Nesta semana, dois casos de violência revelaram como a mídia explora e expõe publicamente o sofrimento das mulheres negras sem consideração ética. No primeiro, envolvendo Ingrid Santa Rita, a plataforma de streaming Casamento às Cegas Brasil exibiu um episódio sem aviso prévio onde a participante relata graves abusos sexuais cometidos pelo então marido, Leandro Marçal.

No mesmo dia, a cantora Iza, ao saber que um site de fofocas estava negociando áudios comprometedores de seu ex-companheiro Yuri Lima com outra mulher, decidiu expor a traição para proteger sua dignidade. O colunista Leo Dias, que recebeu os arquivos, prestou solidariedade pública à cantora – mas segue faturando alto com a divulgação a conta-gotas de detalhes do caso.

Em ambos os casos, a dor de uma mulher negra foi transformada em entretenimento barato. A comercialização da tragédia alheia, amplificada por algoritmos que premiam reações emocionais extremas, transforma o sofrimento em entretenimento descartável.

A exploração emocional na mídia maximiza também novos comportamentos violentos. No caso de Iza, comentários “defendendo-a” muitas vezes destacam seu corpo, reduzindo sua identidade à aparência física. Perguntas como “como se trai uma mulher dessas?” ignoram sua dignidade e complexidade como indivíduo.

Da mesma forma, no caso de Ingrid, a menção a problemas de ereção de seu ex-companheiro gerou comentários focados na atração física, reforçando a ideia de que o valor de uma mulher está ligado à sua capacidade de satisfazer desejos sexuais.

Em ambos os casos, o público foi transformado em participante ativo de um espetáculo de indignação moral. Ao promover o ‘cancelamento’ de figuras públicas, fomenta-se um ambiente de ódio e controvérsia que alimenta o ciclo de engajamento nas redes sociais.

Em troca de cliques e assinaturas, essa cultura midiática objetifica e violenta mulheres diariamente. Uma indústria bem articulada onde muita gente sai ganhando, mesmo que isso custe uma ou outra vida.

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Última Atualização: 12/07/2024