O ex-presidente Jair Bolsonaro admitiu publicamente, na noite de quinta (29), que conversou com os comandantes das Forças Armadas sobre um decreto de estado de sítio que abriria alas para uma ruptura institucional e golpe na democracia no final de 2022. Em entrevista ao canal Revista Oeste, Bolsonaro também pediu anistia ampla ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e ao presidente Lula.

Indiciado pela Polícia Federal por tentativa de abolição violenta do Estado de Direito, golpe de Estado e formação de quadrilha, Bolsonaro tentou esvaziar as denúncias que já estão nas mãos da Procuradoria-Geral da República para análise. Segundo ele, é frágil a narrativa de que seu governo tentou dar um golpe de Estado com “um general e quatro oficiais”. A despeito da auto-defesa, Bolsonaro admitiu que conversou sobre o golpe.

“Até os depoimentos dos comandantes de Força falam que o Bolsonaro discutiu conosco hipóteses de 142, estado de sítio, estado de defesa. E eu discuti sim, conversei, não foi nenhuma discussão acalorada”, disse Bolsonaro. “Rapidamente, viram que não tinha sucesso. Não tem sucesso? Abandona isso aí e ponto final”, reconheceu.

E emendou a justificativa: “Porque quando nós tensionamos o TSE, obviamente com advogados, em poucas horas, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, indeferiu, arquivou e ainda nos deu uma multa de 22 milhões de reais”, disse o ex-presidente, lembrando da ação eleitoral encampada pelo PL, pedindo investigações contra o resultado das urnas.

“Nós conversamos: ‘ó, se a gente for recorrer, a multa passa para 200 milhões, quem sabe até cassa o registro do partido. Vamos buscar outra maneira’. O sobrou para a gente? Sobrou as quatro linhas, que eu sempre joguei dentro das quatro linhas [sic]”, disse Bolsonaro, recorrendo mais uma vez à narrativa de que usar a Constituição não é golpe, e alegando que o estado de sítio teria de passar por aprovação do Congresso, ou seja, ele não faria nada sozinho.

Na mesma entrevista, Bolsonaro disse que “Moraes está obcecado para me pegar” e defendeu anistia ampla aos golpistas de 2022, da mesma forma que ocorreu com os golpistas da década de 1960, 1970.

“Para nós pacificarmos o Brasil, alguém tem que ceder. Quem tem que ceder é o senhor Alexandre de Moraes. Anistia! Em 1979, foi anistiada muita gente que matou, sequestrou, roubou avião. Vamos zerar o jogo daqui pra frente”, propôs Bolsonaro. “Se tivesse uma palavra de Lula ou Alexandre de Moraes, estava resolvido. Agora, não pode quando alguém tira a própria vida com fogos de artifício, dizer que foi culpa do gabinete do ódio”, acrescentou.

Questionado sobre o inquérito de mais de 800 páginas que a PF entregou ao STF nesta semana, Bolsonaro disse que sua defesa analisou e considerou “mais uma peça de ficção”.

“Falar em golpe de Estado com um general da reserva, quatro oficiais e um agente da PF é uma piada. Como um todo, não tem prova de nada. Eles não querem pegar Braga Netto, general Heleno, seja quem for. Eles querem pegar é eu mesmo”, disse Bolsonaro.

Segundo a apuração da PF, Bolsonaro só não concretizou o golpe porque não teve apoio do comando Alto Comando das Forças Armadas nem dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.

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Last Update: 29/11/2024