Eduardo Vasco*
No início de novembro, o alto representante da União Europeia para as Relações Exteriores e a Política de Segurança, Josep Borrell, viajou a Kiev para reiterar o apoio da Europa às forças armadas ucranianas na guerra contra a Rússia.
A visita ocorreu logo após a vitória de Donald Trump nos EUA, que já havia indicado que pretende desengajar seu país do conflito. “Temos apoiado a Ucrânia desde o princípio e hoje transmito a mesma mensagem: apoiaremos em tudo que pudermos”, disse Borrell no dia 9.
Quando da estadia de Borrell em Kiev, o Instituto da Economia Mundial de Kiel, na Alemanha, calculava que a União Europeia já havia destinado 125 bilhões de dólares ao governo do presidente Vladimir Zelensky desde o início da intervenção russa, em fevereiro de 2022. Isso é mais do que o enviado pelos EUA (90 bilhões de dólares).
Ao mesmo tempo em que defende a Ucrânia, Borrell tem sido um forte crítico do extermínio de palestinos por Israel em Gaza. Já chamou a situação no enclave palestino, onde mais de 44.000 pessoas foram mortas por Israel, de “tragédia humana” e “a maior crise humanitária desde a II Guerra Mundial”.
Também indicou que Israel poderia estar cometendo crimes de guerra e propôs, ainda em novembro, a suspensão das conversas entre União Europeia e Israel devido às violações dos direitos humanos e do direito internacional em Gaza.
Apesar da adoção de uma postura crítica sobre a atuação de Tel Aviv, é um absurdo considerar as posições do chefe da diplomacia europeia como antissemitas – algo que o gabinete de Benjamin Netanyahu tem feito.
Uma foto tirada pelo repórter Gleb Garanich, da agência Reuters, ajuda a jogar luz sobre o duplo padrão por trás do aparente humanismo de Borrell. Quando visitava uma exposição de equipamentos bélicos usados pelos ucranianos no conflito, ele passou diante de um tanque cheio de pichações e desenhos feitos pelos militares.
O Batalhão Azov é um dos mais notórios participantes do lado ucraniano na guerra. Aliás, ele foi fundamental para o início da guerra. Foi fundado em 2014 por elementos neonazistas que formavam a tropa de choque do Euromaidan, revolução colorida que derrubou o então governo ucraniano e o substituiu por uma junta influenciada pelos grupos de extrema-direita que, como o Azov, tornaram-se proeminentes na política ucraniana desde então.
A Ucrânia vem se despedaçando economicamente. Isso não se deve apenas à guerra, mas também ao alto preço pago por Kiev pela integração informal à União Europeia: o repasse dos bens públicos para mãos privadas, sejam de oligarcas nacionais ou de empresários e bancos estrangeiros.
A União Europeia já forneceu mais de 980 mil munições para a guerra da Ucrânia contra a Rússia, e Borrell prometeu chegar a um milhão até o final do ano. Cerca de 15 mil civis foram mortos no Donbass desde 2014, graças a esse tipo de incentivo.
*Eduardo Vasco é jornalista especializado em política internacional e autor dos livros O povo esquecido: uma história de genocídio e resistência no Donbass e Bloqueio: a guerra silenciosa contra Cuba.
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