irã.
A campanha eleitoral foi curta, pois as eleições foram chamadas de forma urgente após a morte do presidente, como exige a constituição da Revolução de 1979. De princípio, seis candidatos participariam do pleito, mas, ao longo da campanha, dois abandonaram a candidatura. O dia da eleição começou às 8h da manhã, com o próprio aiatolá Khameni, chefe de Estado do país, votando e convidando o povo às urnas.
Ele afirmou: “A palavra ‘República’ na República Islâmica indica que a presença do povo faz parte da base deste sistema. Portanto, a continuação, a força, a dignidade e a honra da República Islâmica no mundo dependem da participação do povo. Espero, se Deus quiser, que Deus Todo-Poderoso ordene a melhor e mais benéfica escolha para este país. Que os próximos anos sejam vantajosos e que o povo fique satisfeito com a escolha que fizer”.
Para onde vai o Irã?
Vali Kaleji, no portal, analisou qual pode ser o resultado das eleições iranianas. Sobre Jalili, ele afirmou que “durante seu mandato como principal negociador nuclear de Teerã, o Conselho de Segurança da ONU impôs várias sanções ao Irã, e seu governo pode ver um retorno a tais pressões internacionais. Jalili provavelmente enfatizará o fortalecimento dos laços com a Rússia e a China, continuando o legado de Raisi, mas com uma abordagem mais intolerante em relação às interações ocidentais. Assim como Khamenei, ele vê o Ocidente como não cumpridor de acordos, e a saída dos EUA do JCPOA forneceu amplas evidências disso tanto para os conservadores quanto para os iranianos em geral”.
Ou seja, esse que toda a imprensa burguesa taxa de conservador ou até “ultra conservador” é, na verdade, o mais nacionalista de todos. Ele é o candidato natural para seguir a política de Ebraim Raisi. Jalili ficou em segundo lugar, mas os votos de Qalibaf tendem a ser transferidos para Jalili.
Sobre ele, Kaleji destaca: “Qalibaf, um conservador e ex-comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), atualmente serve como presidente do parlamento do Irã, o que o ajudou a cultivar relacionamentos entre as diferentes facções e representa uma ala conservadora tradicional próxima à administração Raisi. Ghalibaf provavelmente continuará a política de seu antecessor de olhar para o leste, promovendo laços mais estreitos com Pequim e Moscou e a visão eurasiática que todos compartilham”.
Sobre o candidato da oposição reformista, Kaleji afirma: “Pezeshkian, um reformista e atual membro do parlamento, defende uma política externa equilibrada nas interações entre o leste e o oeste, uma visão apoiada por ex-diplomatas como Javad Zarif. Espera-se que Pezeshkian reviva a política de ‘Interação Construtiva’ do ex-presidente Hassan Rouhani e busque reengajar-se com os EUA e a UE, tentando reativar as negociações estagnadas do JCPOA para levantar as sanções e aliviar os desafios econômicos de Teerã. Na diplomacia regional, Pezeshkian provavelmente continuará a desescalada com os países árabes enquanto busca equilibrar os laços com a Rússia, China e o Ocidente”.
Pelos números das urnas e pelos últimos acontecimentos do país, em que o embate contra o imperialismo se torna cada vez maior e mais popular, a tendência é que Jalili vença. Na atual situação, é muito difícil que um candidato conciliador vença, mas os resultados apenas serão divulgados na próxima sexta-feira (5), com o segundo turno das eleições.