Depois do trabalho conjunto em Guerra Civil (2024), o diretor Alex Garland e o roteirista Ray Mendoza, ex-integrante da elite da Marinha do Estados Unidos, se juntaram para fazer um filme que se pretende, de acordo com eles próprios, ser uma “experiência imersiva” na guerra.

Tempo de Guerra, que estreou nos cinemas na quinta-feira 17, acompanha um grupo de combatentes em uma missão em Ramadi, no Iraque, em 2006.

Ao longo de todo o filme, eles são vistos ou dentro da casa que ocuparam – mantendo nela seus moradores, em pânico – ou nas ruas do bairro onde fica a residência. O coração da narrativa são os combates e o horror que deles deriva.

Nas notas de produção distribuídas à imprensa, destaca-se o quanto o filme capta o “senso de irmandade” do grupo. Na prática, porém, o roteiro não nos permite saber muito bem quem são aqueles jovens superequipados nem o que os une para além daquela situação extremada.

Ao fim, quando um dos soldados, Elliott Miller, que foi gravemente ferido, aparece na tela, chega a ser difícil lembrar quem era o ator que o representava.

O que acaba por capturar o espectador é a intensidade visual das cenas, filmadas de modo realista. O trabalho de som é tão preciso que, se fecharmos os olhos nos momentos de vísceras literalmente à mostra, seguiremos a sentir o que se passa na tela.

De um lado, parece que, ao explicitar a sanguinolência, Garland e Mendoza desejam mostrar o absurdo da guerra. De outro lado, o filme não consegue escapar da tradição norte-americana de transformar seus soldados em heróis.

Há, sim, a família de iraquianos mostrada em seu sofrimento. Mas eles são personagens passivos, sem a carga heroica daqueles combatentes reais representados por jovens atores de porte atlético e traços bonitos.

À força estética de Tempo de Guerra acaba por se contrapor a fragilidade dramatúrgica e política da narrativa. O que se quer, hoje, ao se fazer um longa-metragem sobre a invasão do Iraque?

O conflito, não custa lembrar, foi problematizado em outras produções vindas dos Estados Unidos, como Guerra ao Terror (2008), de Kathryn Bigelow, e Zona Verde (2010), de Paul Greengrass, ambos mais complexos que Tempo de Guerra.

O impacto provocado pelo filme é, no entanto, inegável. É de fato impressionante a forma como ele reproduz o terror e a adrenalina no front.

E parece ser isso que tem agradado ao público dos Estados Unidos e da Inglaterra, onde a produção, lançada na semana passada, foi muito bem recebida. •

Publicado na edição n° 1358 de CartaCapital, em 23 de abril de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O espetáculo do horror’

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Last Update: 16/04/2025