O escândalo da votação na Alerj que soltou Rodrigo Bacellar

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) tomou uma decisão que é um escárnio com a população fluminense: por maioria, os deputados votaram para soltar Rodrigo Bacellar, presidente afastado da Casa, mesmo diante de acusações gravíssimas. A decisão foi aprovada por 42 votos a favor, contra apenas 21 que defenderam a manutenção da prisão. Enquanto parte da sociedade esperava rigor e seriedade diante de suspeitas tão pesadas, a maioria dos parlamentares escolheu proteger um dos seus.

Por que Bacellar foi preso?

A prisão de Bacellar ocorreu porque ele é acusado de vazar informações sigilosas de uma operação policial que tinha como alvo o deputado TH Joias, apontado como integrante de uma organização criminosa ligada ao tráfico de drogas e ao armamento de facções. Esse vazamento teria prejudicado a investigação e favorecido diretamente o grupo criminoso envolvido.

A relação entre Bacellar e TH Joias não é um detalhe. Ambos aparecem, de maneiras distintas, dentro de um mesmo circuito de poder que conecta políticos, agentes públicos e grupos criminosos. Este tipo de ligação, que deveria ser exceção, já se tornou parte da própria estrutura do Estado no Rio: facções, milícias e figuras políticas se cruzam, se ajudam e se protegem.

A prisão de Bacellar, sua remoção do cargo e a quebra de sigilo de seu celular deixaram evidente que havia algo muito sério em curso, algo que podia envolver, inclusive, mais políticos e agentes de instituições públicas.

O temor na Alerj e a votação

O clima dentro da Alerj antes da votação era de apreensão. Deputados comentavam nos corredores que temiam o conteúdo do celular apreendido de Bacellar e os possíveis desdobramentos. A ideia de que a investigação pudesse expor novas relações incômodas assustava muitos parlamentares.

É importante lembrar um fato importante: Bacellar havia sido eleito presidente da Alerj por 100% dos votos. Todos os deputados presentes, do PL ao PSOL, apertaram o botão “sim” meses antes. Essa unanimidade, incomum na política, mostrava que Bacellar era uma figura útil para diversos grupos, e não apenas para os setores reacionários.

Quando chegou o momento de votar pela sua soltura, a divisão se deu, mas o peso dessa aliança ampla ainda era visível. A maioria dos deputados da direita e da extrema direita, inclusive aqueles que vivem discursando contra o crime, votaram para proteger Bacellar. É uma contradição escancarada: falam duro para a população, mas suavizam quando o acusado é um dos seus. Um caso específico chamou atenção: uma deputada do PT votou pela soltura de Bacellar. Carla Machado não surpreendeu quem conhece sua trajetória no Norte Fluminense, onde mantinha relações políticas duradouras com Rodrigo Bacellar. Seu voto expressou essa velha articulação regional que segue influenciando decisões na Alerj.

A relação entre Cláudio Castro e Bacellar e a sombra de TH Joias

Bacellar não é uma figura isolada. Ele é parte do mesmo grupo político do governador Cláudio Castro. Os dois construíram uma relação de lealdade política, e Bacellar era visto até como possível sucessor de Castro no governo do estado.

Além disso, o elo com TH Joias, preso por envolvimento direto com a facção Comando Vermelho, coloca ainda mais dúvidas sobre como o poder político do estado tem sido atravessado pelo crime organizado.

Quando Bacellar caiu, o círculo de Castro foi diretamente afetado. Não por acaso, setores do governo atuaram para evitar que a crise se aprofundasse, mesmo que publicamente tentassem negar qualquer relação com o caso.

Repúdio e necessidade de organização popular

A votação que soltou Bacellar é um retrato nítido da Alerj: uma instituição que protege seus próprios interesses e seus aliados, mesmo quando estes estão ligados a práticas criminosas. Não podemos aceitar isso como normal.

A Alerj mostrou que está disposta a blindar uma figura acusada de ajudar uma organização criminosa, enquanto ignora as necessidades do povo pobre que sofre diariamente com a violência, com a falta de serviços públicos e com um governo que opera em benefício de poucos.

É urgente reagir. É preciso organização, mobilização e pressão direta das ruas para denunciar esse absurdo. Para exigir que Bacellar permaneça preso, que a investigação siga até o fim e que todos os envolvidos sejam responsabilizados.

É necessário lutar para pôr para fora Cláudio Castro, cujo governo convive, se beneficia e se apoia em uma rede atravessada por milícias, facções e esquemas de poder que desrespeitam a vida da população mais pobre.

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